A União Europeia (EU) enfrenta um desafio crítico na atual conjuntura tecnológica: a dependência acentuada de microchips. Esta não é apenas uma questão de economia ou tecnologia, mas também uma questão estratégica que pode determinar o futuro económico e geopolítico da UE. Os microchips são o coração da tecnologia moderna - desde smartphones e computadores até automóveis e eletrodomésticos, quase todos os dispositivos eletrónicos dependem destes pequenos componentes.
A pandemia da covid-19 veio trazer à tona as vulnerabilidades da cadeia de abastecimentos global e a escassez de microchips foi uma das consequências mais visíveis e impactantes. Indústrias inteiras foram paralisadas ou sofreram atrasos significativos, revelando a dependência da UE de fornecedores externos, especialmente, da Ásia. Concretamente, a dependência europeia de microchips concentra-se em duas regiões: a Ásia e os Estados Unidos. Esta dependência externa não expõe apenas a economia europeia a choques de oferta, mas também a questões geopolíticas. A tensão crescente entre China e Taiwan, por exemplo, pode ter repercussões desastrosas para a disponibilidade global de microchips, colocando a UE numa posição vulnerável.
De acordo com o Centre for International Governance Innovation, a China é, atualmente, o maior consumidor mundial de semicondutores, correspondendo a mais de 50% do consumo global. As aspirações da China em tornar-se numa superpotência de inteligência artificial nos próximos anos não são desconhecidas. Naturalmente, os EUA não aceitaram de bom grado essas declarações e nesse sentido tomaram medidas ao colocar várias empresas chinesas numa “lista negra comercial”, citando preocupações de segurança. Isto significa que, os principais fabricantes de microchips dos EUA, como Nvidia e AMD, enfrentam agora restrições nas vendas e exportações de microchips para a China. Os EUA justificaram este ato devido a preocupações de que a China possa utilizar os microchips que obtêm da Nvidia e empresas semelhantes para fins militares, o que pode ser problemático para os EUA no futuro. Agora que a China provavelmente atrasará consideravelmente o aumento da sua produção, devido às sanções dos EUA, a UE tem a oportunidade de aumentar sua própria produção e preencher a lacuna existente no mercado.
Para tal, torna-se imperativo aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) dentro da união. Iniciativas como o European Chips Act, que visa mobilizar financiamento para fortalecer a capacidade de produção de semicondutores na Europa, são passos na direção certa. No entanto, os investimentos precisam ser contínuos e substanciais para alcançar a autonomia desejada.
A capacitação da força de trabalho é também um fator fundamental. A UE precisa de investir na formação e atração de talentos na área de tecnologia e engenharia de semicondutores. Sem uma base sólida de profissionais qualificados, qualquer esforço de aumentar a produção interna de microchips será insuficiente.
A atual dependência é um desafio que a UE não se pode se dar ao luxo de ignorar. A produção da sua própria tecnologia é agora mais importante que nunca especialmente para que a UE consiga atingir a tão desejada soberania digital.
Fundador & CEO da VisionWare. Especialista em Cibersegurança e Investigação Forense