À hora a que este texto é escrito, o Brasil já perdeu 650 mil brasileiros na pandemia de covid-19. A maioria deles por culpa de um governo que boicotou a vacina, o uso de máscara e o distanciamento, mentiu aos compatriotas sobre tratamento precoce e ainda desviou dinheiro em negócios esquisitos na compra de imunizantes.
No entanto, parte das vítimas morreu, seguramente, por culpa dos problemas crónicos do sistema público de saúde.
Por outro lado, o Brasil está, de acordo com números de 2020, entre o 58º e o 60º lugar em leitura, entre o 66º e o 68º em ciências e entre o 72º e o 74º em matemática no ranking PISA, quilómetros abaixo da média de OCDE e perto do fundo de uma tabela com 79 países analisados. Portugal ficou em 25º da classificação geral.
Como, segundo os mesmos critérios, os colégios de elite brasileiros ficariam num ótimo quinto lugar mundial, o problema é sobretudo do sistema público educacional do país.
Neste quadro, é absurdo que Saúde e Educação tenham tido queda real de 3%, cada uma, no orçamento para 2022 - mas o Brasil tornou-se um absurdistão, um bolsonaristão.
Ouvida pelo jornal Folha de S. Paulo, uma professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialista em saúde coletiva, alertou para as evidências que a pandemia escancarou de se investir em infraestrutura para lidar com emergências sanitárias e desenvolver vacinas e testes.
"Não é só pesquisa, mas plantas físicas, modernização de hospitais, de toda a rede de cuidados ambulatoriais, testagem, telemedicina, investimentos tecnológicos, fazer cirurgia por robô. É um conjunto de investimentos que está a bater às nossas portas", disse Lígia Bahia.
Para Felipe Salto, diretor do Instituto Fiscal Independente, "nos países da OCDE, as duas maiores áreas de investimento, com 60% do total, são educação e assuntos económicos e transporte". "Se nós queremos ter uma recuperação do crescimento económico, ou aumentamos e melhoramos a qualidade dos investimentos, ou continuamos patinando", conclui.
Bom, mas falta dinheiro, fazer o quê?, justificarão alguns.
Não, não falta: a soma do investimento em Saúde e Educação é menor do que o destinado ao ministério da Defesa, de longe, o mais beneficiado do governo Bolsonaro, com uma reserva de 8,7 mil milhões de reais (1,5 mil milhões de euros, aproximadamente), o equivalente a 20,7% do total.
Essa parcela era de 14,2% em 2015 e não para de crescer desde então, primeiro no governo tampão de Michel Temer e, sobretudo, agora sob o comando de Jair Bolsonaro, o ex-capitão paraquedista que direcionou recursos milionários para a compra, entre outros itens, de cargueiros militares, sistemas de vigilância de fronteiras e desenvolvimento de tecnologia nuclear da Marinha.
Registe-se que o Brasil não entra num conflito internacional desde 1870, quando terminou a Guerra do Paraguai e que, além de participações mínimas nas guerras mundiais, o mais próximo que o país esteve de um míssil foi no mês passado, quando Bolsonaro decidiu ir ao Kremlin prestar solidariedade com Putin, 48 horas antes da invasão da Ucrânia.
Em São Paulo