ATENÇÃO! Este texto não é sobre política. É a minha perspetiva publicitária sobre uma marca que em apenas ano e meio conquistou meio milhão de consumidores.
A marca CHEGA! faz-me lembrar marcas tipo a Tucson. O produto mais famoso da Tucson, eram umas pulseiras milagrosas, muito anunciadas no canal de televendas nos anos 80. As pulseiras Tucson eram prateadas, com duas bolinhas douradas, uma em cada ponta. Prometiam curar tudo e mais alguma coisa, desde stress, reumatismo, dores de cabeça, dores nas costas, artrite, gota, gases, azia, e por aí fora. Às pulseiras só lhes faltava gritar, de resto eram a cura de todos os males. Os anúncios no canal de televendas, conseguiram convencer uma enorme legião de pessoas totalmente desesperadas por verem as suas doenças curadas. O embaixador da marca em Portugal era o António Sala, na altura uma das personagens mais famosas da TV. As Tucson foram um fenómeno no final dos anos 80 e acabaram por desaparecer do mercado de um dia para o outro. A marca foi acusada de fraude em tribunal, por não poder provar que realmente as pulseiras faziam aquilo que prometiam.
O nome
O nome CHEGA! só tem um pequeno problema: em caso do partido chegar ao poder, deixa de fazer sentido. Ser CHEGA! representa o grito contra o poder instituído. Ser CHEGA! significa ser oposição. Significa gritar em letras maiúsculas e com ponto de exclamação. Se algum dia o CHEGA! chegar (redundância) ao poder, vai-se revoltar contra quê? Vai dizer "chega" de quê?
Como diretor de arte de formação, o logótipo do CHEGA! não me passou despercebido. Imagino o briefing entre o dono do CHEGA! e o artista que desenhou o logo e é esta conversa que me vem à cabeça: "O pá, faz-me aí um logótipo em 5 minutos porque temos de ir ali legalizar o partido. Estava a pensar numa coisa assim forte, tipo um carimbo a dar uma grande porrada no nosso país. Escreve CHEGA!, mas tem de ser em letras maiúsculas e com ponto de exclamação, percebes pá? Por baixo coloca uma imagem do nosso país. Procura "Portugal" nas imagens do Google, e saca um desses cliparts, tipo aqueles antigos do Corel Draw. O que é que fazes às ilhas? Mete-as cá para baixo, entre o Alentejo e o Algarve, tipo migalhas. Olha, e que tal dares um efeito 3D ondulado ao país e o pintares de dourado? O dourado representa o país que já teve a sua época de ouro, e o ondulado o estado em que estamos... 46 anos de corrupção, sabes bem como é... Mete o carimbo em cima a rematar, como que a dizer que chegamos para endireitar o país, abanar com o sistema e com o politicamente correto. Depois para os cartazes, usa essa fonte pesada nos headlines, mas sempre com drop shadow. Não te esqueças do drop shadow!".
O dono do CHEGA! usa uma barba de 3 dias que lembra os Irmãos Metralha dos livros do Tio Patinhas. Veste fato e gravata com um sobretudo por cima. Os seus militantes, os que aparecem ao seu lado na televisão, confundem-se com os seguranças. A embalagem do CHEGA! é carismática e agressiva.
Ser anti. Anti-sistema. Anti-politicamente correto. Anti-emigração. Anti-ciencia. Anti-mascara. Anti-quem esteja contra. Anti-ciganos. Anti-mulheres poderosas. Anti-portugueses que não são de bem...anti-etc.
Resumindo: O logótipo do CHEGA! é uma aberração. O nome não faz sentido. A missão é um atentado. O dono parece um dos irmãos metralha, e mesmo assim meio milhão de portugueses confiam nesta marca como confiaram nas pulseiras Tucson. As marcas PS e PSD tem deixado muito a desejar e os portugueses estão frustrados. Alguns deles, ao extremo de acreditarem que a solução para todos os males pode vir de uma marca de índole duvidosa como o CHEGA!. O CHEGA! vem da mesma fábrica de onde saíram as aberrações americana e brasileira. E toda a gente sabe qual foi o fim da marca americana.