Em 2010 não só eram poucos os que conheciam um pequeno clube de futebol inglês chamado Leicester City, como ainda menos eram aqueles que sequer imaginavam que poderia vir um dia a ganhar a Premier League.
Seis anos volvidos, a raposa (imagem de marca do Leicester) avaliada em 'apenas' 127 milhões de euros e com um plantel principal que custou pouco mais de 30 milhões de euros, conquistou pela primeira vez nos seus 132 anos de vida o título de campeão inglês de futebol.
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Fotografia: REUTERS/Darren Staples[/caption]
Fundado em 1884, o Leicester foi comprado em 2010 pela família tailandesa liderada por Vichai Srivaddhanaprabha, que desembolsou 142 milhões de libras (177 milhões de euros), incluindo a dívida do clube. Na altura, a aquisição não passou de mais uma prova de interesse de grandes investidores asiáticos para ter parte da sua riqueza alocada em equipas de futebol ocidentais, com o objetivo de ganhar prestígio local.
Até agora, o palmarés do Leicester resumia-se ao segundo lugar de 1928/29 naquele que foi o melhor registo nas anteriores 47 participações na divisão principal, sendo que já havia conquistado a Taça da Liga inglesa (1963/64, 1996/97 e 1999/2000) e a Supertaça inglesa (1971).
Mas com uma equipa de 'tostões' e de 'retalhos', composta por uma maioria de desconhecidos, com exceção de Kasper Schmeichel (filho do antigo guarda-redes Peter Schmeichel) ou Robert Huth, o Leicester 'furou' todos os prognósticos e derrubou as probabilidades das casas de apostas de ganhar o campeonato inglês. Para trás ficaram os todos 'poderosos' do reino de sua majestade, incluindo Chelsea, Manchester City, Manchester United, Arsenal, Liverpool ou Tottenham.
Jogadores da loja dos 300
Uma das várias razões para o sucesso do Leicester poderá estar na baixa fatura paga com salários e contratações. Num onze base que custou pouco mais de 30 milhões de euros, o cheque mais chorudo foi pago no inverno passado com a contratação do avançado japonês Shinji Okazaki aos alemães do Mainz por 11 milhões de euros.
Obviamente que somando os valores dos suplentes o valor aumenta, mas mesmo somando todo o investimento, o Leicester é com menos de 50 milhões de euros o campeão mais barato de Inglaterra em muito tempo.
Mas o feito histórico do Leicester ganha uma maior dimensão quando analisado o seu valor de mercado. De acordo com os dados da TransferMarkt, o valor de mercado total do Leicester ascende a 127 milhões de euros, quase quatro vezes inferior ao 'líder' deste ranking, o Manchester City: 501,75 milhões de euros.
O pódio dos mais ricos e poderosos da Premier League fica completo com o Chelsea, avaliado em 495,75 milhões de euros, e pelo Arsenal, com 440 milhões de euros.
Transpondo para a realidade nacional, o valor de mercado do Leicester é inferior ao do clube português mais valioso, o Benfica. Segundo os dados da Transfermarkt, o clube da Luz está avaliado em 171,25 milhões de euros, ou seja 44,25 milhões mais caro que o humilde novo campeão de futebol inglês.
Mas a chave do sucesso não se resume apenas aos heróis em campo. O dono do clube decidiu em 2013 pagar toda a dívida que o clube tinha, num montante de 103 milhões de libras, transformando-a em capital social para cumprir com as normas de solvabilidade da liga inglesa. Além disso, Vichai Srivaddhanaprabha comprou o estádio ao fundo norte-americano TIAA-CREF por 30 milhões de libras.
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Fotografia: REUTERS/Darren Staples[/caption]
A somar a isto, por na época passada ter subido ao escalão máximo do futebol inglês, o Leicester beneficiou da distribuição equitativa de direitos televisivos que existe em Inglaterra e recebeu 71,6 milhões de libras. Este encaixe permitiu-lhe regressar aos lucros e dedicar parte das receitas na contratação de jogadores.
Em equipa que ganha não se mexe
Com o feito histórico e inédito, o valor do Leicester poderá triplicar. Pelo menos essa é a estimativa dos analistas da PrivCo, que apontam para um valor em torno das 437 milhões de libras (550 milhões de euros), graças ao aumento das receitas e prestígio que a raposa acaba de ter com a vitória da Premier League.
E como o ditado futebolístico que diz que 'em equipa que ganha não se mexe', os responsáveis do Leicester já vieram garantir que querem manter os jogadores principais na próxima época.
"O Leicester não é um clube que vá vender os seus jogadores. Como tenho dito desde o primeiro dia, queremos criar as bases de uma grande equipa", disse o vice-presidente dos 'foxes' Aiyawatt Srivaddhanaprabha a um canal televisivo tailandês. Segundo o dirigente, "todos os jogadores querem permanecer" no Leicester, que na próxima época vai disputar pela primeira vez a fase de grupos da Liga dos Campeões, para verem "até onde podem ir".
O milagre e o conto de fadas do Leicester, que ocupa todas as manchetes de hoje dos jornais ingleses, não era esperado pelo seu próprio treinador, o italiano Claudio Ranieri, o que só prova que não há impossíveis e que até uma simples e humilde raposa pode fazer história.