Luxemburgo acolhe bem (mal) os portugueses

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Um mito nacional, muito difundido, diz-nos que os portugueses são bem acolhidos no Luxemburgo, constituindo os nossos compatriotas uma comunidade bem integrada e totalmente incorporada no Grão-ducado. Esse é o mundo perfeito e cor-de-rosa dos políticos.

É, pois, com surpresa para muitos que o recente estudo independente sobre o racismo e a discriminação elaborado sob a égide do Governo luxemburguês revelou que as duas comunidades que mais sofrem de discriminação e segregação nesse país são, por esta ordem, os portugueses e os Negros, sendo que existem também muitas pessoas que pertencem aos dois grupos. Esta surpresa não se estende, como é óbvio, aos portugueses residentes do Luxemburgo nem aos seus familiares em Portugal que sabem bem como é a vida nesse pequeno país.

Os resultados deste estudo podem ser consultados no site do Governo do Luxemburgo (ver aqui). Com a sua publicação cai o mito da excepcionalidade da emigração portuguesa, sempre exemplarmente integrada por esforço próprio, que serve de justificação à forma desumana de acolher imigrantes em Portugal.

O estudo, embora público mas publicado em francês e alemão, não teve eco na comunicação social portuguesa o que se lamenta. Seria interessante discutir de forma integrada os direitos dos migrantes para que o governo os exija de outros, no que respeita aos emigrantes portugueses, e os garanta aos imigrantes que procuram o nosso país.

O estudo, recentemente apresentado pela ministra da Família e da Integração Corinne Cahen, não deixa margens para dúvidas - a discriminação acontece em várias frentes da vida social desde a brutalidade policial ao acesso à escola, da liberdade de praticar a sua religião ao acesso ao emprego passando pelos estereótipos negativos sobre a nossa comunidade.

Os portugueses que em Portugal são considerados brancos no Luxemburgo são vistos de outra forma e são alvo de racismo sistémico. Mais de metade queixa-se desta discriminação.

Que podemos dizer? Que fazer? O Governo português parece embaraçado e paralisado incapaz de se sentar com o governo luxemburguês e encontrar uma resolução para o problema. Defender os emigrantes portugueses implicaria ter de defender os direitos dos imigrantes que vivem em Portugal e que são relegados para a ilegalidade e sujeitos, como acontece em Odemira mas também em Lisboa e no Porto, às piores e mais desumanas condições de vida. Assim o silêncio parece ser a estratégia oficial.

Atitude muito diferente tem o Governo luxemburguês que encomendou o estudo para conhecer a situação e para encontrar soluções para este flagelo que reconhece ser grave.

Louvamos a atitude do Governo Luxemburguês que com coragem enfrenta um problema social sério que afecta a vida de um grande número de portugueses que vive nesse país. E não podemos deixar de lamentar a atitude do Governo português.

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