Liderança no pós-pandemia: quais os desafios?

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De novas formas de trabalho, a inovadores modelos de negócio, até ecossistemas colaborativos, avançar no pós-pandemia implica novos desafios para as empresas, colaboradores e clientes. É preciso criar confiança e estabilidade num contexto moldado por muitas incertezas, mas também com inúmeras valências positivas.

É tanta a vontade de ver o ciclo que atravessamos "pelas costas" que optei por um título energicamente afirmativo: no pós-pandemia! A COVID-19 tornou ainda mais evidente que vivemos numa disrupção contínua. Ou, se quisermos, numa evolução constante que agora vemos numa ambiência de aceleração muito mais rápida do que se registava na era antes da pandemia. Já o disse e escrevi várias vezes: fomos forçados a viver neste período o que estava planeado acontecer nos próximos 10 anos. Este detalhe tem algum significado? Imenso!

Este ciclo evolutivo não vive sozinho, isolado. É acompanhado por uma enorme pressão nas economias e nas comunidades e está, intimamente, interligado com a urgência climática já existente na pré-pandemia e que tenderá a agravar-se. As medidas económicas, ambientais e sociais de que tanto se fala, se debatem e até se firmam em acordos, são urgentemente necessárias.

Tudo isto impacta o funcionamento das empresas. Na sua dinâmica, na sua forma de ver o presente e o futuro, nas suas análises, racionais e decisões. A estratégia, o planeamento, os colaboradores, os parceiros, os fornecedores e os clientes, são elementos chave para o sucesso empresarial, quando geridos numa sintonia positiva que se traduz no cumprimento das suas promessas e na plena satisfação das expectativas dos clientes. Mudou tudo? Sabemos que não. Mas mudaram e estão a mudar muitas variáveis!

É preciso responder a estes novos desafios e, simultaneamente, às tendências mais impactantes e mais visíveis dos últimos anos que se aceleraram no contexto pandémico - a transformação digital é disso um exemplo notório (e notável!). O impacto da exigência do imediatismo pelo cliente e a transição de uma abordagem de "curto prazo", para uma abordagem do "p"ra já" é outro exemplo, que terá sucesso quanto mais as tomadas de decisão forem ágeis e rápidas.

Portanto, é preciso criar bases para uma recuperação sólida, sustentável e extremamente ágil, apta para continuar a enfrentar novas mudanças e gerir futuros riscos, não apenas organizacionais, mas igualmente estruturais. Somos, simultaneamente, atores e plateia de um ciclo de mudança que nos conduzirá a uma forma de viver diferente, na qual a mudança e a adaptação continuarão a desempenhar papéis de relevo.

Como vamos trabalhar no futuro?

Que desafios emergem para os líderes, na preparação desta mudança? Desde já, como primeiro desafio, destaco os futuros modelos de trabalho. É tempo de desenhar novos modelos, suficientemente flexíveis para se adequarem a contextos de mudança, sem pôr em causa o bem-estar das pessoas e das famílias. Longe de modelos-padrão, a retoma depende de estratégias moldadas a cada organização e de modelos de trabalho cocriados com os colaboradores por forma a garantir, desde o primeiro momento, que é o modelo que serve a organização e não o contrário. A flexibilidade do "híbrido" será o conceito dominante, abrangendo dias de concentração em teletrabalho e dias de colaboração e criatividade em equipa, no escritório. Sem esquecer que os novos modelos de trabalho requerem uma "casa" de futuro, ou seja, um espaço adaptado às novas formas como trabalharemos.

Um segundo desafio diz respeito à capacitação e requalificação das equipas e dos colaboradores. Desenhar programas a este nível é uma oportunidade para reforçar o envolvimento, a motivação e o desempenho das pessoas.

Outro desafio é, incontornavelmente, o do clima. Todos temos um papel a desempenhar nesta frente e as organizações não são exceção. Devemos fazê-lo com a ambição de gerar impacto real nas comunidades e no planeta e, por isso, a neutralidade carbónica tem de ser a bússola a orientar cada estratégia e decisão. Rastrear a monitorização desta meta é tão fundamental como partilhar este caminho, com transparência e envolvimento, junto dos diferentes públicos da organização, de forma a inspirar a mudança.

A necessidade de gerir melhor o risco perante a incerteza é outro desafio. A pandemia alertou-nos de que precisamos de estar preparados para eventos de alto impacto, imprevisíveis e múltiplos. Responder-lhes passa também pela ciência e tratamento de dados. O Fórum Económico Mundial prevê que, daqui a quatro anos, 30% dos dados mundiais serão trabalhados em tempo real, permitindo acelerar a tomada de decisão. Mas mais: é essencial que esta gestão de risco seja reforçada pela colaboração e, neste ponto, refiro-me a ecossistemas setoriais colaborativos. Ecossistemas onde os dados são partilhados no sentido de acelerar a inovação, gerar maior valor para todos - empresas e clientes -, identificar novas oportunidades e sinalizar riscos setoriais com maior velocidade.

Haverá sempre uma nova crise. Prepará-la com resiliência implica dar respostas robustas a estes desafios e a outros que emergirão nesta matriz complexa. Só assim é possível gerar mais valor a longo prazo para os diferentes públicos. Construir impacto para as comunidades. Proteger o planeta. Cabe aos líderes serem propulsores e estrategas deste caminho de mudança. Com inspiração, inovação, envolvimento e, sobretudo, diálogo.

António Bico, CEO da Zurich em Portugal

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