Meo e Zon: a Apple quer mexer no vosso queijo

Publicado a

A Apple está a atacar em ondas os

vários mercados do entretenimento e agora chegou à última

fronteira: a televisão. Steve Jobs, co-fundador e visionário, tinha

esta ambição há muito e testou-a com a Apple TV, uma espécie de

set-top-box que foi um flop de vendas mas que a empresa nunca

descontinuou. Agora é mesmo a sério.

Os especialistas já tinham avisado e,

de acordo com as movimentações da Apple nas últimas semanas, vai

mesmo acontecer - será lançada uma iTV com ambições

revolucionárias, provavelmente em 2012.

Talvez um cruzamento entre o Mac e o

iPad; talvez a primeira televisão realmente smart. E uma grande dor

de cabeça para as empresas que dominam o mercado da televisão paga.

Se a Apple deu cabo dos players que gravitam no mercado da música,

dos telemóveis e dos portáteis, pode muito bem fazê-lo nas

televisões.

As informações vêm de todos os lados

e mostram que a empresa está a investir forte nesta visão. Segundo

o Wall Street Journal, a Apple reuniu--se com uma série de

executivos de grandes companhias multimédia para discutir o formato

que a iTV terá. Também está a trabalhar em hardware próprio, que

vai basear-se em tecnologias de streaming para ter acesso a

programas, filmes e outros conteúdos. E, segundo alguns sites, pode

mesmo estar a desenvolver um televisor próprio. A personalização

no seu expoente máximo.

Uma das tecnologias que o Wall Street

Journal refere é a capacidade de reconhecer os consumidores em

qualquer plataforma - telemóvel, tablet e televisão. Numa das

reuniões que mantiveram nas últimas semanas, os executivos da Apple

descreveram uma tecnologia que reage aos movimentos e vozes dos

utilizadores, embora ainda em fase incipiente; algo assim poderá ser

o fim dos comandos com uma centena de botões - o oposto do que a

Apple gosta de fazer, como é evidente pela quase ausência de botões

em todos os seus aparelhos.

As informações que saíram destas

reuniões são, no mínimo, preocupantes para os operadores de

televisão paga. No fundo, o que a Apple se propõe a fazer é

substituir a set-top-box e até a própria televisão e servir de

intermediário entre o utilizador e os fornecedores de conteúdos.

Mas com uma vantagem: não só

transmitir conteúdos dos fornecedores para a televisão como

permitir transferi-los de aparelho para aparelho sem interromper a

transmissão. Por exemplo, começar a ver um programa na televisão e

continuar no telemóvel ou no iPad.

Era isto que Jobs queria: uma televisão

controlada pelos aparelhos móveis da Apple, totalmente

personalizada, simples de usar e utilizando o ecossistema que a

empresa construiu à volta do iTunes. Antes de morrer, Jobs disse ao

biógrafo Walter Isaacson que finalmente conseguira chegar ao

resultado certo, depois de anos a fazer protótipos.

Agora, a Apple só tem de convencer as

grandes empresas de conteúdos a permitirem que os seus programas

sejam transmitidos através da iTV - algo que não acontece com a

Apple TV porque empresas como a Time Warner não estão confortáveis

com a encriptação presente, isto é, a protecção antipirataria

(um dos maiores problemas da indústria neste momento).

Porque é que os operadores de

televisão paga devem estar preocupados? Porque há muitos clientes

que não gostam especialmente do serviço que lhes é oferecido, ou

porque consideram que pagam de mais por dezenas de canais quando nem

sequer vêem metade.

O mercado português, sendo um dos mais

avançados nesta área, tem sabido inovar para manter os preços

competitivos e adoptar tecnologia de ponta; mas na maioria dos

mercados, em especial no norte-americano, uma solução Apple que

ponha os vários gadgets a comunicar e permita condensar os conteúdos

vindos de várias fontes - Netflix, Hulu, YouTube, iTunes - é uma

séria ameaça ao status quo.

Por outro lado, marca um movimento

contrário ao dos operadores de televisão paga. O Meo da Portugal

Telecom e a Zon investiram bastante nos últimos meses para saírem

do televisor propriamente dito e entrarem nos tablets, computadores e

smartphones. As fabricantes de televisões, ao invés, estão a

tentar integrar funcionalidades Web nos aparelhos - as chamadas Smart

TV - mas o interesse tem sido muito reduzido; o falhanço da Google

TV, uma parceria entre a gigante de Internet e fabricantes como a

Sony, mostra que não é bem isso que as pessoas querem.

Nem o Meo nem a Zon quiseram comentar

este potencial novo concorrente, quando ainda são escassas as

informações sobre qual a estratégia que a Apple vai seguir. Steve

Jobs estava muito mais interessado em garantir um portfólio gigante

de conteúdos do que desenhar uma televisão de raiz. É um negócio

com margens pequenas, algo que não diz muito à empresa de

Cupertino.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt