O Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal, outrora modelo para outros países, enfrenta atualmente uma crise de capacidade que gera perplexidade. Mesmo sem um grande crescimento populacional, com profissionais de saúde de excelência e (algum) investimento estrutural, o SNS parece incapaz de responder às necessidades dos utentes. Muitos apontam o envelhecimento da população, a chegada de migrantes e a falta de recursos como causas, mas será que essas são as verdadeiras razões? A questão parece estar mais relacionada com a organização interna do sistema. Este problema é crónico e complexo, cuja solução exige novas abordagens. Uma delas pode ser o uso de tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial (IA), para otimizar processos e melhorar a prestação de cuidados..A IA está a transformar o setor da saúde, acelerada pelo avanço tecnológico. As suas aplicações são vastas, abrangendo desde o diagnóstico e tratamento de doenças até à personalização de medicamentos e gestão de pacientes. Em Portugal, no entanto, o uso de IA na saúde ainda é limitado, em parte devido à complexidade tecnológica, à regulação insuficiente e à aceitação lenta por parte dos profissionais e pacientes..Apesar dessas barreiras, é evidente que a IA pode automatizar tarefas burocráticas e repetitivas, permitindo que os profissionais de saúde se dediquem a atividades de maior valor acrescentado. Isso aumentaria a eficiência das instituições sem a necessidade de mais recursos. Um exemplo são os chatbots de triagem, que facilitam o agendamento de consultas, a gestão de dados sobre medicamentos e a triagem de sintomas, otimizando o fluxo de trabalho no setor da saúde..Embora as vantagens da Inteligência Artificial (IA) na saúde sejam amplamente reconhecidas, a sua implementação enfrenta vários desafios. A imaturidade da tecnologia, combinada com a falta de experiência e de casos de sucesso concretos, cria resistências de aceitação entre profissionais e pacientes. Além disso, a regulação é insuficiente, o que aumenta as incertezas. Questões relacionadas com a privacidade e a segurança dos dados sensíveis surgem também como preocupações importantes. Outro obstáculo é a dificuldade de integrar as diversas aplicações de IA com os sistemas de gestão já existentes, o que pode criar incompatibilidades operacionais. Diante desses desafios, é evidente que a implementação eficaz da IA na saúde requer uma estratégia clara, apoiada por uma intervenção governamental assertiva. Apenas assim, será possível agilizar e facilitar o uso desta tecnologia no Sistema Nacional de Saúde (SNS)..Alguns países já seguem esse caminho. O Reino Unido, por exemplo, está a investir fortemente no desenvolvimento, regulação e aplicação de soluções de IA na saúde. Portugal precisa adotar uma abordagem semelhante, garantindo que o SNS possa aproveitar o potencial da IA para melhorar a qualidade e eficiência dos cuidados prestados. Se no passado fomos nós exemplo, agora é tempo de sermos seguidores..Jorge Julião, Professor na Católica Porto Business School