Bolsa de Paris tomba, euro recua e ouro em máximos esta segunda-feira, após nova crise política em França

O impasse político levou à demissão do primeiro ministro, que esteve 27 dias no cargo. A bolsa francesa foi castigada, o euro enfraqueceu, o ouro subiu e houve alerta sobre o rating.
Euronext França, Paris. 21 março de 2025.
Euronext França, Paris. 21 março de 2025.© AP/Thomas Padilla
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A nova crise política em França lança mais pontos de interrogação sobre a segunda maior economia da zona euro e insegurança entre os investidores. Há efeitos evidentes nos mercados, desde as bolsas ao câmbio.

O primeiro ministro francês, Sébastien Lecornu, demitiu-se durante a manhã desta segunda-feira, 6 de outubro. A decisão foi aceite pelo presidente Emmanuel Macron e a reação foi imediata, nos mercados. A bolsa de Paris registou descidas expressivas (particularmente entre as cotadas da banca), ao passo que o euro recuou face ao dólar. Ao mesmo tempo, registaram-se novos máximos do ouro, a beneficiar do clima de tensão.

Na origem está a crise política que se vive no país. Emmanuel Macron tomou posse para um segundo mandato enquanto presidente de França em maio de 2022 e, desde então, não tem tido tarefa fácil. Nomeou um total de cinco primeiros ministros, sendo que a pressão é cada vez maior.

A 9 de setembro de 2025, François Bayrou apresentou a demissão do cargo. Macron viria a nomear Sébastien Lecornu, à data ministro da Defesa. Ora, menos de um mês passou desde a demissão de Bayrou e foi a vez de Lecornu seguir pelo mesmo caminho, depois de desempenhar o cargo durante apenas 27 dias.

Bolsa de Paris fortemente castigada, em particular no setor bancário

Neste 'cocktail' de tensão e incerteza, a bolsa francesa denotou insegurança acentuada entre os investidores, em virtude da nova crise política no país.

O índice de referência, o CAC 40, caiu 1,36% até ao fecho da primeira sessão da semana e ficou-se pelos 7.971 pontos. O pânico generalizado marcou a primeira hora da sessão e levou o índice para perdas que excederam os 2% mas, em seguida, o índice acabaria por recuperar parcialmente. Ainda assim, foram várias as cotadas que registam quedas fortes, sendo que o setor bancário foi o mais penalizado.

Entre as cotadas mais penalizadas, sobressai o banco Société Générale, tombou 4,23%. No mesmo setor, houve perdas de 3,43% no Credit Agricole, 3,21% no BNP Paribas e 2,33% no Axa.

Em causa estão inseguranças sobre o Orçamento do Estado, que está em risco. Em simultâneo, a redução do défice é imperativa, depois de ter atingido 5,8% do PIB em 2024. As estimativas do governo apontam para 5,4% em 2025 e 4,6% no próximo ano. A previsão é baixar do limite máximo definido pela União Europeia (3% do PIB) somente em 2029, com as estimativas a apontarem para uma redução até aos 2,8%.

Em sentido oposto, a Stellantis valorizou 3,48% e foi, com larga margem, a cotada que terminou o dia com uma subida mais expressiva.

Olhando para as outras grandes praças europeias, o pessimismo foi maioritário, ainda que sem grande intensidade. Em Espanha, Itália e Reino Unido, os índices de referência recuaram menos 0,30%. Por outro lado, a Alemanha fugiu a estas mexidas, na medida em que o índice DAX avançou 0,07%.

Ao mesmo tempo, o índice Euro Stoxx 600, que contempla as 600 maiores cotadas das praças europeias, perdeu 0,04%, o que o deixa nos 570,24 pontos. Continua, por isso, muito próximo do máximo histórico alcançado na sexta-feira passada.

Euro enfraquece face ao dólar

A crise política representa uma perda de poder da zona euro, pelo que a consequência é uma perspetiva de enfraquecimento da moeda única.

Também aqui foi notada a insegurança dos mercados. O par euro/dólar estava a recuar 0,32% à hora de fecho das praças europeias, o que deixava o euro a ser negociado em torno de 1,1714 dólares.

De resto, o câmbio chegou a ficar abaixo de 1,17 dólares por euro, o que significou mínimos de 26 de setembro. Em causa estão os sinais que chegaram de França na segunda-feira, que levam a crer no enfraquecimento da segunda maior economia da área do euro.

Recorde-se que os recentes sinais de enfraquecimento da economia dos EUA, associados a uma crença cada vez maior de cortes da Reserva Federal (banco central dos EUA) nas taxas de juro de referência, têm conduzido a avanços do euro face ao dólar. De resto, o euro aproximou-se de 1,19 dólares em meados de setembro, o que significou

Ouro ganha com cenário de incerteza e marca novos máximos

Como é habitual em cenários de incerteza económica, política ou geopolítica, o ouro beneficiou de ser olhado pelos mercados como reserva de valor. Prova disto é que os futuros daquele minério estavam a valorizar perto de 2% quando tocou o sino nas praças europeias.

Depois de ter atingido a marca dos 3 mil dólares no passado mês de março (há pouco mais de meio ano), a onça de ouro aproxima-se agora dos 4 mil. As negociações faziam-se por valores a rondar os 3.987 dólares à hora de fecho, o que significa que regista valorizações próximas de 3,3% desde o início de outubro e 48,6% no total de 2025, até à data.

Incerteza leva DBRS a deixar alerta sobre possível corte no rating

Em virtude da situação macroeconómica que se vive em França, a DBRS Morningstar baixou a classificação para AA em setembro, ao mesmo tempo que alterou a tendência de Negativa para Estável. Mês e meio depois, a mesma agência avançou com um alerta sobre um possível novo corte, em função da renovação do cenário de crise política.

Em causa está o rating da dívida, que desce, por norma, em situações de instabilidade política e/ou económica. França vive num contexto marcado por ambas, pelo que as inseguranças são evidentes, como esclarece a própria DBRS.

De acordo com o comunicado emitido nesta segunda-feira, 6 de outubro, "o colapso do governo acentua a incerteza quanto às perspetivas políticas e orçamentais de França", ao passo que "a crescente fragmentação política interna e a redução do consenso político limitam a margem de manobra de sucessivos governos", na sequência das repetidas quedas de executivos anteriores.

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