Maya Kulyky: “É importante trazer pessoas de outros setores para a tecnologia”

Olhar para o futuro, planear e antecipar tendências e necessidades é o foco da Google Research. A IA está no centro da investigação que sai dos seus laboratórios e, em conjunto com outras tecnologias, ajuda a “tornar o mundo melhor”, diz a vice-presidente para a estratégia, operações e divulgação desta área.
Maya Kulyky, vice-presidente para a estratégia, operações e divulgação da Google Research. Foto: Paulo Alexandrino
Maya Kulyky, vice-presidente para a estratégia, operações e divulgação da Google Research. Foto: Paulo Alexandrino
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No verão quente deste ano, mais de 40 incêndios florestais no sul da Europa foram mapeados por uma das novas ferramentas de inteligência artificial (IA) da Google incluindo, desde julho, em Portugal. A ferramenta Wildfires Detection permite monitorizar os limites de incêndios florestais e notificar quem circula nas estradas, através dos telemóveis e do Google Maps. Desta forma, as pessoas serão alertadas e ser-lhes-á indicada uma rota de condução alternativa. Em paralelo, o projeto FireSat ajuda a detetar incêndios numa fase inicial, com o suporte de uma nova constelação de satélites da tecnológica.

“Esta é uma ferramenta que permite, a cada 20 minutos, traçar a dimensão e o tamanho de um incêndio, o que ajuda as autoridades a perceber a sua evolução”, explica Maya Kulyky em entrevista ao Dinheiro Vivo. A vice-presidente para a estratégia, operações e divulgação da Google Research, que esteve em Lisboa esta semana, enfatiza a importância de conseguir controlar um incêndio antes que ganhe dimensão.

Mas estes são apenas alguns exemplos, resultado da pesquisa feita nos laboratórios de investigação e desenvolvimento (I&D) da Google Research, destacados por Maya Kulyky, que demonstram a importância de antecipar o futuro e de desenvolver ferramentas que tenham impacto real na vida das pessoas. “É uma incubadora para o que está para vir, que ajuda a facilitar os desafios presentes. Podemos dizer que o futuro nasce aqui”, afirma.

O foco desta empresa do universo Google é atualmente tudo o que está relacionado com a IA, mas, como assume a responsável, “temos no nosso core um grande compromisso com a ciência e a sociedade”. Aliás, a colaboração com universidades, outras empresas, instituições públicas e autoridades governamentais faz parte deste ecossistema de I&D. Na perspetiva da vice-presidente da Google Research, os avanços tecnológicos são mais rápidos, inovadores e impactantes se o trabalho de pesquisa for colaborativo e, inclusive, se tiver em consideração inputs da sociedade em geral.

Este é também um dos benefícios que Maya Kulyky vê na integração de profissionais de áreas não tecnológicas ou científicas nas equipas de I&D. “É importante trazer pessoas de outros setores para a tecnologia e ter uma visão diferente no setor e no desenvolvimento da IA”, defende, reforçando que “é a única maneira de realizarmos algumas das mais importantes aplicações de IA, porque estas pessoas trazem diferentes perspetivas”.

Garantir uma IA responsável
O impacto da utilização da IA na sociedade é cada vez mais visível, o que exponencia os desafios de transparência, ética, utilização responsável e de regulação. Em áreas como a saúde, por exemplo, garantir a confidencialidade dos dados clínicos enquanto são criadas ferramentas inovadoras, cujo impacto é inegável, obriga empresas como a Google Research a estar muito atentas a toda a implementação da tecnologia. “Temos uma responsabilidade especial, sabemos disso”, admite Maya Kulyky. Contudo, a responsável acredita que é essencial que o trabalho de I&D e de inovação não desacelere, e que as questões éticas e regulatórias acompanhem este caminho e que se vão ajustando à medida das necessidades.

O exemplo da inovação com a IA na área da saúde demonstra como é importante avançar com estas soluções para o mercado, garantindo a sua utilização responsável. “O impacto de projetos como o Alphafold ou o ARDA no bem-estar e na saúde das pessoas é enorme”, aponta a vice-presidente.

O primeiro, originário da Google DeepMind, empresa do universo Google focada no desenvolvimento de IA, permite identificar milhões de estruturas proteicas 3D que ajudam os cientistas a perceber de que forma interagem as moléculas do corpo humano. Isto significa que o processo de identificação de doenças é mais rápido e eficiente e, consequentemente, que as soluções para estes problemas são igualmente mais simples de desenvolver.

Já o ARDA permite detetar problemas na retina e detetar doenças como a retinopatia diabética com maior rapidez. Esta ferramenta permite que os médicos consigam atender muito mais pacientes e, em tempo útil, garantir que são tratados, evitando milhões de casos de cegueira a nível mundial. “São aceleradores científicos”, reforça Maya Kulyky.

No fundo, a responsável da gigante tecnológica acredita que o progresso é mais rápido e impactante com a utilização da tecnologia, especialmente quando aplicada à ciência ou à saúde. “Ela é a peça mais importante na nossa caixa de ferramentas”, conclui.

PERFIL

Advogada na gigante tecnológica

Começou a sua carreira como jornalista - focando-se nas áreas de negócios, empresas e de política. É advogada de formação, licenciada pela Yale Law School, membro da Ordem dos Advogados de Nova Iorque e faz parte do conselho de administração do New York Hall of Science.

Atualmente é vice-presidente para a estratégia, operações e divulgação da Google Research. Tem experiência em planeamento estratégico, desenvolvimento de parcerias, comunicações, propriedade intelectual, desenvolvimento de mercados e mudança de operações.

Passou dez anos no continente africano a liderar e a apoiar organizações. Residiu e trabalhou no Quénia e na África do Sul. 

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