Lycamobile tem 200 mil clientes mensais em Portugal

Operador móvel virtual tem atividade em Portugal há dez anos. Está a reforçar aposta em serviços pré-pagos focados em dados móveis. Empresa diz estar a ganhar espaço, sendo que a pandemia não penalizou atividade. Usa rede da Vodafone.
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A Lycamobile regista todos os meses uma base de clientes na ordem dos 200 mil, em Portugal. É este o patamar em que se encontra a operação lusa do operador móvel virtual (MVNO, sigla anglo-saxónica) de origem britânica, há dez anos no mercado nacional. Este MVNO oferece serviços pré-pagos de chamadas de voz e de internet móvel, ou seja sem fidelizações associadas, e encara Portugal como um mercado complexo mas com oportunidades no segmento pré-pago.

"Temos aproximadamente 200 mil clientes numa base mensal, de 30 dias, que utilizam os nossos serviços", afirma António Arnaut, country manager da Lycamobile em Portugal desde 2016, ao Dinheiro Vivo. O gestor realça que, apesar de os serviços não implicarem "qualquer tipo de fidelização", o que faz com que a base de clientes seja "completamente móvel", o número de ativações é estável.

A revelação surgiu à margem do lançamento do novo cartão de telemóvel Lyca Nacional M, na tarde de quarta-feira. A Lycamobile lançou em Portugal um novo serviço pré-pago que permite usar 15 gigabyte (GB) de internet e ainda efetuar mil minutos em chamadas nacionais e SMS para todas as redes nacionais, o que se traduz numa tarifa de 0,015 euros por minuto ou SMS e um euro por cada "giga". O custo deste novo serviço é de 15 euros (ou a partir de 10 euros para novos clientes). O novo cartão pré-pago também assegura roaming em todos os países da União Europeia (UE) e Reino Unido, permitindo chamadas e 10 GB de internet. Para quem viajar para fora da UE, o custo do serviço varia de país para país. Caso o consumidor dê preferência a chamadas de voz, o MVNO mantém ofertas focadas em chamadas internacionais - como o Lyca Globe -, que "permite os melhores preços por minuto para países como Brasil, Angola, Cabo Verde ou Índia", por 15 euros (0,03 euros por minuto/sms em chamadas para países incluídos no pacote).

De acordo com António Arnaut, o novo cartão representa mais um passo na estratégia do MVNO em Portugal, no sentido de adicionar ofertas comerciais de internet móvel às propostas pré-pagas de voz móvel. "Estamos, no fundo, a responder às necessidades do mercado, ao que os nossos clientes procuram cada vez mais", refere, sublinhando que "os dados móveis têm tido uma penetração no mercado cada vez maior e a tendência será cada vez mais essa".

Contudo, o líder da Lycamobile para o mercado português assegura que o operador não vai "descurar" na vertente das chamadas de voz, sendo esse o principal foco das ofertas deste MVNO. "É onde somos referência, com preços mais ajustados do que a concorrência". Aliás, é aí que continua a força da empresa, sendo que as ofertas focadas em dados móveis constituem um reforço da posição da empresa, alavancando o crescimento de quota de mercado.

António Arnaut não deslinda dados sobre receitas ou quota de mercado - a Lycamobile não revela dados desagregados do grupo -, mas assevera que a telecom tem registado crescimentos em quota de mercado, "fruto desta aposta nos dados". E nem a pandemia gerou problemas maiores, de acordo com o gestor.

"Em termos de ativações, tivemos alguma estabilidade. A nível de carregamentos, não houve um decréscimo, o que significa que aquele efeito que muitas vezes existe no mercado pré-pago - de utilização e abandono do serviço - abrandou um bocado, porque as pessoas estavam mais limitadas ao comércio e a adquirir um novo cartão", argumenta Arnaut.

Os últimos dados da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), que remontam a maio de 2021, indicam que há um ano estavam registados no regulador sete MVNO portugueses, embora apenas três (Lycamobile, Nowo e Oni) estivessem ativos com ofertas no mercado nacional. Os operadores móveis virtuais só representam 2,8% do mercado de telecomunicações. Desde, então, esta configuração pode estar a alterar-se. A Oni não atua no mercado retalhista e a Nowo, na sequência do leilão do 5G, deverá querer assumir-se como um operador de telecomunicações completo.

Tudo somado pode ser benéfico para a Lycamobile, admite António Arnaut. Não obstante, o gestor afirma que será difícil mudar substancialmente o quadro geral do setor.

"Portugal é um país relativamente fechado no setor das telecomunicações, se compararmos com outros países europeus. Por cá, a quantidade de MVNO é substancialmente inferior", afirma, garantindo que a Lycamobile é "o único MVNO independente a atuar no mercado nacional". "Todos os outros estão debaixo da umbrella [guarda-chuva] de outros operadores principais", atira.

"Estaremos atentos, mas estou convencido que não vai mudar muito o panorama que vivemos nas telecomunicações", diz, explicando que o setor é "altamente competitivo e altamente agressivo, onde as [novas] ofertas são rapidamente respondidas pela concorrência", analisa.

Neste cenário, como olha para Portugal a casa-mãe (o grupo Lycamobile)? "Olha para o mercado português como um mercado difícil, mas onde ainda há oportunidades no segmento pré-pago. Por isso, tem apostado em tarifários competitivos para conseguirmos fazer esta rota de crescimento e ganho de quota de mercado", responde.

Ainda de acordo com os últimos dados da Anacom, os serviços da Lycamobile têm preços "mais reduzidos do que os praticados pelos MNO [operadores como Meo, NOS e Vodafone] para perfis de utilização que incluem entre 1 GB e 5 GB, e até 100 chamadas". E no caso das chamadas de voz internacionais, este MVNO será tão competitivo como os operadores históricos apenas nos preços cobrados por chamadas para "França, Angola, Brasil e Paquistão".

Além daqueles países, a telecom liderada por António Arnaut tem tarifários específicos (apenas chamadas de voz internacionais) para a Índia, Turquia, Roménia, China e Polónia.

A Anacom registava, ainda, há um ano que este operador móvel virtual tem, em Portugal ofertas com "menores atributos e, em muitos casos, preços relativamente superiores" face a outros MVNO noutros países europeus. "Estas diferenças poderão resultar das diferentes condições da procura e da oferta destes serviços nos vários países, nomeadamente dos preços grossistas cobrados pelos operadores de rede aos MVNO", segundo o regulador.

A Lycamobile é um grupo de telecomunicações britânico, criado em 2006, que em Portugal se apresenta apenas como operador móvel virtual com atividade. Oferece, essencialmente, serviços móveis em cartões pré-pagos sem necessidade de contratos ou fidelizações, recorrendo à rede móvel da Vodafone Portugal. Isto desde que chegou ao país, há dez anos.

Dada a ligação com a Vodafone, este MVNO também sofreu com o ciberataque que mandou abaixo a rede da empresa liderada por Mário Vaz, no início de 2022. "Tivemos a nossa rede afetada, mas, felizmente, foi sendo restaurada, à medida que a Vodafone também recuperava a sua rede", conta António Arnaut.

"Neste momento, já está completamente reestabelecida", garante, referindo que as reativação de todos os serviço da Lycamobile aconteceu logo após "uma semana depois do ciberataque". "Dependemos da estrutura da Vodafone, mas eles deram uma resposta fantástica", acrescenta.

Em Portugal, a empresa apenas tem uma "estrutura orientada para vendas e marketing", todo o desenvolvimento das ofertas comerciais são desenvolvidas e monitorizadas a partir do Reino Unido. Além de Portugal, este operador está em outros 22 países, sendo que os serviços num modelo de baixo custo chegam, globalmente, a mais de 16 milhões de consumidores.

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