Presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal defende que empresas que não cumprem as mesmas regras a nível ambiental “não deviam ter acesso ao mercado europeu”. .É a primeira vez que temos um português a presidir à confederação europeia da têxtil, é sinal de maturidade da indústria portuguesa?Maturidade já temos há muito, temos é vindo a ganhar notoriedade. E ser o presidente de uma indústria que tem uma boa imagem em termos de sustentabilidade e de inovação ajuda a mostrar que a Europa também tem que seguir o bom exemplo de Portugal. .Isto acontece numa altura de grandes dificuldades. O que pode a Euratex fazer pelo setor?Um dos grandes objetivos do meu mandato é nivelar o terreno de jogo. Continuamos a competir com situações que, do ponto de vista da sustentabilidade ambiental e social, não estão a ser repercutidas no preço dos produtos que estão a chegar à Europa. Se não cumprem as mesmas regras que nós, não deviam ter acesso ao mercado europeu. Tendo-o, porque a Organização Mundial do Comércio o impõe, então têm que pagar uma taxa à entrada, como está a ser feito com o aço..Acredita que conseguirá convencer a Comissão Europeia?Vai ser extremamente difícil, mas não desistimos. É de elementar justiça. .A tão propalada reindustrialização ficou na gaveta?Nivelando o terreno de jogo, a reindustrialização tem todas as condições para acontecer..O próprio Pacto Verde não corre o risco de ficar esquecido?Não podemos ter uma Europa limpa e um planeta sujo. No mínimo, quem quer vender na Europa tem que produzir os seus produtos de uma forma limpa..O que falta ao setor da moda para fazer valer os seus pontos de vista? Se compararmos o crescimento económico das últimas duas décadas, verificamos que a Europa aumentou o gap face aos EUA em cerca de 30 pontos percentuais. É uma enormidade. Isto tem a ver com inovação, com serviços, mas tem também a ver com indústria. A Europa tem-se preocupado pouco com o crescimento das empresas, do seu tecido económico. E isso resulta em descontentamento e em votos para os extremos. Devemos perguntar-nos que leis é que os EUA têm que permitem um maior crescimento económico e permitem haver empresas de grande dimensão, quando nós na Europa não temos conseguido construí-las. A última grande que tivemos foi a Nokia, que entretanto desapareceu..O que falta?Leis amigas do investimento económico, da inovação. Além da sustentabilidade, claro. Esta situação da Shein está a causar um prejuízo enorme a nível global. A França já está a tomar algumas medidas, mas são precisas medidas a nível da comunitário. Este é um dos papéis da Euratex, pressionar a Comissão Europeia para que atue quando há situações que estão a causar desequilíbrios importantes. Voltamos à questão da sustentabilidade. Os produtos da Shein estão a chegar, vão precisar de ser recolhidos e reciclados e não fazemos a mínima ideia se o que está a chegar traz produtos que são proibidos na UE, nocivos para o ambiente e para as pessoas. Não podemos ser ingénuos e deixar que situações que não são minimamente controladas acabem por causar gravíssimos problemas às indústrias que cumprem as regras. .Em Portugal, como estão as empresas a aguentar-se?[Suspiro] As exportações em abril já cresceram em relação ao ano passado, há aqui um primeiro sinal que as coisas podem começar a iniciar a sua recuperação. A verdade é que, no ano passado, as nossas exportações diminuíram 5%, mas as importações da UE caíram 17%, o que mostra que, ainda assim, ganhámos quota de mercado. Não estamos a perder clientes, pelo contrário, temos mais, mas estão a comprar menos. Os europeus têm menos dinheiro, estão a comprar menos quantidades.