Conseguir ter aulas dinâmicas, interessantes e eficientes é o objetivo de todo o professor e as metodologias ativas de ensino são muitas vezes apontadas como uma boa forma de o conseguir. A psicóloga Célia Oliveira juntou-se a Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação, para analisar o que são estas metodologias e qual o seu impacto na aprendizagem, na edição desta semana do Educar Tem Ciência, um projeto da Iniciativa Educação, em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo..Com origem na pedagogia construtivista do início do século XX, as chamadas metodologias ativas partem do pressuposto que as crianças devem estar ativamente envolvidas na sua aprendizagem, nomeadamente através da descoberta ou elaboração de projetos. Nos últimos anos, têm sido apontadas como uma boa alternativa ao ensino explícito e tornaram-se naquilo a que Nuno Crato apelidou de "moda" e que remete para algo que nem sempre é útil: a chamada à ação por parte do aluno. "O que é importante é ativar o pensamento das crianças porque só pensando é que se aprende", defendeu o presidente da Iniciativa Educação..Célia Oliveira alertou para a associação da noção de metodologia ativa a uma série de crenças falsas, nomeadamente a confusão entre ensino direto ou explícito e ensino tradicional. "São coisas completamente diferentes", garantiu a psicóloga, para quem é fundamental entender o processo por trás da aprendizagem para adotar metodologias eficazes. O processo cognitivo associado à aprendizagem pode resumir-se da seguinte forma: somos expostos a estímulos sobre os quais atua a nossa atenção, a informação é processada, é-lhe atribuído um significado pela "memória de trabalho" que depois faz a transferência dessa informação para a memória de longo prazo, formando novas aprendizagens". "Uma vez armazenada a informação e formada uma nova memória, essa informação é recuperada quando precisamos dela", concluiu a psicóloga, para quem esta noção é tanto mais importante quando se sabe que a nossa capacidade de processamento de nova informação é limitada.."Se o processo de aprendizagem não for suficientemente claro, conciso, temporalmente adequado, organizado, gera-se um efeito de sobrecarga cognitiva", explicou Célia Oliveira. As metodologias ativas remetem para a ideia de aprendizagem autónoma e, para o conseguir, é necessário que os alunos disponham de conhecimento prévio. "Se isso não acontecer, rapidamente se esgotam os seus recursos cognitivos e a sua capacidade de realizar novas aprendizagens", alertou a psicóloga. A investigação científica mostra que as metodologias ativas são mais adequadas nas fases avançadas de aprendizagem. "As metodologias de aprendizagem mais eficazes são aquelas que partem da instrução direta para, apenas numa fase avançada do conhecimento, se pedir aos alunos a aplicação desses conhecimentos", referiu Célia Oliveira, que aproveitou para desmistificar a crença de que a aprendizagem ativa só é possível através das metodologias ativas. "Toda a aprendizagem é ativa", garantiu a especialista..Célia Oliveira e Nuno Crato aproveitaram também para sublinhar que o ensino direto não exclui práticas associadas às metodologias ativas, como o trabalho em pequenos grupos ou a realização de projetos. "Os projetos são uma coisa interessante. É uma maneira de verificar a aprendizagem e aprender mais", defendeu Nuno Crato.."Todo o processo de aprendizagem inicial é muito mais eficaz e mais comportável para os alunos se for baseado no ensino direto, contando com o envolvimento do aluno", referiu Célia Oliveira, que sublinhou a importância, demonstrada por evidência científica, do ensino direto para a redução das desigualdades educativas. "O que também é muito importante ter em consideração quando se planeia o ensino".