Recentemente, fui contactado por uma empresa ucraniana que conheci na WebSummit. Devido à guerra, abriram um escritório em Lisboa e perguntaram-me se teria interesse em divulgar a sua experiência.
A Sigma Software nasceu em Kharkiv, há 20 anos, presta serviços de TI a empresas de vários setores, tem um centro de formação, um fundo de capital de risco, uma incubadora, vários projetos de I&D e cerca de 2.000 funcionários.
Devido à invasão russa mudou radicalmente, em poucos dias, as suas operações, passando a dar prioridade à fuga dos seus colaboradores e famílias das zonas atingidas pela guerra (cerca de 95% dos colaboradores fugiram para o oeste da Ucrânia e para 10 países, incluindo Portugal), ao apoio humanitário (logística de alimentos e medicamentos) e ao esforço de guerra ucraniano.
Criou um fundo para ajuda humanitária e militar e começou a importar equipamentos e a desenvolver projetos para as forças armadas. Alguns colaboradores juntaram-se ao exército, outros a organizações de voluntários, e a empresa continuou a trabalhar pois a guerra tem várias frentes e uma delas é económica.
Escolheram Portugal porque que apoiamos a Ucrânia; temos muitas startups; um bom nível de digitalização; formamos muitos engenheiros; a maioria das pessoas fala inglês; há muitas escolas internacionais; o fuso horário é conveniente; é o país europeu mais próximo dos EUA e... está longe da Rússia.
Por incrível que possa parecer, no mesmo dia fui contactado por uma empresa de TI que, embora com sede nos EUA, tem a maioria dos seus colaboradores em Moscovo. Explicaram que devido à guerra tinham de abandonar a Rússia e pediram-me conselho sobre as melhores zonas de Lisboa para um escritório e casas para os funcionários.
No meio de uma guerra horrível, em que uns resistem heroicamente a uma invasão e outros tentam escapar ao cerco das sanções. Lisboa assume, uma vez mais, o seu histórico e valioso papel de porto de abrigo.
Imaginem se trabalhássemos a sério na captação de talentos...
Rui Coelho, gestor