Azeite para barrar no pão, pérolas de vinho ou vinagre para guarnecer um prato, azeitonas de gel com o puro sabor do produto original algarvio ou gelado de leite de cabra... Estes são apenas algumas das inovadoras iguarias concebidas no Host Lab da Escola Superior de Gestão Hotelaria e Turismo do Algarve (ESGHT), um projeto inédito que tem por missão “criar produtos e serviços novos e empolgantes que mostrem a beleza e a diversidade da Dieta Mediterrânica, promovendo a sustentabilidade e o património local”, pode ler-se no seu site..“A aposta é na gastronomia e inovação alimentar, com vista também a ter algum impacto no estilo económico e social da região, nestas áreas”, explica Alexandra Gonçalves, diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo do Algarve, investigadora e responsável máxima do projeto..Isto é, “tendo a dieta mediterrânica como base de trabalho em si, ir à origem, mas trabalhá-la de forma a que ela possa ter aceitação por parte de quem nos visita, mas também por parte dos residentes e dos utilizadores da restauração no seu todo”, complementa Manuel Serra, na ESGHT e investigador no Host Lab & CiTUR - Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em Turismo..Alexandra Gonçalves, diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo do Algarve, e Manuel Serra, docente na ESGHT e Investigador no Host Lab & CiTUR. FOTOS: Host Lab.O responsável avança que em 2018 já fora feito um outro projeto nesta área. “Fizemos um levantamento de 250 receitas da gastronomia tradicional do Algarve, conforme estão dispostas na literatura, e um levantamento de 230 e tal vinhos também do Algarve” - que deu origem ao site Maridar.pt, onde se aprende a “casar” os pratos algarvios com os melhores néctares dos deuses locais - “mas, desta vez quisemos ir mais longe”, afirma Manuel Serra..A ideia de criar um laboratório de cozinha era uma ambição que já vinha de longe, conta Alexandra Gonçalves, “desde a criação do curso de Gestão Hoteleira, que já tem 36 anos”. Por isso, “com os avisos do Programa Operacional CRESC Algarve 2020, criou-se uma oportunidade para ter aqui um espaço próprio onde pudéssemos fazer esta investigação e desenvolvimento, com a inovação alimentar”..Com o apoio de fundos europeus, que rondou os 600 mil euros, o Host Lab foi criado em 2021, com a participação do Instituto Superior de Engenharia na componente da investigação e desenvolvimento alimentar. Aparentemente, poderia dizer-se que foi em data aziaga, mas não: apesar da pandemia e do confinamento imposto, a equipa lançou mãos à obra e aproveitou para montar o laboratório-cozinha e iniciar a fase de testagens. Em julho 2022 era inaugurado já com novas iguarias a meio caminho de serem apresentadas..É no laboratório-cozinha do Host Lab que as investigadoras da equipa vão testando as novas iguarias criadas com base nos produtos autóctones da região. FOTO: Host Lab. “O que realmente nos diferencia é a equipa diversificada e multidisciplinar de profissionais que se unem para tornar este projeto uma realidade”, sublinha a diretora da Escola Superior, afirmação de que faz eco também Manuel Serra, salientando as várias valências existentes no seio da Universidade do Algarve e que aqui se puderam encontrar. E Alexandra Gonçalves descreve: no Host Lab há desde “engenheiras de alimentos a especialistas em hospitalidade, a nossa equipa é apaixonada por criar experiências inovadoras e sustentáveis que promovam o bem-estar e apoiem as economias locais.” Isto, porque, frisa, o que se está a criar “é uma cozinha que tem inovação no produto, mas que não tem em vista a estrela Michelin. O que nós queremos é inovar para o consumidor, ter capacidade de estar na restauração de forma abrangente. Portanto, é inovar e de forma apelativa”, afirma..Por isso, o Host Lab tem sempre feito, quer de forma digital, quer em tertúlias, quer em provas com consumidores, especialistas e empresários de restauração o sentimento dos potenciais consumidores e a receção tem sido positiva. Manuel Serra espera até que parte destas iguarias comecem a ser servidas dentro de ano e meio ou dois anos em alguns restaurantes..Queijo de cabrapara barrar e azeite também para barrar foram dois dos novos produtos já criados e testados em tertúlias e que, em princípio, dentro de ano e meio ou dois anos já poderão ser provados nos restaurantes da região. FOTO: Host Lab..E a revolução não se fica por aqui. A Universidade do Algarve está já de olho em novos produtos. Os próximos na calha poderão ser chouriço de ovelha churra - aproveitando uma raça autóctone da região algarvia - e aquilo que por lá chamam as “churritas, que é uma almôndega, no fundo, para entrar no circuito comercial”..Também o próprio Host Lab será objeto de inovação. Nos planos da diretora da Escola Superior está a criação de um segundo laboratório, “para potenciar não só o desenvolvimento de outros produtos, mas também a melhor disseminação” dos mesmo. Para isso, “a Universidade do Algarve está a preparar uma candidatura ao ALGARVE 2030 para a criação de um UAlg Tec Med, à semelhança daquilo que foi feito na área das tecnologias, e a tentar transformar um edifício, que era a antiga Casa do Reitor, para esse efeito”, diz Alexandra Gonçalves. “Estamos a falar de que volumes de financiamento que, posso dizer, são para cima de um milhão de euros.”