Mais de metade das famílias portuguesas tem apenas um filho e, nas últimas décadas, o nascimento dessa criança foi sendo adiado para o momento ideal, em que os pais têm mais estabilidade profissional e o nível de rendimentos permite algumas extravagâncias com o herdeiro.
O negócio da puericultura floresceu e expandiu-se à luz da nova maternidade tardia e as famílias deixaram de conseguir rentabilizar o investimento em equipamentos com o nascimento de mais filhos. Nesse contexto, Portugal importou o conceito das lojas "Kid to Kid", nascido nos EUA há pouco mais de uma década.
"Este negócio tem uma particularidade: corre bem quando a economia está bem e corre bem mesmo quando a economia está mal", refere Paulo Costa, o master da marca franchisada em Portugal.
Parece uma excentricidade pagar 35euro a 70euro por uma almofada para dormir de lado durante a gravidez? Não o é para uma grávida que não consegue dormir. Mas, depois de o bebé nascer, fica a dúvida: o que fazer com a almofada e como recuperar algum do dinheiro gasto, que até podia ser empregue na compra da cadeirinha de papa para o bebé? E o que dizer daquela roupa de marca, comprada para ir a um casamento no ano passado?
"As marcas de renome são o que as pessoas mais procuram e também são o que tem mais interesse em vender à loja", admite o responsável.
Na Kid to Kid, os pais podem vender os artigos usados e em bom estado por um "preço justo" que a loja propõe se lhe interessar a compra (por exemplo, se tem ou não muitas unidades em stock), de acordo com os dados partilhados pelas lojas através de um sistema informático próprio. Em média, o valor oferecido rondará "30% a 40% do valor da peça que a peça terá na revenda em loja". Se aceitar vender, ainda poderá optar por receber "dinheiro vivo" ou ficar com um vale para gastar na loja, situação em que o valor será bonificado em 20%.
A loja revende o artigo usado por um preço cerca de 50% a 80% mais baixo do que o custo novo, mas todas estas percentagens podem variar, consoante se fale de roupa, de marcas, de estado de uso, de equipamentos "pesados", etc. Há, também, a modalidade de venda à consignação, em que a pessoa reparte o valor final com a loja, sem nunca esquecer que o IVA leva 23% desse valor.
Sejamos francos: os miúdos, por definição, crescem depressa. Poucos artigos duram mais do que três meses durante os primeiros dois anos de vida. Mesmo depois dessa idade há brinquedos que perdem interesse dois meses após o Natal, que se receberam em duplicado ou que não são adequados ao desenvolvimento da criança. O conceito de reutilização, mais do que a mera poupança, é a base do negócio Kid to Kid.
"Não acredito que a crise leve mais pessoas a procurar comprar na Kid to Kid pela falta de dinheiro. Mas talvez pela perda da vergonha de se falar em poupança e mais pudor em dizer que gastaram", adianta Paulo Costa. "Nesse aspecto, a crise contribuiu para abrir as mentalidades das pessoas para o conceito de reutilização, da compra inteligente que a Kid to Kid sempre representou", conclui.
A conjuntura económica nota-se, todavia, nos "cabazes de produtos que as pessoas levam para nos vender, ou seja, aparecem menos marcas de topo e mais marcas de retalho de hipermercado".
As lojas estão cheias e nunca falta stock. Mas é da elevada rotatividade que vive a faturação e tem havido mudanças no tamanho das lojas por esse motivo. "Mudamos algumas lojas para espaços maiores, neste momento não abrimos nada com menos de 160 metros quadrados porque não compensa", adianta Paulo Costa.
Para breve, a marca com 15 lojas vai ampliar a rede para Massamá, havendo também projetos para Cascais, para o Montijo e "alguns para a zona Norte, mais atrasados". O investimento inicial de cerca de 100 mil euros "não tem desmotivado interessados, aliás tem aumentado o interesse". Paulo Costa vai avançar, agora, também para Espanha, cujos direitos detém.