Mais de dois terços dos portugueses emigrados estão na Europa

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Entre a década de 1960 e 2010, o número total de portugueses emigrados duplicou. Mas, só na Europa, o número de portugueses emigrados é hoje nove vezes maior do que há 50 anos. "A emigração portuguesa é, hoje,uma questão cada vez mais europeia e, com um mercado livre, só por milagre não seria assim", diz Rui Pena Pires, coordenador científico do Observatório da Emigração.

A percentagem de emigrantes portugueses que vivem na Europa passou de 16%, na década de 60, para 67% em 2010, o que representa mais do que dois terços do total da população emigrada. A América do Norte surge agora como o segundo maior destino dos portugueses, acolhendo cerca de um terço dos emigrantes. Assim, apenas 3% dos emigrantes portugueses vivem no resto do mundo.

"O fenómeno não é recente", explica Rui Pena Pires, que falava na conferência "Emigração Portuguesa Contemporânea", a decorrer hoje no ISCTE, em Lisboa. "A migração portuguesa teve uma quebra em 74/75, mas recomeçou muito rapidamente, nos anos 80, e foi-se generalizando e ganhando sustentabilidade com os acordos europeus de livre circulação. Foi a partir de 2000 que a emigração para Reino Unido e Espanha cresceu de forma mais acentuada".

Os números apresentados pelo investigador não deixam margem para dúvidas: entre 2007 e 2010, o número total de saídas de Portugal cresceu 22%. Mas, fazendo a discriminação por destino, as saídas para países europeus cresceram 68%. Para a Suíça, Espanha e Reino Unido, cresceram 600%.

Ao contrário do que possa pensar-se, não foi com a crise que a emigração aumentou. "A crise financeira, sendo global, traduziu-se num decréscimo da emigração portuguesa. Foi com a crise das dívidas soberanas que, já a partir de 2010, se assistiu a um crescimento da emigração", diz o investigador. Isto aconteceu porque, em 2007, a crise financeira traduziu-se em recessão económica e desemprego em praticamente todos os países europeus.

Na fase da crise das dívidas soberanas, por outro lado, já havia países em crescimento e outros em recessão, pelo que a emigração volta a crescer a um ritmo bastante acelerado. Aliás, "temos de recuar até aos anos 60 para encontrarmos um ritmo de crescimento da emigração semelhante ao de 2010".

Mas, se há os que vão, também há os que regressam. "Os países que mais portugueses levaram nos últimos anos são os mesmos de onde hoje voltam mais portugueses", diz o professor e sociólogo João Peixoto, adiantando que, entre 2009 e 2011, a média de regresso a Portugal é de 35 mil portugueses por ano, contra 90 mil que saem.

"Há um movimento de vai e vem permanente, e não são apenas as pessoas que vêm passar a reforma. Há pessoas que, da mesma forma que foram muito novas, voltam muito novas", conclui.

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