Andamos quase há oito anos, ou quiçá mesmo uma vida, a dizer que Marcelo Rebelo de Sousa fala de mais; e agora, que todos queremos ouvir o que tem para dizer, Marcelo quase não fala, ou seja, fala de menos!.Isso só pode ser interpretado de uma maneira: Marcelo está com medo. Cagufa. Miaúfa. Assustado. Se olharmos para a sua cara no discurso da televisão, não dá para disfarçar... Está aterrorizado! Sente que também ele está em causa nas próximas eleições. Quando devia ser a rocha que devia dar confiança aos portugueses, Marcelo esconde-se. Para Marcelo sentir-se não amado e questionado é o fim da picada..(Daí a necessidade de, mais uma vez, deixar bem claro que foi António Costa que, pessoalmente, decidiu demitir-se. Marcelo limpa todas as pistas e tenta não ser acusado de nada.).Mas pergunto: Onde está aquele Marcelo que foi o político que melhor enfrentou num debate André Ventura? O único político português que, pedagogicamente, o colocou no seu lugar e lhe descodificou as artimanhas?.Ou uma pergunta mais difícil: Onde estão os valores de Marcelo? Sabemos que o Partido Socialista e o Partido Social-Democrata não são muito diferentes politicamente um do outro; mas, do ponto de vista emocional, Marcelo é mais do que 100 por cento laranjinha; e deve estar desesperado por não se sentir representado pelo partido que ajudou a fundar e que até mesmo liderou. E deve sentir-se dividido por ter tido os socialistas por parceiros durante grande parte do seu mandato..Marcelo é um democrata, um dos tios da nossa Constituição (já que o pai e grande referência é Jorge Miranda!), mas Marcelo há muito que deixou de ser claro, e como já aqui escrevi, Marcelo, desta vez, deveria atravessar-se e ser muito mais claro na sua indicação de voto. Mais claro do que é, em seu entender, um bom futuro para o país e um mau futuro para Portugal..Marcelo deixou André Ventura colocar na sua boca palavras e fazer confidências de que Marcelo nunca se oporá a um Governo com a participação do Chega..O que quer dizer esse silêncio?.Marcelo também sabe que os socialistas poderão sempre insinuar que o Presidente foi uma "força de bloqueio", que fez chantagem permanente com uma possível dissolução..Marcelo, ao seu jeito, foi o rosto da oposição às segundas, quartas e sextas; e apoiou o Governo as terças, quintas e sábados. E aos Domingos foi à missa penitenciar-se pela sua bipolaridade (política), é a sua natureza, não há nada a fazer!.Neste discurso de início de um novo ano, Marcelo tentou não se atravessar em nada e tentou remediar futuros danos colaterais que possa vir a ter..Depois preencheu o tempo com os 50 anos do 25 de Abril para cada um de nós poder avocar em nossa memória reminiscências de outros discursos seus. (A memória é muito selectiva e mais facilmente guardamos aquilo de que mais gostamos!).Desculpe, Professor Marcelo, Sua Excelência o Senhor Presidente da República, tenho uma grande admiração por si; faz-me até lembrar o meu pai e uma certa forma que a sua geração, e a sua condição social teve em se recriar em democracia e se bater por valores novos, e fazê-lo com emoção, solidariedade, amizade, empatia, deitando abaixo muitas convenções sociais anteriormente tidas como essenciais....Mas acho que desta vez, o Professor Marcelo vai ter que voltar a ser pedagógico, defender as suas convicções e vai ter que se atravessar por aquilo que acha realmente importante para Portugal..Quer um partido xenófobo e populista no Governo? Quer um partido ultraliberal que é contra qualquer tipo de estado social e a doutrina social da igreja? Quer uma geringonça à esquerda?.Esqueça que pretende ser amado por todos os portugueses, veja o exemplo de Mário Soares, com verrina apelidado de "o bochechas!", e que em momentos decisivos teve contra si uma forte parte da sociedade portuguesa, e no entanto, não foi por isso que deixou de ser "o pai da nossa transição democrática"..Arrisque. Atravesse-se. O país precisa neste momento que todos (e aqui todos é mesmo todos, todos, todos) que todos os agentes políticos se definam num momento tão decisivo para o nosso futuro comum..Nota: O autor escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico.("Até às eleições" é o mote para uma sequência diária de artigos de opinião de Duarte Mexia, que serão publicados, precisamente, até à realização das próximas eleições Legislativas, marcadas para 10 de março.)