Uma das novas e mais recentes tendências de Wall Street é investir nas cotadas em que os Millennials gastam dinheiro. Ou seja, em empresas que deverão crescer graças aos novos hábitos de consumo da geração.
Apple, Facebook, Paypal, Amazon, GoPro, Snapchat ou o LinkdIn. Os nomes e as opções de investimento são várias, mas faz sentido seguir esta estratégia de investimento? Em que empresas apostar? E em Portugal, os Millennials são já uma fatia importante dos investidores portugueses? Para ter resposta a estas perguntas, o Dinheiro Vivo falou com vários analistas nacionais e internacionais.
Investimento oportuno
Questionado sobre o investimento nas empresas em que a geração Millennial gosta de gastar dinheiro, Steven Santos começa por qualificar de "oportuno" uma vez que "este grupo etário começa a ter mais rendimento disponível e a ocupar posições mais relevantes nas empresas e na sociedade".
O gestor do BiG salienta que apostar em ações relacionadas com a geração Millennial "é uma tendência crescente mas ainda pouco expressiva dentro das carteiras dos investidores nacionais". "Muitas vezes, os investidores portugueses compram estas ações devido à sua vertente de forte crescimento e inovação, e não devido à importância que assumem para uma geração que deverá ser o motor económico dos próximos anos", explica.
Já Ihor Dusaniwsky não tem dúvidas de que existe "uma mudança radical nas preferências de consumo entre os Baby Boombers, a Geração X e os Millennials, sendo os hábitos de consumo destes últimos vitais para o crescimento e rentabilidade das empresas retalhistas".
"Os Millennials estão numa fase importante da sua vida, estão mais conscientes sobre a saúde e o facto de terem acesso às novas tecnologias permite-lhes fazer compras, algo que as gerações anteriores não faziam tanto", salientou o gestor da S3 Partners.
No caso Albino Oliveira, o analista da Patris considera esta nova estratégia como "uma nova forma de tentar encontrar empresas que possam apresentar um forte ritmo de crescimento nos próximos anos".
"É também o reconhecimento em como os hábitos de consumo se vão alterando e, consequentemente, as empresas que têm exposição a esses mesmos hábitos de consumo. Por último, por também traduzir o facto de esta nova geração estar mais disponível para considerar como hipótese de investimento as empresas/marcas com as quais se identifica", acrescentou.
Mas devem os investidores usar esta estratégia? "Os investidores devem sempre olhar para os hábitos de consumo, para como a sociedade está a mudar e de que forma afeta os mercados. Senão estarão sempre a investir em empresas que produzem carroças em vez de investir em empresas que fazem telefones, portáteis ou café", defendeu Ihor Dusaniwsky.
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Facebook é uma das apostas de investimento sugeridas pelos analistas
REUTERS/Dado Ruvic TPX IMAGES OF THE DAY[/caption]
Quais os melhores cavalos de corrida?
"A maior parte das empresas estão a perseguir os Millennials como os alvos principais dos seus produtos. O Snapchat é, provavelmente, o melhor exemplo dessas empresas que estão totalmente focadas nessa faixa etária", afirma Jan Dawson.
O analista da Jackdaw Research, salienta que "as redes sociais têm a necessidade de atrair e conter os utilizadores Millennials, por serem os mais ativos nos telemóveis". Contudo, alerta que "poderá ser perigoso focar apenas numa faixa etária e nos seus hábitos, porque podem ser fugazes".
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Mas além do Snapchat, quais os melhores cavalos de corrida nos quais os investidores devem apostas as suas fichas?
"As empresas mais bem sucedidas em atrair os Millennials têm algum tipo de relação com a internet ou um produto que essa geração não dispensa", salienta Ihor Dusaniwsky.
Na relação com a internet, o analista avança com algumas propostas de investimento: "Amazon, Facebook, PayPal, Expedia, Alphabet Inc (Google), eBay, LinkedIn, Priceline, Netflix, Twitter, Match Group, Yelp, Zillow, Pandora, Groupon, Square, Live Nation, Zynga, WebMD". Já na área dos produtos imprescindíveis, a aposta recai em "Home Depot, Lowes, Nike, Costco, Starbucks, Apple, Nike, Whole Foods, Michael Kors, Lululemon, Dick’s Sporting Goods, Etsy, FitBit, GoPro".
Já Steven Santos destaca "o Facebook, o LinkedIn, a Nike, o Starbucks e o PayPal, empresas cujo modelo de negócio atual se baseia no consumo dos Millennials mas também de grupos etários mais abastados, como os Baby Boomers e a Geração X". No entanto, "as histórias de investimento da GoPro, da Amazon e da Monster Beverage revestem-se de um caráter relativamente mais especulativo".
Citando os mesmos nomes de empresas, Albino Oliveira alerta que "será preciso ter em conta que os setores são diferentes, assim como será provavelmente diferente a capacidade de cada uma dessas mesmas empresas conseguir ter sucesso no seu modelo de negócio ou defender-se da entrada de novos concorrentes".
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Fotografia: José João Sá[/caption]
Millennials portugueses longe da Bolsa
A geração dos Millennials portugueses está longe do mercado de capitais, mas os analistas dizem que evitar o investimento em bolsa poderá ser um risco a longo prazo.
"Esta geração tem uma participação residual no mercado de capitais, porque ainda valoriza mais as experiências de vida e a flexibilidade pessoal e profissional do que o investimento a longo prazo", alerta Steven Santos.
Contudo, o gestor avisa que "evitar o investimento em bolsa é um risco para a geração Millennial a longo prazo, uma vez que é a classe de ativos que apresenta maior rentabilidade a longo prazo e desempenha um papel importante na preparação da reforma".
A insustentabilidade dos sistemas de segurança social na Europa, em que o pagamento de pensões já supera o recebimento de contribuições, deveria incentivar cada pessoa a poupar e investir com vista à reforma, o que parece não estar a acontecer na geração Millennial.
Mais otimista, Albino Oliveira considera que "também em Portugal, esta geração, até porque estará provavelmente mais bem informada, demonstrará vontade para acompanhar e investir nos mercados de capitais".
Contudo, o analista explica que "a 'cultura' em termos de investimento na bolsa é bem diferente se comparamos Portugal com os EUA, aliás o mesmo acontecendo provavelmente se comparamos a Europa como um todo com os EUA".
Como atrair os Millennials para os mercados?
Uma vez que esta geração privilegia o acesso fácil e rápido à informação e a utilização de tecnologia avançada e intuitiva, os analistas defendem uma maior aposta na formação mas também na criação e desenvolvimento de plataformas de investimento.
Questionado sobre que medidas poderão atrair os Millennials para o mercado de capitais, Albino Oliveira argumenta que "passa provavelmente por medidas que realcem a importância da poupança e da gestão dessa mesma poupança, não só no que diz respeito a esta geração mas para a população portuguesa em termos gerais".
"É uma alteração de mentalidade (e nesse sentido que deverá acontecer de forma gradual), e que deverá acompanhar as alterações que continuarão a ser visíveis na forma como as pessoas observam o papel da Segurança Social", salienta.
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Analistas defendem medidas que realcem a importância da poupança e da gestão dessa mesma poupança[/caption]
Por seu turno, Steven Santos considera necessária uma "maior aposta na formação, plataformas móveis para poder colocar ordens e acompanhar a carteira no smartphone ou no tablet, e no apoio à negociação, recorrendo, por exemplo, a webinars e notas de análise".
"Como a tecnologia e a comunicação imediata têm um papel preponderante na vida dos Millennials, é crucial que os intermediários financeiros consigam corresponder a estas expectativas e às necessidades em termos de plataformas de investimento, de apoio à negociação e de instrumentos financeiros", acrescenta.