Conferência sobre Moda Sustentável vai decorrer em Lisboa a 23 de outubro e dá a conhecer exemplos de sucesso como a LMA, que faz malhas com um grande foco na sustentabilidade, ou a Scoop, que criou coleções a partir de restos.
Lisboa é Capital Verde Europeia 2020 e a autarquia pretendia aproveitar o ano para “mostrar o que de melhor há em Portugal” neste domínio. A pandemia obrigou a cancelar praticamente todo o programa, que está, agora, a ser retomado e será prolongado pelo primeiro trimestre de 2021. Para 23 de outubro está já agendada a conferência Sustainable Fashion Business que irá dar a conhecer nomes nacionais que têm “revolucionado a produção de moda sustentável”, como Alexandra Pinho (CEO da LMA), Elsa Parente (da RDD Grupo Valérius) e Mafalda Mota Pinto (da Scoop). Para divulgar alguns desses projetos, o vereador do Ambiente da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, fez um périplo pela indústria têxtil a Norte.
Com 50 funcionários e uma faturação anual em torno dos sete milhões de euros, a LMA é uma das referências nacionais nos têxteis técnicos, designadamente produzindo malhas de desporto com elevada performance funcional, um segmento de mercado onde a sustentabilidade é uma exigência crescente das grandes marcas internacionais, e não é de hoje. Desta fábrica de Rebordões, em Santo Tirso, saiu a bandeira portuguesa produzida com poliéster 100% reciclado a partir de plásticos recolhidos dos oceanos, e que foi hasteada no topo do Parque Eduardo VII, em Lisboa, em janeiro, para assinalar, precisamente o arranque da programação da Capital Verde Europeia 2020. Confiante de que, na sustentabilidade, “mais vale uma boa ação do que um sermão”, Sá Fernandes, vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa quer aproveitar a Presidência portuguesa da União Europeia, no próximo ano, para oferecer um bandeira semelhante a cada Estado-membro.
Nike, Adidas ou Puma são apenas alguns exemplos das marcas para que a LMA trabalha, dispondo, inclusivamente, de um laboratório dentro de portas para fazer os devidos testes a todos os produtos que saem da empresa. O segmento do desporto, em que se inclui o vestuário mais casual da britânica Sweaty Betty, com 50 lojas no Reino Unido e várias nos EUA, ou da canadiana Lululemon, com quase 500 espaços comerciais em todo o mundo, assegura 80% das vendas. Mas a empresa produz, também, para o segmento automóvel, bem como para a área da defesa. A roupa interior da polícia espanhola e alemã, com características ignífugas, ou seja, resistente à chama, é produzida com malhas da LMA.
Com a pandemia, a quebra de encomendas tem sido grande, reconhece a CEO da empresa, Alexandra Araújo Pinho, mas a fábrica nunca fechou e ninguém foi para lay-off. “Tivemos que ser bastante criativos”, reconhece a empresária, admitindo que a procura de malhas para máscaras e outros equipamentos de proteção individual reutilizáveis foi de tal forma grande que compensou as quebras. “Nem em agosto paramos, estivemos sempre a trabalhar”, explicou a Sá Fernandes, na visita que este fez à fábrica. E os próximos meses prometem ser iguais. “Estamos preparados com stocks até final de janeiro, foi uma exigência dos próprios clientes para garantir que não haverá falta de matéria-prima”, diz.
Na Scoop, marca da Scorecode Têxteis, de Vila Nova de Famalicão, Mafalda Mota Pinto explica que foi a consciência de que a indústria têxtil é “uma das mais poluentes do mundo” e a vontade de encontrar uma solução para os resíduos gerados que a levou a propor à Tommy Hilfiger a criação de uma coleção específica a partir de restos de tecido. A relação “de mais de 20 anos” entre as duas empresas havia gerado restos de produção que ocupam 500 metros quadrados. Levou dois anos a que a proposta fosse aceite e, em 2016, nasceu a primeira coleção de upcycling, a arte de transformar lixo em luxo.
E nunca mais parou. As coleções têm-se sucedido e as participações em certames internacionais, também. Bem como o convite para vender as suas peças na Browns, "provando que o conceito de upcycling pode, na verdade, passar a ser um negócio", explica a empresária. Hoje, a empresa especializada em vestuário desportivo técnico, designadamente em fatos para a neve, para marcas de luxo como a americana Cordova, é uma das poucas portuguesas comprometidas com o Pacto Global das Nações Unidas, que assenta em princípios fundamentais em termos de proteção ambiental, mas, também, dos direitos humanos, práticas laborais e anticorrupção.
Trabalha, entre outros, com designeres como Priya Ahluwalia, vencedora do Prémio LVMH 2020, que será uma das oradoras da conferência Sustainable Fashion Business, ou Mariah Esa, com a qual desenvolveu um casaco feito a partir de etiquetas velhas e que está à venda na Farfecth. Uma peça que integra o iTechStyle Green Circle - Sustainability Showcase de 2020, a iniciativa do Citeve, o centro tecnológico do sector, em parceria com Paulo Gomes, curador da componente de desenvolvimento criativo, e com a Associação Selectiva Moda, que promove, nos mercados internacionais, a excelência dos produtos têxteis nacionais ao nível da sustentabilidade e da economia circular.
A Scoop conta com duas fábricas, onde dá emprego a 180 pessoas, e faturou, o ano passado, 10,8 milhões. O segmento de reutilização de resíduos deverá este ano quase duplicar e chegar aos 1,5 milhões de euros. “Queremos ser parte do processo e ajudar as marcas a perceberem não só o seu impacto, mas também o que podem fazer com os seus resíduos”, diz Mafalda Mota Pinto.