Lindas e magras, feias e balofas

O assunto é delicado, porque envolve mulheres e dinheiro. Pior, mulheres de homens ricos e muito dinheiro.
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Os "bónus das esposas", como ficaram conhecidos, assumem as mais variadas formas, podendo ser fixados em acordos pré-nupciais, ou ainda ser indexados a determinados objetivos, como a colocação dos filhos em boas escolas.

Das histórias, supostamente verídicas, que se vivem em Manhattan, em Nova Iorque, ao incêndio na opinião pública foi um passo.

A polémica não poupou ninguém, nem estas mulheres, "as pobres mulheres dos banqueiros milionários", nem a autora do livro.

Nada de novo. Apenas mais um debate encalorado sobre uma versão glamorosa de uma realidade que existe desde que o mundo é mundo.

Desde quando é que é uma novidade a existência de mulheres dependentes dos homens? Muitas avós e mães viveram verdadeiros infernos, comemoraram bodas de ouro à conta de uma dependência emocional e, sobretudo, financeira.

E, mais grave, subsistem, hoje e aqui ao lado, muitas mulheres, mais do que admitimos ser possível, que limitam a sua vida ao marido e aos filhos, como se não houvesse outra saída. E sem ganhar um tostão.

Não vivemos na Idade da Pedra, mas o século XXI não nos livrou da desigualdade de género. Qual é a surpresa?

As "esposas" eternamente jovens, lindas e magras, sempre à mão de um cocktail, existem, pois existem. E não é só nos Estados Unidos, essa terra dada a bizarrias. Tal como as mulheres feias e balofas, acomodadas a uma vida que já não querem, igualmente desinteressante.

As duas faces da mesma moeda. Umas ricas, outras pobres, ambas miseráveis, todas reflexo de uma sociedade desigual, onde as mulheres não têm as mesmas oportunidades, onde elas ganham menos que eles, mesmo que exerçam as mesmas funções, onde muitas ainda dependem, financeiramente, deles.

Qual a diferença? Serão as mulheres ricas muito diferentes das outras, pobres e honradas? Ou serão, apenas, uma versão mais desprezível de uma dependência revoltante, que continua a existir, ainda que com tons diferentes?

Há muito a fazer, por todos, a começar pelo colega do lado, mas ainda acredito que muita da mudança deveria começar nas próprias mulheres. Enquanto isso não acontecer, haverá sempre alguma que considerará uma opção viver uma vida de segunda. E há sempre um preço a pagar.

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