Luzboa. Esta operadora de energia arranjou um tubarão sem ir ao lago

Nasceu em Viseu pela mão de três amigos de escola. Num ano, desde janeiro de 2015, passou de zero para 5 mil clientes e fez negócio com Tim Vieira.
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“Isto tudo surgiu comigo a pensar porque é que pagava tanto de eletricidade”, conta Pedro Morais Leitão. O engenheiro de 37 anos natural de Viseu podia ter seguido o caminho mais fácil e mudado de operador. Mas não. Juntou-se a Bruno Pais e depois a José Pedro Amaral - dois amigos de escola e naturais de Viseu - e criaram uma empresa de venda de eletricidade no mercado livre. Não só em Viseu mas no país todo.

A Luzboa nasceu, assim, em meados de 2014, apenas com capitais próprios, e começou a operar em janeiro de 2015, com a particularidade de ser uma empresa 100% online. Ou seja, as adesões são feitas online ou por telefone, as faturas são eletrónicas e os pagamentos por débito direto. “Já existe muita gente letrada no país que sabe utilizar a internet. O nosso cliente principal será o cliente urbano e 3.0”, disse Pedro Morais Leitão, agora CEO da Luzboa.

Mas ser 100% online é também a forma de reduzir os custos da estrutura.

E é isto que permite depois vender a energia com preços inferiores ao de outros players do mercado. “Não fazemos descontos. Os nossos preços são finais e são 6% mais baixos do que os do mercado regulado”, adiantou. E isto nos domésticos. Nas PME fica 7% mais barato. Até a tarifa social tem um desconto maior, conta Pedro Morais Leitão. “O desconto definido pelo governo é de 13% e aplicado à nossa tarifa base, que é mais baixa do que a do mercado regulado, faz que a conta fique ainda mais barata.”

O modelo parece estar a dar resultado. Em apenas um ano passaram de zero para cinco mil clientes e agora estão “a crescer 10% por mês sem publicidade e quase nenhum investimento de marketing”. O primeiro anúncio, que só está disponível nas redes sociais e online foi lançado há cerca de um mês. Além disso, 40% dos contratos são na região de Lisboa e Vale do Tejo. Ou seja, longe de Viseu, onde têm a sede, mas perto do espaço que alugam na capital, no LxFactory.

O problema é que os tais capitais próprios que aplicaram para criar a empresa começaram a acabar e era preciso encontrar um investidor. Não era urgente, mas acabou por surgir muito mais depressa do que esperavam.

A entrada de Tim Vieira

Em novembro do ano passado - com apenas 10 meses de atividade - fecharam um acordo de financiamento com o empresário Tim Vieira, um dos investidores do programa da SIC, Lago dos Tubarões. Mas não foi preciso ir à televisão. Bastou estar no sítio certo à hora certa.

“Em Lisboa partilhamos os escritórios na LxFactory com a Jú Santé, uma empresa de sumos, e o dono convidou-me para ir a um encontro que estava a organizar. Não tinha nada que ver com eletricidade, mas fui na mesma e o Tim Vieira estava lá e como estávamos à procura de um investidor que não fosse apenas financeiro mas que nos desse também visibilidade, fui falar com ele”, contou Pedro Morais Leitão.

O acordo foi fechado pouco depois com a Brave Generation, a empresa de Tim Vieira, que entrou no capital da Luzboa com uma participação de 40%. “O nosso plano não estava muito longe disto”, reparou. “A Luzboa estava toda alavancada em capitais próprios e estava na altura de entrar um investidor, porque o dinheiro acaba e este é um negócio de longo prazo e de margens reduzidas”, explicou.

De facto, um operador de luz ou gás no mercado livre vai crescendo à medida que os clientes vão saindo do mercado regulado ou mudando de operador e, apesar disso estar a acontecer - passou de 3,5 milhões para 4,5 milhões de consumidores de 2014 para 2015 -, não é ainda com a velocidade desejada.

Segundo Pedro Morais Leitão um dos entraves é a falta de informação, principalmente no interior. Mas o problema maior é mesmo o prazo para sair do mercado regulado, que o anterior governo decidiu adiar do final de 2015 para o final de 2017. São mais dois anos que trocaram as voltas aos pequenos operadores e até às grandes empresas, como a EDP.

E o prejuízo não é só para as empresas, nota Pedro Morais Leitão. “Ao contrário do que o anterior executivo disse - de que os portugueses precisavam de mais tempo para tomar uma decisão informada - isso não ajudou, porque incentivou à inércia e se o consumidor não muda continua a pagar mais.”

Além disso, repara, juntamente com a decisão de adiar o prazo, o governo acabou com as chamadas tarifas transitórias que eram revistas de três em três meses e podiam subir para estimular a saída do mercado regulado. Ou seja, sem este incentivo e sem o prazo, a inércia é muito maior, comentou o fundador da Luzboa.

Dez mil clientes este ano

O adiamento do prazo foi, de facto, um percalço, mas a entrada de Tim Vieira ajudou. “Ele traz mais negócio, mais capital e a oportunidade de crescer mais”, referiu Pedro Morais Leitão.

Os objetivos são, por isso, ambiciosos: chegar aos 10 mil clientes no final deste ano, criar uma nova unidade de negócio ligada à instalação de painéis solares para autoconsumo e ainda começar a vender gás e, consequentemente, ter ofertas duais. “Vamos agora iniciar o processo junto da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) e devemos começar por operar apenas por regiões, mas o ideal seria estar no país inteiro como na eletricidade”, adiantou Pedro Morais Leitão.

Fora de questão está, para já, ter clientes com grandes consumos. O foco continuará a ser o mercado doméstico e as pequenas empresas.

É que, quando a Luzboa compra a energia que depois vende aos clientes tem de comprar também o acesso à rede por onde vai passar essa energia e como não sabe se vai vender logo a energia toda e se ela vai toda passar nas redes, é obrigada a prestar garantias bancárias à EDP Distribuição e à REN, que gerem as redes elétricas. Ou seja, “contratar grandes volumes de energia [para grandes consumidores como uma indústria ou um shopping] implica mais garantias bancárias e, neste momento, a banca ainda se fecha muito a este tipo de garantias”, porque as pessoas podem não pagar as contas. “Mas são as dores do crescimento”, conclui Pedro.

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