A economia mexicana continua a debater-se com as barreiras de Trump. Além do muro da polémica, o México luta para ultrapassar a muralha de medidas protecionistas que o novo presidente dos Estados Unidos quer implementar.
Esta semana o Banco do México subiu a taxa de juro de referência para 6,25%, o nível mais alto desde 2009, naquela que foi a quarta revisão consecutiva e a sexta em pouco mais de um ano. Foi ainda a terceira subida desde que Trump foi eleito, a 8 de novembro. Em dezembro de 2015, a taxa de juro de referência era de 3%.
O Banxico, como é conhecido o regulador mexicano, justificou a medida com o possível impacto das promessas de Trump nas contas do país. O Banco do México sublinha a “incerteza” provocada pela adoção de políticas “que dificultam o comércio e o investimento”.
Os analistas não foram apanhados de surpresa pela mexida. “A subida dos juros foi uma confirmação das expectativas”, destaca Henrique Romão Dias, analista da corretora XTB. “As dificuldades diplomáticas entre os EUA e o México continuam. Depois de Trump ter confirmado que vai construir o muro na fronteira com o México e que irá incentivar a indústria americana a voltar ao país através de políticas fiscais e aduaneiras agressivas, assistimos a uma forte depreciação do peso mexicano. Esta depreciação foi resultado da fuga de capitais, numa altura em que os EUA se encontram com uma política monetária contracionista incentivadora de compra de dólares. O aumento da taxa de juro que acabou por se verificar é o reflexo de uma tentativa do Banco do México de controlar a saída de capitais e de valorizar o peso mexicano”, sublinha o especialista.
O peso mexicano, que desvalorizou 16% nos dias que se seguiram à eleição de Trump, atingindo mínimos históricos, registou uma recuperação ligeira após a decisão do banco central. Na última sessão da semana, um dólar valia 20,35 pesos mexicanos. Para Henrique Romão Dias, “é natural que a moeda mexicana ainda possa vir a valorizar mais um pouco nas próximas semanas”.
A decisão do Banco do México tem ainda como objetivo conter a inflação galopante no país, que já está no nível mais alto dos últimos 21 anos. Em janeiro, o índice de preços no consumidor subiu 4,72%. As previsões apontam para que no fim do ano, se os planos do governo norte-americano forem para a frente, a inflação fique nos 5,32%, longe da meta do Banxico de 3%. As previsões para o PIB do país também não são animadoras. Alguns economistas admitem que o México entre este ano em recessão ou que registe, no melhor cenário, um crescimento nulo.
Entre as medidas anunciadas por Trump que podem agitar a economia mexicana está a revisão do Tratado de Comércio Livre do Atlântico Norte entre os Estados Unidos, o Canadá e o México e a possível aplicação de uma taxa de 20% sobre as importações mexicanas como forma de pagamento do muro que vai separar as fronteiras dos dois países.
Esta semana a Reuters revelou que, segundo um relatório do Departamento de Segurança Interna dos EUA, o muro vai custar 21,6 mil milhões de dólares, cerca de 20,2 mil milhões de euros, e levará mais de três anos até ficar concluído. Durante a campanha eleitoral, Trump estimou o custo do muro em 12 mil milhões de dólares, pouco mais de 11 mil milhões de euros.