Terminou o período de consulta pública do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030) após a revisão feita pelo atual Governo no final do mês de julho. O Ministério liderado por Maria da Graça Carvalho elevou a meta de consumo de energia renovável de 47% para 51% até 2030, indo ao encontro do valor solicitado pela Comissão Europeia, e reforçando a aposta na descarbonização que já vinha sendo seguida pelo anterior executivo..Esta revisão espelha o compromisso com as metas da União Europeia (UE) para a transição energética, um caminho em que Portugal se destaca entre os Estados-membros. Em 2021, o peso das renováveis no país era de 34%, o que o colocava entre os primeiros seis na Europa dos 27. Portugal lidera igualmente no abandono da produção de carvão, tendo-se tornado o quarto país da UE a encerrar por completo as centrais de carvão, em 2022. .Um encerramento que significou uma redução de 21% das emissões poluentes na produção de eletricidade no país, e que se prevê definitivo, ao contrário do que acontece noutros países. Esta posição do governo português foi várias vezes reiterada pelo anterior Ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e deverá manter-se com o atual executivo, apesar de o Ministério do Ambiente e da Energia não ter, até ao fecho da edição, respondido ao Dinheiro Vivo. A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, obrigou alguns países, como a Polónia, Áustria, França, Países Baixos ou Alemanha a reabrir centrais de carvão já encerradas. O corte no fornecimento de gás russo devido às sanções impostas pela União Europeia aumentou a necessidade de produzir carvão para ajudar a reduzir o consumo de gás nestas regiões. Em 2022, o governo espanhol chegou também a reabrir a central explorada pela Endesa na Galiza, e que já estava na altura parcialmente desmantelada, tendo, contudo, voltado a encerrá-la um ano depois. A decisão de reabrir prendeu-se com o elevado consumo do mercado francês, principal comprador em Espanha, mas também com o aumento da dependência de Portugal que, em 2022, importou do país vizinho o valor mais elevado de energia desde a década de 1990..Esta contingência geopolítica fez soar os alarmes na Comissão Europeia, e levantou dúvidas sobre a concretização das metas climáticas definidas pela UE, que preveem reduzir em pelo menos 55% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030. A verdade é que o mundo precisa de eliminar o carvão cinco vezes mais rápido do que está a fazer para evitar o ‘caos climático’, mas, em 2023, ainda existiam mais de duas mil centrais a carvão em funcionamento, revela um estudo da Global Energy Monitor, uma Organização Não Governamental (ONG) norte-americana. O mesmo relatório defende que todas estas centrais deverão ser encerradas até 2040 para que as metas climáticas globais possam ser cumpridas..Mais capacidade solar e eólica A revisão do PNEC inclui igualmente o reforço da capacidade solar e eólica instaladas, no período entre 2025 e 2030. A meta do Governo aponta para um crescimento na energia solar que quase triplica a capacidade atual (de 8,4 GW para 20,8 GW), e do eólico onshore (de 6,3 GW para 10,4 GW) e offshore (de 0,03 GW para 2 GW). Aliás, para este crescimento na capacidade instalada contribuirão, entre outros, os projetos da Endesa para o espaço da antiga Central Termoelétrica do Pego, em Abrantes, que está atualmente a ser desmantelada..Naquela região, os projetos da energética que ganhou o concurso de concessão, permitirão instalar cerca de 600MW, entre eólicas, solar e armazenamento com baterias. Segundo fonte da Endesa, devido à dimensão do projeto global, dividido por cinco concelhos da região centro, a avaliação ambiental foi fracionada em quatro blocos. O primeiro bloco do projeto, correspondente ao Parque Eólico de Aranhas, esteve em consulta pública, finalizada no passado dia 8 de agosto. Este parque terá uma capacidade de até 244 MW e uma produção anual estimada de mais de 500 GWh, equivalente ao consumo doméstico de 350 mil pessoas. O Projeto do Parque Eólico de Aranhas, e a respetiva ligação ao Posto de Corte do Pego, situa-se nos concelhos de Chamusca e de Abrantes. “Os restantes três blocos do projeto de transição justa da Endesa no Pego serão submetidos a consulta pública ao longo dos próximos meses”, revela a empresa ao Dinheiro Vivo, um processo que, acrescenta a Endesa, “está a decorrer de acordo com o calendário previsto”..Ainda antes do encerramento da Central Termoelétrica do Pego, também a EDP abandonou em definitivo a produção a carvão em Portugal, há três anos, com o encerramento da Central de Sines, em janeiro de 2021. O local que foi um elemento-chave na produção de eletricidade em Portugal está a ser transformado para dar lugar a um projeto de hidrogénio verde. A energética coordena o projeto GreenH2Atlantic que prevê a construção de uma central de produção de hidrogénio renovável com recurso a energia solar e eólica, com a instalação de um eletrolisador de 100 MW..Além de Sines, a EDP faz a gestão de duas centrais a carvão em Espanha e de uma no Brasil, que encerrará até 2025, revela fonte da empresa. Aliás, a energética estabeleceu a meta de acabar com a produção de carvão até ao próximo ano. “Atualmente, 98% da produção global de energia da EDP já é de origem renovável (era 20% há cerca de 20 anos) e o objetivo é chegar aos 100% até 2030”, reforça a mesma fonte.