Metade dos portugueses quer comprar carro híbrido ou elétrico, até 35 mil euros

No cenário mais favorável à eletrificação em Portugal, em 2025 o parque automóvel dos ligeiros de passageiros será composto por 12,6% de carros elétricos e híbridos, indica um estudo da ACAP - Associação Automóvel de Portugal.
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As vendas dos carros elétricos e híbridos crescem cada vez mais, ao passo que decrescem a pique no gasóleo - que em 2017 representavam mais de 60% do total das vendas de veículos automóveis em volume e, em 2021, o peso caiu para cerca de 20% apenas. E é de resto o acentuar desta tendência que revela o estudo 'As redes de retalho automóvel em Portugal", apresentado esta quinta-feira pela ACAP - Associação Automóvel de Portugal, já que "um em cada dois consumidores afirma que o seu próximo carro será híbrido ou elétrico" e cerca de 90% estão dispostas a pagar, no máximo, 35 mil euros por uma viatura elétrica - ainda que considerem gastar mais para usufruírem de tecnologia adicional, como conectividade, condução autónoma e entretenimento.

Como referência, no que toca a preços, em Portugal a oferta de carros elétricos começa nos 18 800 euros, no caso do Dacia Spring. A Renault, nas gamas mais baixas do Twingo E-Tech e do ZOE, os preços começam nos 24 400 euros e 33 500, respetivamente. O Opel Corsa-e começa nos 30 560 euros, o Peugeot e-208 nos 29 220 euros e o Volkswagen ID3 nos 43 mil euros. Já um Tesla Model 3 é vendido a partir de 54 990 euros.

Caminhamos portanto para um cenário transformador, marcado pela aposta em soluções de mobilidade mais verdes e tecnológicas, como mostram as respostas dos consumidores portugueses ao inquérito elaborado por uma equipa do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), da Universidade de Lisboa. No cenário mais favorável à eletrificação, em 2025 o parque automóvel português de veículos ligeiros de passageiros será composto por 12,6% de carros elétricos e híbridos e por 87,4% a gasóleo e a gasolina (incluindo bi-fuel, movidos também a GPL).

"Apesar da tendência crescente, e de os veículos híbridos e elétricos representarem mais de 50% das vendas de novos veículos ligeiros de passageiros em 2025, a substituição do parque automóvel far-se-á a um ritmo muito lento", explica a ACAP, em comunicado. "Refira-se, aqui, que as vendas anuais rondam as 200 mil viaturas, mas a dimensão do parque já ultrapassa os 5,2 milhões de viaturas. Neste ponto, é importante focar que a idade média do parque de veículos ligeiros de passageiros, em Portugal, já em 2020 se situava em 12,8 anos, muito acima dos números da média europeia ou da Áustria e Reino Unido (que ronda os oito anos)."

Os dados revelam que seis em cada dez consumidores portugueses estão a considerar comprar um veículo nos próximos cinco anos. E dois em cada dez pensam fazê-lo em até 12 meses. Quatro em cada dez pretendem comprar carro novo.

Acontece que as mudanças não estão a operar apenas no tipo de carro que os portugueses procuram. Os desafios para os comerciantes - num setor constituído por cerca de 95% de microempresas mas onde as grandes empresas (0,2% do total) eram responsáveis em 2019 (antes da pandemia de covid-19) por 36% do volume de negócios - vão muito além da eletrificação dos veículos. O estudo da ACAP, que resulta da auscultação direta de clientes, concessionários e marcas, revela que entre os consumidores que estão a pensar comprar carro nos próximos cinco anos, 40% pretendem fazê-lo numa combinação online/presencial. Ou seja, a aposta no digital será determinante para as empresas. Seis em cada dez destes consumidores preferem comprar virtualmente a um concessionário autorizado da marca e 30% diretamente no site do fabricante.

Perante este cenário, as marcas automóveis que operam no nosso país revelaram, em resposta a este inquérito, a intenção de investir na digitalização dos processos, em lojas online e em novos conceitos de retalho. Por seu lado, cerca de 60% dos concessionários referem que a maior ameaça ao modelo tradicional de vendas virá justamente das futuras vendas diretas das marcas. E quatro em cada dez concessionários dizem não estar bem preparados enquanto retalhistas online. Fica patente no estudo que os concessionários estão conscientes da necessidade de investir nos próximos cinco anos na digitalização dos processos, formação de profissionais e na sua transformação para prestadores de mobilidade.

Por força da inflação, do aumento de preços e da escassez de componentes eletrónicos que tem afetado a produção automóvel, o negócio da venda de veículos enfrenta também desafios acrescidos. Só a pandemia, originou fortes quebras no volume de negócios do setor.

"Utilizando o modelo input-output para a economia portuguesa, pode concluir-se que a quebra na procura final dirigida ao setor do retalho automóvel, no montante de 3597 milhões de euros, teve as seguintes consequências na economia: o valor da produção de todos os setores reduziu-se em 5528 milhões de euros; o VAB - ou seja, o impacto no produto interno bruto (PIB) - diminuiu 2494 milhões de euros; e a receita fiscal também sofreu uma diminuição de 16 milhões de euros, em resultado da diminuição do IVA", destaca a ACAP.

O estudo acaba também por propor, "de uma forma genérica, algumas medidas de domínio fiscal, dos incentivos estatais, da desburocratização dos procedimentos e da legislação laboral". Entre elas estão "a alteração do modelo de transferência da carga fiscal, do momento da aquisição para o momento da circulação, a eliminação da dupla tributação (do IVA sobre o ISV) ou o impacto da pós-descarbonização na tributação automóvel".

"Destaque, ainda, para a recomendação que propõe que as alterações fiscais relativas às reformas dos incentivos à eletrificação passem, como acontece em Espanha, por uma forte expressão dos investimentos no setor, com apoio do Fundo Ambiental", elenca a ACAP no comunicado.

"O setor automóvel agrega cerca de 32 900 empresas e apresenta, em Portugal, um volume de negócios significativo - equivalente a 7,9% da faturação total das empresas - e um cariz fortemente exportador, ao representar 14% das exportações nacionais", frisa esta associação empresarial. "Além disso, o setor
emprega mais de 160 mil trabalhadores, que se destacam pela sua qualificação, com acesso a formação profissional contínua e substancialmente acima da média portuguesa."

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