
A Endesa obteve um resultado líquido ordinário - o que serve de base para a distribuição de dividendos - de 951 milhões de euros em 2023, menos 60% do que no ano anterior, anunciou esta quarta-feira a empresa espanhola que é controlada pela italiana Enel.
Em termos reportados, o resultado líquido consolidado afundou 70%, para 742 milhões de euros.
"Este resultado deve-se a uma diminuição do ebitda, a um aumento das amortizações e das perdas por imparidade e a um aumento dos custos financeiros, também afetados por uma reconstituição financeira negativa das provisões", incluindo "circunstâncias extraordinárias, especialmente no negócio do gás e questões regulatórias", como "efeitos da redução de preços (clawback) ou a taxa de 1,2% sobre os proveitos liberalizados", de acordo com o comunicado enviado à redação.
No último ano, uma decisão arbitral impôs à Endesa o pagamento retroativo de 530 milhões de euros a um produtor de gás natural liquefeito (GNL).
O "contexto de progressiva normalização do mercado energético, derivado da descida de 64% do preço médio do gás (índice TTF) e, consequentemente, da descida de 48% do preço médio no pool elétrico ibérico para 87 euros/megawatt-hora (MWh)", também contribuiu para o lucro comunicado.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) fixou-se nos 4 392 milhões de euros, menos 18% em termos homólogos. Em termos reportados, o EBITDA caiu 32%, para 3 777 milhões de euros, considerando o "impacto negativo" da referida decisão arbitral e, ainda, pelo "registo de uma provisão para digitalização de 165 milhões de euros", apesar do "impacto positivo" da venda do negócio de mobilidade elétrica à Enel.
As receitas da Endesa caíram 23% em 2023, para 25 459 milhões de euros.
O investimento da empresa recuou 2%, para 2 304 milhões de euros, em termos homólogos, com a energética a indicar que 38% daquele montante foi para a rede de distribuição; 34% para as energias renováveis; 15% para a geração de energia convencional; e 12% para a venda de eletricidade, gás e serviços de valor acrescentado.
No mesmo comunicado, a Endesa dá conta que encerrou a última central a carvão em Espanha, prosseguindo os processos de transição energética em Andorra e em Portugal. Em Portugal, a energética está a desenvolver a reconversão da antiga central termoelétrica do Pego, em Abrantes.
A empresa terminou 2023 com 6,9 milhões de clientes no mercado livre, mais 1% do que em 2022, e as vendas de eletricidade a preço fixo a clientes domésticos e empresariais cresceram 3% para 53 terawatts-hora (TWh).
Para o presidente executivo da empresa, José Bogas, citado no comunicado, a Endesa prevê "um regresso à trajetória de crescimento baseado na normalização das condições de mercado", em 2024.
"Esperamos que as margens nos negócios de gás e geração convencional se normalizem. Prevemos igualmente um impacto muito limitado da atual conjuntura de preços, graças à nossa estratégia de venda antecipada da nossa própria produção", realça o gestor, reiterando o objetivo de fixar o EBITDA "entre 4 900 e 5 200 milhões de euros, o que representaria um aumento de 11% a 18%, e aumentar o resultado líquido ordinário entre 60% e 70%, para 1 600 e 1 700 milhões".