Há um Laos para quem entra por cima que é diferente do Laos de quem entra por baixo. E mais Laos haverá para quem entrar pelos lados. E além desses todos, lá os há para os que o imaginarem, alterando aqui e alternando ali, para descobrir que, mesmo voltando, o Laos já é outro qualquer..O Laos é (como a Nicarágua), o país onde gostei mais de existir. As razões vão além do Sol demasiado quente mas a verdade é que deve haver qualquer coisa aqui no ADN que fermenta a esta temperatura de fazer biscoitos..Foi por isso que o escolhi para acabar a viagem em beleza. Para passar um mês de relaxe obrigatório, entre uma natureza invencível e um povo ternurento. Para viver cada dia a inspirar serenidade e a expirar ansiedade, com o batimento cardíaco de um elefante desempregado e as digestões de uma jiboia obesa. Eis o meu plano..Só preciso de sair do Vietname. Não pode ser muito difícil apanhar um autocarro aqui para o lado pois não? Bom, tenho que confessar que oito anos de viagens ao improviso não me ensinaram absolutamente nada sobre as vontades do território. Mas fiquem sabendo que as fronteiras geográficas conseguem ser mais caprichosas que as burocráticas..Sim, Hanoi e Luang Prabang até podem ficar na mesma linha de avião mas, para quem acha que a roda é a mais barata invenção, tem aqui uma boa oportunidade de descobrir que não. Além disso, posso também aconselhar os viajantes futuros a não caírem na tentação de buscarem relatos alheios sobre viagens horrendas, em autocarros em ruínas. Não vale a pena fugir, se acontecer convosco partam do princípio de que tiveram azar... como todos os outros..Infelizmente, a minha tentativa de evitar as 24 horas de "O Autocarro do Inferno" deu origem a três dias de infernais locomoções, onde consegui provar que o menor de dois males, consegue ser maior que os dois juntos..Aprendi que V.I.P., aqui, é sigla para Very Idiotic Person no que respeita ao comprador ou Very Irrelevant Promise no que respeita ao vendedor. E que ninguém respeita nada quando há o dobro dos viajantes para metade dos assentos. A cortesia cai por terra para tu conseguires ficar sentado. É bonito? Não! Mas em viagens de 12 horas, até a beleza se cansa..No Laos, não só os autocarros se avariam como os relógios só servem para decoração. Não é que eles não funcionem mas ninguém parece muito interessado em observar a dança dos ponteiros..Ilustrando: compraste um bilhete para as 10h30. É agorinha! Mas a estação está deserta. Perguntas à menina dos bilhetes quando vem o autocarro. Ela responde "Not Know!". Estão 40 graus. Toda a gente tem demasiada roupa. É meio-dia e chega o autocarro. Entras. O ar condicionado é o nome que dás ao bafo das pessoas coladas a ti. São 13h, arrancamos. São 13h 20 e já parámos cinco vezes. Há gente cá dentro a vender frango no espeto. São 13h35. Avariou. Sai tudo do autocarro. Um casalinho francês pergunta-me quando vem o próximo. Inspiro pó, expiro vida, transpiro litros, sorrio..Já nem sei em que Laos estou, o que é que eu vou fazer, para onde vou..Nas palavras gentis do profeta-zen "Not Know"... mas hei de chegar sempre aonde estou..Começo a perceber o Au! do Laos..E se me permitem, acho vou deixar o L para a semana que vem!