Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Almada recuperam mal da pandemia e são dos mais desiguais

INE. Em todos os concelhos houve ganho de rendimento nominal face ao último ano antes da crise pandémica (2019). Mas descontando a inflação acumulada desde 2019 até 2022, terá havido perda de poder de compra em 19 municípios. Piores casos são Odivelas, Entroncamento, Amadora, Barreiro, Lisboa e Porto.
Fotografia: Gerardo Santos / Global Imagens
Fotografia: Gerardo Santos / Global ImagensGerardo Santos / Global Imagens
Publicado a

Alguns dos municípios mais populosos do País, nomeadamente, Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Faro e Almada, foram os que menos conseguiram recuperar da pandemia, usando como medida o "valor mediano do rendimento bruto [anual] declarado deduzido do IRS liquidado por sujeito passivo" e a respetiva variação deste indicador entre 2019 (último ano dito normal, antes do choque pandémico e da grave crise que se seguiu) e 2022, mostram cálculos do DV a partir de novos dados ontem (quinta-feira) divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

De acordo com as novas estatísticas do rendimento ao nível local, aquele rendimento mediano por contribuinte (o valor que está exatamente ao meio da distribuição de rendimentos, dos mais baixos aos mais elevados), subiu em cerca de 300 concelhos portugueses analisados pelo INE (não foram analisados todos os 308 porque uns poucos levantavam problemas de representatividade estatística, segundo o INE).

Face a 2019, os dez aumentos de rendimento mais fracos aconteceram em Odivelas, Entroncamento, Amadora, Barreiro, Lisboa, Porto, Marinha Grande, Faro, Loures e Setúbal, por esta ordem, começando em 6% e terminando em 7,8%, em termos nominais, e já depois do acerto do IRS. A média nacional foi bem superior, cerca de 12% entre 2019 e 2022.

No entanto, cruzando estes ritmos de recuperação de rendimento por contribuinte mediano com o indicador de desigualdade calculado pelo INE (também a nível municipal), torna-se claro que muitos destes concelhos que ficaram na mó de baixo são também os mais desiguais.

É o caso de, como referido, Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Faro e Almada, municípios onde o índice de desigualdade (Gini) é o mais elevado entre os 300 territórios analisados, situando-se todos bem acima da média nacional.

O INE explica que "o coeficiente de Gini é um indicador de desigualdade na distribuição que visa sintetizar num único valor a assimetria dessa distribuição". Assume valores entre 0% (quando todas as pessoas têm igual rendimento) e 100% (quando todo o rendimento se concentre numa única pessoa).

Lisboa lidera pelos piores motivos: com uma subida de rendimento mediano de 7% desde a pandemia, o concelho aparece como o mais desigual do país, com um fator de Gini de 42,5%, muito acima da média nacional (35,7%), de acordo com o instituto.

Logo a seguir, Porto: também logrou uma atualização de rendimentos das mais baixas a nível nacional, na ordem dos 7%, sendo um território onde o grau de desigualdade também é dos piores do País (Gini de 41,8%).

Recorde-se que foram possíveis estes aumentos (todos os municípios registaram ganhos nominais no rendimento por contribuinte) porque, depois da razia da pandemia, o ano de 2022 também foi atípico, com a chegada da guerra e da inflação muito elevada (foi de quase 8% nesse ano), o que na altura acabou por empolar os níveis salariais e de outros rendimentos, por força de várias medidas tomadas pelo governo para amortecer o embate da subida agressiva dos preços no custo de vida.

Cascais e Oeiras, dois concelhos altamente populosos e onde a atualização dos rendimentos foi das mais baixas (cerca de 8% desde 2019), também convivem com níveis de desigualdade altos e bem acima da média nacional, mostra o INE.

Portanto, resumindo: foi em concelhos com mais habitantes e mais desiguais que os rendimentos declarados no IRS menos recuperaram da pandemia.

A análise destes dados vai até 2022; a pandemia acabou, oficialmente, no início de 2023.

Perda de poder de compra em 19 concelhos

Mais: fazendo um cálculo mais grosseiro, que é descontar a taxa de inflação nacional acumulada desde 2019 até 2022 (não existem dados para a inflação municipal), torna-se evidente que em todos estes municípios de que estamos a falar, mesmo com medidas e apoios, o contribuinte mediano perdeu, de facto, poder de compra.

Pelas contas do DV, dos 300 analisados, em 19 concelhos, a recuperação nominal não chegou para cobrir a inflação (que neste período superou 9%, em termos acumulados).

Os piores casos são Odivelas, Entroncamento, Amadora, Barreiro, Lisboa, Porto, com perdas de poder de compra que vão de 3% a 2% face ao que era a situação antes da pandemia.

Estes casos medianos, que surgem no meio da distribuição de rendimentos apurados pela Autoridade Tributária (a principal fonte do estudo do INE), empobreceram, por assim dizer.

A lista continua com perdas reais de rendimento a acontecerem noutros concelhos como Marinha Grande, Faro, Loures, Setúbal, Sintra, Almada, Cascais, Seixal, Moita, Oeiras, Beja, etc.

De acordo com o INE, “em 2022, o valor mediano do rendimento bruto declarado deduzido do IRS liquidado por sujeito passivo foi 10.679 euros em Portugal”.

Ainda segundo a autoridade estatística, “70 municípios apresentaram valores medianos do rendimento superiores à referência nacional. Os municípios com valores medianos superiores a 12.500 euros foram Oeiras (15.190 euros), Lisboa (13.809 euros), Alcochete (12.874 euros), Cascais (12.843 euros) e Coimbra (12.557 euros)”.

O rendimento por tipologia de densidade urbana “era, em 2022, mais elevado nas áreas predominantemente urbanas (11.179 euros)”.

Nos territórios “predominantemente rurais”, o rendimento anual já deduzido de IRS era 9.447 euros.

Ou seja, nas cidades, o rendimento líquido mediano do contribuinte era 18% superior face à realidade nos meios rurais.

“O valor mediano do rendimento líquido por pessoa aumentou 5,4%, em relação ao ano anterior [2021]. Todos os municípios, com exceção de Odemira, aumentaram o valor mediano do rendimento líquido por pessoa e em 228 dos municípios aquele aumento foi superior ao do país”, acrescenta o INE.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt