Moody's corta rating da Altice International e perspetiva passa a ser "negativa"

Descida do rating da empresa reflete em parte "o risco crescente de que a estrutura de capital possa tornar-se insustentável".
Patrick Drahi, fundador e principal acionista do grupo Altice. Gustavo Bom/Global Imagens
Patrick Drahi, fundador e principal acionista do grupo Altice. Gustavo Bom/Global Imagens
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A Moody's cortou o rating da Altice International, holding que agrega a Altice Portugal e as operações em Israel e República Dominicana e controla a empresa Teads, traçando um  outlook (perspetiva) "negativo" sobre o grupo de Patrick Drahi.

A agência de notação financeira norte-americana "desceu de B3 para Caa1 o rating de longo prazo da corporate family rating [empresa Altice International]", bem como a avaliação que mede a probabilidade de incumprimento da holding, de B3 para Caa1, de acordo com uma nota divulgada na terça-feira.

"Simultaneamente, a Moody's baixou de Caa2 para Caa3, as notações dos instrumentos de garantia sénior da Altice Finco S.A [veículo que tem servido para contrair empréstimos para o grupo de telecomunicações], e de B3 para Caa1 as notações dos instrumentos de garantia sénior e de contração de crédito bancário. O outlook de todas as entidades foi alterado de estável para negativo", lê-se.

A escala da Moody's é composta por 21 níveis, sendo que a recente revisão em baixa do rating da Altice International coloca a empresa num patamar especulativo que salienta haver "fracas condições" de estabilidade. A Altice International está a quatro níveis da avaliação mais baixa, a que afirma que a empresa entra em incumprimento das obrigações junto dos investidores.

O downgrade do rating de longo prazo da empresa reflete a "baixa liquidez e o risco crescente de que a estrutura de capital possa tornar-se insustentável, resultado de reiterados pagamentos aos acionistas e do aumento dos custos com [taxas] juros", segundo Ernesto Bisagno, vice-presidente da Moody's Investors Service e analista principal da Altice International, citado na nota da agência.

A Moody's realça que, "embora existam necessidades moderadas de refinanciamento no período 2025-2026, a empresa vai enfrentar um obstáculos ao refinanciamento em 2027-2028, o que, às taxas de financiamento atuais, exigiria uma melhoria significativa no perfil de ganhos da Altice International para que a sua estrutura de capital permanecesse sustentável". Para a Moody's, o acesso aos mercados de capitais "será provavelmente mais caro e potencialmente mais díficil no futuro", considerando que também a Altice France regista uma "deterioração da qualidade do crédito".

O que está na base desta leitura da agência? No primeiro trimestre, a Altice International pagou 390 milhões de euros em dividendos, "retirando um montante equivalente de instrumentos de crédito renováveis". O valor, prossegue a Moody's, segue "a política financeira da empresa de manter uma alavancagem líquida reportada no intervalo de 4,5 a 5 vezes" face o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA), mas "aumentou a sua dívida face ao EBITDA reportado para 5 vezes em março", o que equivale a "cerca de 7 vezes numa base ajustada pela Moody's, ou a 6,2 vezes excluindo o justo valor dos [produtos] derivados e as receitas do refinanciamento do empréstimo de 600 milhões de euros com vencimento no primeiro trimestre de 2025". É um "sinal" de que a empresa "está a dar prioridade à remuneração dos acionistas, à desalavancagem e ao reforço da liquidez". No entanto, pode não ser suficiente, segundo a Moody's.

No final do primeiro trimestre, a Altice International "tinha numa base pro-forma uma tesouraria de 324 milhões de euros (dos 600 milhões de euros com vencimento no primeiro trimestre de 2025), mais 128 milhões de euros (de 578 milhões de euros) de instrumentos de crédito renováveis com vencimento em fevereiro de 2027. "A disponibilidade sob instrumentos de crédito renováveis de apenas 128 milhões de euros é pequena face ao tamanho da empresa", lê-se.

Os próximos vencimentos da dívida incluem um empréstimo a prazo com garantia sénior de 189 milhões de dólares [cerca de 174 milhões de euros], contraído pela Altice Financing S.A., com vencimento no teceiro trimestre de 2025. Ora, a "empresa tem um obstáculo significativo ao refinanciamento a partir de 2027, ano em que a maior parte da dívida começa a vencer".

Por isso a Moody's traçou um outlook negativo, uma vez que ainda se regista uma "elevada alavancagem e falta de geração de free cash flow devido a uma combinação do custo dos juros a crescer e de pagamentos contínuos aos acionistas", o que "aumenta o risco da estrutura de capital se tornar insustentável".

A agência de notação refere, ainda, que a forma de melhorar o rating passa por "apresentar um desempenho operacional sólido, com um crescimento sustentável das receitas e do EBITDA, o que permitiria suportar taxas de juro mais elevada e conduziria a uma estrutura de capital mais sustentável". Todavia, a Moody's alerta que o rating da Altice International "poderá ser revisto em baixa se o risco de incumprimento aumentar ou se a avaliação sobre a recuperação num cenário de incumprimento se deteriorar ainda mais".

O corte no rating da Moodys surge pouco depois da apresentação de contas trimestrais da holding, que "apresentou um crescimento estável do EBITDA, devido ao desempenho mais forte em Portugal, que compensou parcialmente ganhos mais limitados em Israel e na República Dominicana. Contudo, a agência "espera que o free cash flow permaneça negativo devido ao aumento dos custos com juros e ao pagamento aos acionistas", sendo que, para além da elevada alavancagem, a holding continuará "a refletir a complexidade da estrutura do grupo".

A Altice Portugal, que integra a Altice International, apresentou receitas de 704 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, mais 0,6% em termos homólogos, e um EBITDA de 259 milhões de euros, mais 5,6% face a igual período de 2023.

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