O risco de estagflação - crise económica caracterizada por inflação alta permanente, desemprego a subir e recessão ou estagnação da atividade económica durante "vários anos" - é cada vez mais saliente em países como Portugal, Malta, Chipre, Eslovénia e Croácia comparativamente a outros da Europa, avisou a agência de ratings Moody's, esta terça-feira.
Se esse perigo se materializar, isso será "negativo" para o rating soberano, refere a agência que, recorde-se, foi a primeira a atirar a nota da dívida pública para um nível especulativo (ou "lixo"), ajudando a precipitar a bancarrota e o resgate da troika em 2011.
No novo estudo publicado esta terça, a Moody's alerta que "um cenário de estagflação é negativo para as notas das dívidas soberanas e este é agora mais provável na União Europeia (UE)", sendo que as "exposições a este risco variam consoante os países".
Entre os mais vulneráveis ou expostos e com piores "capacidades" políticas para enfrentar uma crise destas, aparecem, como referido, Portugal, Malta, Chipre, Eslovénia e Croácia.
Do lado oposto (menos expostos e politicamente mais capazes e avançados), estão países como Finlândia, Holanda, Dinamarca, Polónia e Irlanda, enumeram os avaliadores estrangeiros.
"A invasão da Ucrânia pela Rússia exacerbou as questões subjacentes relativas à procura e à oferta e empurrou a inflação para níveis nunca observados na UE desde meados da década de 1980", começam por aferir os analistas.
"Os soberanos [países] do sul da Europa parecem mais expostos a um cenário de estagflação, tendo em conta o crescimento económico mais fraco, maior exposição a uma inflação enraizada e capacidades políticas limitadas".
O que é estagflação?
Para a Moody's, estagflação define-se como "um período de vários anos em que a inflação permanece substancialmente mais alta do que nas últimas décadas, enquanto o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) permanece substancialmente mais baixo, em zero ou próximo de zero".
Num cenário destes, é de esperar que o desemprego possa começar a subir e que os salários sofram uma pressão negativa já que haverá menos postos de trabalho disponíveis e mais procura de emprego por parte das pessoas, sobretudo os mais jovens que, normalmente, são os primeiros a sentir o embate do desemprego.
Sul em apuros novamente?
O sul da Europa "está mais exposto a um cenário de estagflação". "Malta (A2 negativo), Chipre (Ba1 estável), Portugal (Baa2 estável), Eslovénia (A3 estável) e Croácia (Baa2 estável) são os mais vulneráveis porque são mais suscetíveis a que os aumentos transitórios de preços se tornarem permanentes e têm capacidades políticas relativamente baixas", diz a mesma empresa de ratings.
"Embora Itália (Baa3 estável), França (Aa2 estável) e Espanha (Baa1 estável) sejam menos vulneráveis à inflação, têm níveis de endividamento elevados, alta exposição a taxas de juro variáveis e montantes consideráveis em pagamentos de capital e juros durante os próximos 12 meses que aumentam os riscos", remata o estudo da Moody's.
Como se chega a um rating?
No caso desta empresa de notação financeira, os valores ou as notas do crédito público traduzem-se em patamares de rating medidos numa escala de 21 níveis que vão de Aaa, o melhor, até C, o pior, havendo estados intermédios entre os referidos patamares ditados pelas perspetivas (oulooks), que podem ser negativas, estáveis ou negativas.
A agência diz que "a estagflação, que se refere a uma economia que está a experimentar uma inflação rápida e níveis estagnados de crescimento do PIB, é negativa em termos de crédito e teria implicações para os quatro fatores na nossa metodologia de notação soberana".
Os quatro fatores sob escrutínio são "força económica", "força institucional e governativa", "força orçamental" e "suscetibilidade a eventos de risco".
(atualizado 20h00)