Lucro dos CTT cresce 66%, para 60,5 milhões de euros, em 2023

Segmento do expresso e encomendas compensou quebra do correio tradicional e, pela primeira vez, foi o principal motor de crescimento das receitas. Banco CTT também contribuiu, beneficiando de uma margem financeira elevada à boleia das taxas de juro. CTT preveem 200 rescisões este ano. Sobem dividendo para 17 cêntimos.
Lucro dos CTT cresce 66%, para 60,5 milhões de euros, em 2023
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O lucro dos CTT - Correios de Portugal totalizou 60,5 milhões de euros em 2023, mais 66,2% face ao ano anterior, revelou a empresa esta terça-feira. O resultado leva a administração a propor aos acionistas um dividendo de 17 cêntimos por ação.

O resultado líquido consolidado do grupo liderado por João Bento cresceu mais de 24 milhões, devido ao impacto do correio expresso e encomendas e do Banco CTT nas receitas operacionais, que ajudaram a alavancar em 35,7%, para 87,6 milhões de euros, o lucro antes juros e impostos (EBIT) recorrente. O resultado também foi "positivamente influenciado" pela "evolução favorável do imposto sobre o rendimento do período (-9,3 milhões de euros)", apesar do "agravamento" de 6,8 milhões decorrente do cálculo de gastos e perdas face aos rendimentos líquidos financeiros e pela perade de 1,4 milhões de euros em "itens específicos", segundo as contas divulgadas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Os rendimentos operacionais dos CTT subiram 8,7%, para 985,2 milhões de euros, em termos homólogos. Menos de metade deste valor tem origem no correio tradicional, cuja receita caiu 5,8%, para 434, 1 milhões de euros. O correio tradicional continua a ser o segmento com maior receita, mas a trajetória continua a ser de quebra -  tráfego caiu em toda a linha 8%, para 421 milhões de objetos (carta normal; correio publicitário; e correspondência editorial).

A compensar aquele decréscimo esteve o segmento expresso e encomendas, cuja receita - cada vez mais impulsionada pela operação em Espanha - cresceu 31,5%, para 340,6 milhões de euros. "Pela primeira vez na história dos CTT", realça a empresa, o correio expresso e encomendas "foi o negócio que mais contribuiu para as receitas e para o EBIT recorrente", essencialmente no quarto trimestre. 

O segmento das encomendas beneficiou, sobretudo, da operação em Espanha. No país vizinho, os rendimentos dispararam 51,9%, para 186,8 milhões de euros, enquanto em Portugal a receita deste segmento subiu 12,8%, para 149,1 milhões de euros. Os CTT transportaram 61,7 milhões de objetos em Espanha, enquanto em Portugal entregaram 38,9 milhões de encomendas.

O grupo também aumentou em 21% os rendimentos desta parte do negócio em Moçambique, para 4,7 milhões de euros, muito por causa de uma "parceria com um transitário em África", desde 2022.

Banco com quase 650 mil contas abertas e depósitos a superar os três mil milhões de euros

Os rendimentos operacionais do Banco CTT subiram 17,3%, para 147,7 milhões de euros. Neste segmento, "o crescimento dos rendimentos contou com a performance positiva da margem financeira, que atingiu 98,8 milhões em 2023 (+32,9%)", com os juros recebidos a registar um aumento de 51,7 milhões de euros face a 2022, "beneficiando da subida de taxas de juro e do crescimento de volume".

"Os juros pagos aumentaram 27,3 milhões de euros face a 2022 devido ao aumento das taxas de remuneração dos depósitos dos clientes e securitizações de crédito automóvel", lê-se.

O banco dos CTT registava no final de dezembro de 2023, três mil milhões de euros em depósitos, observando "um aumento de 174,4% dos depósitos remunerados e uma redução de 16,5% dos depósitos à ordem, face a dezembro de 2022". No final do ano, havia 647 mil contas abertas, mais 45 mil em termos homólogos.

Já os serviços financeiros e retalho somou rendimentos de 62,8 milhões de euros, mais 3,4% do que no ano anterior. O desempenho deve-se, sobretudo da subscrição de títulos de dívida pública, em especial dos certificados de aforro, que registaram comportamentos distintos no decorrer do ano.

A oferta de certificados de aforro e de certificados do tesouro-poupança crescimento originaram um rendimento de 44,4 milhões de euros, mais 32,7%, para os CTT em 2023.

O relatório do grupo postal relata "níveis máximos históricos de emissão" de certificados de aforro, até junho de 2023. Com a alteração de condições de comercialização, ou seja, com a entrada de uma nova série com uma taxa de juro mais baixa e a diminuição do limite máximo de aplicação por subscritor, a atratividade dos títulos da dívida pública reduziu-se. No entanto, a procura do primeiro semestre garantiu um crescimento deste segmento de serviços.

"Durante o ano 2023, foram efetuadas subscrições no montante de 12 590,1 milhões de euros com uma média de 50,8 milhões por dia (32,7 milhões de euros/dia em 2022), que compara com 8 138 milhões de euros de subscrições em 2022 (e com a média de 4,1 mil milhões de euros no período 2019-21)", lê-se.

Gastos crescem com aumentos salariais e serviços externos. CTT preveem saída de 200 pessoas em 2024

A par dos rendimentos operacionais também os gastos do grupo agravaram-se em cerca de 57 milhões de euros, em 2023. Os gastos operacionais totalizaram 907,4 milhões, mais 6,7% do que em 2022.

A administração de João Bento justifica a subida dos gastos com os custos do pessoal e com o aumento de serviços externos.

A estrutura de custos da empresa engordou 30,8 milhões, refletindo um custo de 15,9 milhões de euros com os aumentos salariais do último ano, incluindo o aumento do salário mínimo nacional.

"Também contribuiu para esta evolução dos gastos o crescimento da atividade de expresso e encomendas, bem como do contact center e da gestão documental, no negócio de soluções empresariais do [segmento] correio e outros", lê-se.

Os gastos com o fornecimento de serviços externos "aumentaram 53,6 M€ (+15,9%), principalmente devido ao crescimento dos gastos diretos dos serviços de expresso e encomendas (+50,8 milhões de euros), tendo este crescimento sido parcialmente compensado pela redução dos gastos diretos dos serviços de correio (-13,2 milhões de euros) também fruto do impacto das eleições no primeiro trimestre de 2022)".

O crescimento dos gastos também se deveu a "itens específicos", como o "reforço" de 13,9 milhões de euros em imparidades, incluindo "os gastos relacionados com o término antecipado do contrato
de arrendamento com a antiga sede, e custos de transação associados ao arranque do negócio
imobiliário (10,9 M€), incluindo os impostos pagos na aquisição dos imóveis".

Acrescem gastos de 21,3 milhões de euros, no âmbito de acordos de suspensão de contratos de trabalho, em 2023, sendo que o "custo global" com a saída de 116 pessoas ascendeu a 7,9 milhões de euros. Ainda no exercício de 2023, o grupo fez uma provisão de 13,4 milhões de euros, "para a saída de 200 trabalhadores, a qual se estima que aconteça em 2024".

No final de 2023, os CTT contavam com 13 670 trabalhadores (2 284 com contrato a termo certo), mais 1 164 do que em 31 de dezembro de 2022 .

CTT paga 17 cêntimos por ação ao acionista

Os CTT reportam, ainda, um investimento total de 36,1 milhões de euros em 2023, o que corresponde a menos 2,4% face ao montante investido no ano anterior.

O grupo anunciou também que o conselho de administração vai propor à assembleia-geral de acionistas o pagamento de um dividendo de 0,17 euros por ação. A proposta representa "um rendimento de dividendos de 4,9% e um rácio de distribuição de 35%". Quer isto dizer que os CTT deverão distribuir pelos acionistas 24,46 milhões de euros.

A administração também irá propor, no âmbito do programa de recompra de ações iniciado em 2023 e que está a esta data a decorrer, "o cancelamento de até 7,65 milhões de ações representativas de até 5,3% do capital social já adquirido, ou a serem adquiridas no âmbito do
programa de recompra de ações, bem como reservas relacionadas". Ou seja, os CTT pretendem reduzir o capital social da empresa.

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