Marie, Mary, Myriam... muitas são as variações que a protagonista de Maria e o Segredo da Poupança assumiu nas duas dezenas de traduções que estão em curso, algumas das quais foram concluídas esta semana. O livro que foi concebido, aqui em Portugal, pela Global Shapers - edição coadjuvada pela Editora Leya e Fundação Santander -, para transmitir às crianças os conceitos básicos de dinheiro e de fazer economias, agradou aos outros hubs do Fórum Económico Mundial, que estão agora em vias de os adaptar às suas línguas e realidades. E os criadores portugueses estão envolvidos no processo.
Como explica David Cruz e Silva, coautor da história e ele próprio um um dos 7000 shapers existentes pelo mundo fora, a Global Shapers é um projeto inserido no Fórum Económico Mundial que, no fundo, consiste numa rede composta por mais de 400 hubs distribuídos por 156 cidades e/ou países - cada hub uma cidade ou país diferente.
Ora, neste momento, são pelo menos, 30 os hubs Global Shapers interessados em ter a sua versão do livrinho da Maria, que vão da Europa, à Arábia, Índía e América do Sul. Pedro Rocha e Mello, o ilustrador que deu vida a toda a história de Maria e restantes personagens, diz que espera que as primeiras edições traduzidas fiquem prontas já no início do ano que se aproxima.
O ilustrador salienta que, antes da própria produção, é preciso identificar os parceiros adequados, garantir financiamento e estratégia de distribuição. Mas a tradução e expansão do livro português vai mesmo avançar. "Posso, por exemplo, dizer que o objetivo da Suécia é ter, já em janeiro/fevereiro do próximo ano, uma versão sueca terminada. E no fim de semana passado [26-27 de Novembro], estudantes da Índia já produziram algumas edições-piloto para começarem a testar a história em escolas antes de se comprometerem com uma produção maior."
Pedro Rocha e Mello não consegue quantificar quantas edições haverá do livro - até porque em alguns hubs irão optar só por versões digitais, noutros só por físicas, e noutros ainda por ambas -, mas sabe que quase de certeza o interesse não se ficará só por estes 30. "Tenho a perfeita perceção de que poderá rapidamente passar aos 40 e 50, porque com uma tradução feita para uma cidade em concreto é muito convidativa para outras cidades vizinhas."
E, para já, o que muito agrada ao ilustrador é que "continua ao leme do projeto" na adaptação dos traços e nuances necessárias para os trazer até às realidades de cada país, como o dinheiro, os trajes, a comida e o cenário.
"Um dos objetivos do livro e da própria dinâmica da família, dos traços e da disposição, do mood com que as personagens se vão apresentando é que a leitura foi bastante natural, é que qualquer criança, o maior número de crianças possível ao ver a história, ao ouvirem os problemas que a Maria vai enfrentando e as questões, que as identificassem automaticamente, não como uma personagem, digamos, uma menina longínqua que vive uma vida que mais ninguém vive, mas sim uma menina que poderia ser, se calhar, da turma da escola. Enfim, uma aproximação mais chegada à realidade desta família", explica o ilustrador.
David Cruz e Silva conta que o hub de Lisboa, criado em 2013, tal como os restantes seus congéneres, tem por missão realizar no terreno a visão do criador do Fórum Económico Mundial. O economista e engenheiro Klaus Schwab acreditava que o futuro, para ser sustentável, tinha de envolver os jovens: "Eles têm de fazer parte integrante da definição do futuro", sublinha o shaper português.
Com esta missão de criar um impacto local positivo, no caso, em Lisboa e, num sentido mais lato, em Portugal, David Cruz e Silva relata que já "há muito tempo que se queria fazer um projeto na área da literacia financeira". E porquê? "Com base em dados de relatórios da OCDE houve quatro pilares-base" (ver caixa ao lado) que justificavam intervir nesta área, explica.
Com aquele contexto de falta de conhecimentos financeiros e sem hábitos de poupança, impunha-se e impõe-se mesmo uma intervenção e os Global Shapers decidiram avançar. "Decidimos que, se queríamos mudar alguma coisa tinha de ser começar pelos mais novos.". Daí o livro da Maria.
Depois foi uma questão de encontrar os parceiros certos. "Escrever um livro com um conteúdo ótimo é muito interessante e relevante", diz David Cruz e Silva, "mas o difícil é fazê-lo chegar às pessoas., e aqui nós tivemos o apoio tanto da Fundação Santander como da Leya, que enquanto parceiros nos garantiram que isto chegava ao máximo de crianças possível dos canais tradicionais."
Hoje, Maria e o Segredo da Poupança não apenas vai já na sua 2.ª edição em Portugal como pode ser encontrado nos sites Leya, Fnac, Wool, Bertrand, entre outros, referr Pedro Rocha e Mello. E em dezenas de outros países, consoante o avanço do processo, ou estão em tradução, ou em produção, ou em teste-piloto de diversas versões.
Para ambos os shapers, o interesse generalizado pela Maria e a sua poupança é motivo de orgulho. "Conseguir, neste nosso pequeno cantinho português, criar um projeto que fosse muito mais além daquilo que nós somos em Portugal, e atingir muito mais pessoas e ter um impacto, esperamos nós, global neste momento nós temos", frisa David Cruz e Silva.
Mas foi algo inesperado e uma verdadeira maratona, sublinha: "O sonho era um pequeno impacto local e já estamos a internacionalizar o livro". E tudo no espaço de três anos
Sendo que a viagem de Maria poderá não ficar por aqui. Pedro Rocha e Mello aventa ideias que ficam no ar para o futuro: "Quem sabe se um dia não haverá mais aventuras da Maria? E já nos propuseram coisas como a gamificação do livro. Quem sabe um dia fazer um jogo?"
Se um sonho tão simples, há três anos, resultou em algo global, onde poderão chegar sonhos mais arrojados?