Labrador. A marca que renasceu das cinzas e já sonha com o estrangeiro

Faliu e foi vendida em hasta pública. Hoje, a marca portuguesa de roupa masculina quer abrir a quarta loja este ano em Lisboa.
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José Luís Pinto Basto foi apanhado de surpresa, tal como muitos clientes, com a falência da Labrador. Foi à hasta pública e comprou a marca portuguesa de acessórios e roupa masculina. Quatro anos depois, o empresário do The Edge Group abriu a terceira loja da marca no Vasco da Gama e prepara-se para abrir ainda este ano o quarto espaço na grande Lisboa. De uma situação de falência, a Labrador passou a resultados positivos logo no ano da abertura da primeira loja, em 2013: espera faturar 2 milhões de euros este ano.

“Temos vindo a reconstruir a empresa - temos o mesmo armazém, 90% das pessoas que trabalham connosco eram antigos funcionários, temos duas das lojas que eram da marca (Amoreiras e Porto). Aos poucos estamos a reconstruir, de forma conservadora, sem grandes riscos”, afirma José Luís Pinto Basto, CEO do The Edge Group, que com Jorge Mira, sócio fundador da antiga Labrador, é acionista da empresa que hoje detém a marca.

Um “excesso de otimismo” poderá ter ditado a ida para hasta pública da marca de 25 anos. “Não temos os dados completos, mas a nossa interpretação é que para a internacionalização para o mercado espanhol foi feito um investimento elevado e não correu bem”, comenta Pinto Basto. “As empresas portuguesas têm esse problema da dimensão do mercado local, se o passo da internacionalização for mal dado pode pôr em risco a empresa. No caso da Labrador custou a solvência.”

Cliente da Labrador, Pinto Basto foi surpreendido com o fim anunciado da marca. A entrada do The Edge Group numa área fora do seu ambiente core de investimento (imobiliário) surgiu a convite do BES (agora Novo Banco), um dos principais credores da Labrador, para olharem para a marca e ponderarem participar na hasta pública. “Não tínhamos tradição, nem conhecimento na área têxtil, mas achamos que a marca tinha potencial”, lembra Pinto Basto. Licitaram e por 80 mil euros ficaram com a marca. No mesmo lote, acabou por vir espólio da Labrador. Roupa das lojas armazenada num espaço que, na época, pertencia à Caixa Geral de Depósitos, mas que hoje já é propriedade da marca. Com a venda do espólio, o valor investido com a compra da marca foi logo recuperado.

A reconstrução da Labrador

A loja das Amoreiras reabriu em 2013, seguida da loja do Porto (nas Galerias Península), antigos espaços da Labrador. Em abril abriu no Vasco da Gama. “É o primeiro passo fora do que era até aqui a Labrador”, destaca Pinto Basto. “É um novo mercado. A concentração de empresas em torno do Vasco da Gama é muito superior ao que era na anterior fase da Labrador”, continua.

Vodafone, CTT, NOS, Novabase são apenas algumas das companhias que estão ali instaladas, mas também o Campus da Justiça. Um mercado empresarial a que se junta o residencial, já que parte dos clientes da Labrador residem na zona do Parque das Nações, diz Pinto Basto. Mercado potencial não falta, portanto. Talvez por isso as expectativas para o novo espaço sejam elevadas: “Esta loja tem potencial para faturar um milhão por ano.” E já têm outro espaço em vista. “Temos uma negociação em curso para abrir mais uma loja num centro comercial na Grande Lisboa”, revela o gestor.

O plano de abrir no máximo seis lojas em Portugal está de pé. “Poderá ser mais uma loja na Grande Lisboa e outra no Porto”, diz José Luís Pinto Basto. “Não temos é pressa de o fazer. Tem havido alguma retoma do consumo, que se tem refletido no aumento das nossas vendas, mas optámos por fazer um crescimento orgânico e não com base em dívida”, justifica o CEO do The Edge Group. Em média cada abertura de loja implica um investimento de 300 mil euros.

“Estamos a conseguir gerar resultados, que são reinvestidos no crescimento. Isso torna o crescimento mais lento, mas dá sustentabilidade e segurança à empresa que, neste momento, não tem dívida.” No primeiro ano, a Labrador faturou 750 mil euros, valor que tem vindo a crescer continuamente - 1,1 milhões no segundo ano e 1,5 milhões no terceiro. “Este ano, like for like, apenas com a loja das Amoreiras e do Porto, tivemos um crescimento de 25%”, adianta Pinto Basto.

“A empresa dificilmente chegará aos níveis pré-crise - a loja das Amoreiras chegou a faturar 2,5 milhões de euros - , provavelmente nunca lá chegará porque o mercado mudou, o padrão de consumo mudou”, admite Pinto Basto. Depois, “a Labrador não é uma marca para todos, por uma questão de poder de compra e de gosto. É uma marca claramente tradicional, mas temos o desafio de conquistar as novas gerações”.

Totalmente produzidos em Portugal, o vestuário e os acessórios da Labrador concorrem com marcas internacionais de topo. “Concorremos com as melhores marcas internacionais, com uma qualidade equivalente, mas com uma opção de preço mais interessante”, defende o gestor. Um fato na Labrador, por exemplo, custa em média entre 500 e 550 euros, enquanto marcas internacionais custam 1200 a 2000 euros.

Internacionalizar é objetivo

Pinto Basto acredita que em Portugal a Labrador poderá ter um máximo de seis lojas. Depois é altura da companhia começar a pensar seriamente na internacionalização. “Queremos consolidar no mercado nacional, para ter solidez para uma expansão internacional. O próximo ano seria aquele em que nos atreveríamos a fazer alguma coisa ao nível da internacionalização”, diz. “Acredito que o nosso produto é muito internacional. As nossas gravatas, fatos, camisas... os ingleses, os americanos, os franceses, os árabes vão gostar. É um produto transversal e a relação qualidade/preço é muito atrativa para estes mercados.”

E lembra que, quando o atual sócio, Jorge Mira, abriu a loja Devonport em Londres, em Picadilly, “teve bastante sucesso”. A loja, entretanto, fechou mas “foi um bom indicador de que o produto Labrador - porque a Devonport era produto Labrador - tem uma aceitação grande a nível internacional”, argumenta.

“Estamos a ponderar que a expansão internacional possa vir a ser feita ou através de grandes armazéns - como o El Corte Inglés ou o Harrod’s, sendo ambiciosos - ou através de lojas multimarca. Não temos obrigatoriamente de abrir flagship stores nas capitais europeias”, diz. “Se depender deste dois sócios, a estratégia será mais conservadora e iremos por lojas multimarca. Com um parceiro estratégico podemos ter uma aposta diferente.”

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