Maria Duarte Bello. “As mulheres são capazes de uma liderança mais próxima e empática”
Lançou nesta semana o seu sexto livro: “Liderança no Feminino Barreiras, desafios”. É desde sempre profissional liberal - advogada, professora, coach e mentora - e confessa que nunca sentiu que não podia ser ou fazer aquilo que ambicionava. Tem quatro filhos, o que significa que conhece bem os desafios de conciliar vida familiar e profissional, mas nunca desistiu dos seus sonhos. Hoje sente-se realizada como mãe e como profissional, apesar da longa lista de metas e projetos que ainda quer concretizar, fruto da curiosidade e da vontade de superação. Em entrevista ao Dinheiro Vivo, Maria Duarte Bello revela o que a motivou a escrever este livro, e analisa porque ainda há tanto para mudar na liderança no feminino.
Como é que surge este livro, porquê agora, e qual foi o seu ponto de partida?
Tem muito a ver com o meu percurso profissional. Ao longo dos anos fui lidando com mulheres que queriam ascender a novos cargos, novas funções e acompanhei as dificuldades que enfrentavam. E, por isso, senti que tinha chegado uma altura em que já havia suficiente matéria sobre o tema que, em conjunto com a experiência que tenho com o coaching, com o mentoring, e com o ensino, me permitia refletir de forma profunda. Já acompanhei várias gerações de mulheres e as suas dúvidas e dores.
O tema da liderança no feminino tem muitas vertentes distintas. O que quis explorar neste livro e que reflexão apresenta?
Quis fazer um livro que fosse inspirador para as novas gerações de líderes. O objetivo não era contar as dores do passado. Queria que fosse um mote inspirador. Enquanto mulheres já fizemos e alcançámos muitas coisas. Mas, aborrece-me um bocadinho aquela prática, que ainda está enraizada em muitas empresas, de trabalhos iguais, salários diferentes, e isso é uma coisa que é preciso ultrapassar. Assim como a questão da igualdade de oportunidades. No ensino superior, as mulheres estão em grande número, mas depois isso não se reflete nos cargos de topo nas empresas. Há uma enorme disparidade.
Porque é que isto ainda acontece?
Muitas vezes porque são, em primeiro lugar, as mulheres que acham que não conseguem chegar a estes cargos. Penso que é preciso que olhem para si próprias e que percebam como podem e devem fazer as coisas para alcançar estes objetivos. Mas, a verdade é que as mulheres ainda se debatem com muitas questões - da maternidade, do percurso, etc. -, e também é verdade que nem todas querem ser líderes ou trabalhar. E é uma escolha legítima. Devemos respeitar as decisões de cada um, os seus talentos e as suas preferências de vida. Naturalmente, há algumas pessoas que preferem ter uma vida mais descansada, menos turbulenta e está tudo bem.
Continua a ser preciso mudar mentalidades.
Sim. Ainda há uma boa parte de mulheres que não mudaram, que não tornaram essa mudança possível. As mulheres são muito culpadas pela ascensão de outras mulheres nas empresas. Quando há uma mulher que desponta, a outra que está lá em cima olha e diz: “Eu passei muito para cá chegar, por isso, também vais passar”, em vez apoiar.
Não há uma solidariedade feminina?
Não há. Talvez seja uma caraterística de género, mas sem sentido. Até porque se uma mulher consegue puxar mais mulheres para uma determinada função ou cargo, pode vir a ter muito mais peso nas decisões do que estando sozinha, porque às vezes o número conta. Mas creio que há uma nova geração a mudar as coisas.
Essa mudança deverá partir das próprias mulheres, portanto?
Penso que tem muito a ver com as experiências de cada uma em casa, da educação que receberam e do exemplo, mas também com as personalidades.
Que mais-valias diria que tem a liderança no feminino?
Creio que as mulheres são capazes de uma liderança mais próxima, compreensiva, comunicativa, empática. Uma mulher que passou pelas dificuldades de ter filhos e de conseguir conciliar com a vida profissional está mais aberta a que uma pessoa diga, “tenho este problema, tenho que ir para casa, a criança adoeceu, etc.”. Acho que as mulheres conseguem ser muito empáticas, queridas quando querem, compreensivas, abertas, amigas, sem perder o caráter da liderança. Mas, isto não significa que os homens não tenham também estas caraterísticas. O que dificulta nas empresas não é o trabalho, mas sim, o relacionamento entre as pessoas e os egos.
Esse é também o papel do líder...
Sem dúvida.
O livro fala em barreiras à liderança feminina. Que barreiras são estas?
Uma das principais barreiras continua a ser a maternidade. Raramente uma mulher volta para o mesmo cargo ou função que tinha quando saiu. E, quando volta, também não se pode pôr outra pessoa que foi substituindo fora. Mas isso para a mulher é difícil de aceitar. E é preciso as lideranças perceberem que não tem que ser assim. Além disso, a mulher, em geral, sente que tem que provar mais, que tem que mostrar que é melhor. Apesar de tudo, considero que já foram dados grandes passos.
E que desafios identificou?
Muitas tiveram que copiar homens para sentirem que eram aceites. Isso é uma das coisas que eu penso que tem que se desmistificar. As mulheres devem ser elas próprias e tirar partido do que têm de bom. Muitas vezes não tiram. Ou seja, acho que há aqui um caminho ainda para percorrer.
Que conclusão conseguiu retirar desta sua investigação?
Concluo que o ideal é ter lideranças mistas. Uma empresa só de mulheres teria falhas, tal como uma empresa só de homens.
O seu livro é dirigido essencialmente às mulheres?
Não. Acho que os homens beneficiariam muito em perceber algumas coisas de que não lhes falam, não lhes dizem, ou nunca observaram. Também é uma boa ferramenta para os líderes homens, que lhes permite aprender a comunicar muito mais facilmente com mulheres.
E que mensagem gostaria de deixar às mulheres que querem ser líderes?
Que não desistam daquilo que querem. Mesmo que alguém ao vosso redor diga que não é capaz, insista, prove. E insista sempre.