Metade das empresas familiares tem múltiplas gerações na gestão

Estudo: KPMG concluiu que 53% dos negócios de família em Portugal “com forte legado” revelam “elevados níveis de sustentabilidade” e 45% têm um “forte desempenho corporativo”.
A maior parte das empresas familiares são da área dos serviços
A maior parte das empresas familiares são da área dos serviçosBruno Simões Castanheira / Global Imagens
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Metade das empresas familiares portuguesas tem múltiplas gerações a gerir o seu negócio, o que parece ajudar ao sucesso. Os dados são de um estudo da KPMG que questionou 2700 empresários de 80 geografias e concluiu que o legado “impacta no desempenho corporativo e nos níveis de sustentabilidade” das organizações.

Conclusões suportadas no facto de 45% destas empresas, que referiram ter “fortes legados”, revelaram também ter um “forte desempenho empresarial” e 53% apresentam “elevados níveis de sustentabilidade”. Curiosamente, os dados do inquérito indicam que o impacto positivo do legado na sustentabilidade é mais forte nas empresas lideradas por mulheres do que por homens.

Explicando que há cinco tipos distintos de legados - o biológico ou geracional (nome da família e linhagem),  material (património financeiro, heranças, etc.), social (relações com a comunidade), de identidade (história e rituais da empresas) e empreendedor (resiliência para novos desafios) -, o trabalho, que hoje é apresentado em Serralves, no Porto, “reforça a importância do empreendedorismo transgeracional como fator-chave” de um desempenho sustentado das empresas familiares, salientando que o legado por si só é “insuficiente para garantir o progresso no longo prazo”. O

u seja, os legados  são muitas vezes amplificados pelo empreendedorismo transgeracional que obrigam os antecessores a comunicar abertamente e a reforçar os seus legados empresariais, colmatando o que por vezes pode parecer uma divisão geracional.

“Os valores que integram o conceito de “legado” conectam as gerações, asseguram a continuidade do percurso de sucesso empresarial e moldam a visão a longo prazo da empresa familiar, orientando algumas das suas opções. No contexto atual, o tema representa um desafio para os líderes das empresas familiares que consideram necessário tratar o paradoxo, no sentido de adotar valores históricos e tradicionais com estratégias atuais, para reforçar o processo empresarial de sucesso, construindo um legado dinâmico, sustentável e com valor tendo em mente as gerações futuras”, destaca Luís Magalhães, da KPMG Portugal.

Sob a designação “Potenciar o legado - O caminho de crescimento para as empresas familiares”, o estudo da KPMG contou com o contributo de cerca de uma centena de empresas portuguesas, das quais 61% de grande dimensão (com mais de 250 trabalhadores), 28% de dimensão média (entre 50 e 250 colaboradores) e 11% pequenas (até 50 pessoas). Em termos setoriais, 73% dos inquiridos são da área dos serviços, 22% da agricultura, 3% da indústria e 2% da construção. Em média, as empresas familiares portuguesas envolvidas no inquérito têm 67 anos, o que compara com uma média de 42 anos dos participantes a nível global. 

Em termos de liderança, 31% das empresas portuguesas têm um CEO de 2.ª geração e igual número de 3.ª geração. Há 20% que são já lideradas por um CEO da 4.ª geração e só 6% é que têm um presidente executivo de 1.ª geração. Relativamente aos detentores do negócio, Portugal surge em linha com as respostas internacionais: 88% dos negócios familiares têm as ações da empresa nas mãos da família. E, em média, dentro da família há 5,57 elementos a deter ações do negócio.

Por fim, e no que ao governo da sociedade diz respeito, 78% das empresas familiares portuguesas contam com uma comissão de diretores que assegura a gestão do negócio, composto por uma média de 3,5 pessoas. A nível internacional, só 61% das empresas têm uma comissão de diretores, mas a sua dimensão é maior, são cerca de 5,3 pessoas em média.

O estudo aponta que, com o crescente foco nas prioridades ambientais, sociais e de governação (ESG) em todo o mundo, se conclui que as gerações mais jovens “estão mais preocupadas com os legados sociais e empresariais”das suas empresas familiares, enquanto as gerações mais velhas “continuam a dar mais valor aos legados materiais e à linhagem familiar”.

Formas diferentes de estar no negócio, mas que acabam por ser complementares, já que cada geração pode contribuir à sua maneira, aproveitando a inspiração e a visão do fundador e sustentando a mentalidade empreendedora que revitaliza o negócio e contribui para um forte desempenho empresarial e mantém a sua vantagem competitiva.

“À medida que as novas gerações  entram nos negócios familiares, nota-se um foco crescente das empresas no futuro, procurando apreender as necessidades e ambições das novas gerações, compartilhando a história da família, mas comprometendo-se, em simultâneo, com a inovação e a capacidade de mudança, promovendo a gestão responsável do negócio, mas, também, cultivando um ambiente filantrópico e promovendo a capacidade de adaptação à dinâmica do mercado”, pode ler-se no documento.  

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