Belmiro de Azevedo deixa três filhos, Paulo de Azevedo, atual Co-CEO da Sonae, Maria Cláudia de Azevedo, presidente da Sonae Capital, e Nuno Miguel de Azevedo, que optou por não se ligar aos negócios da família.
Veja o artigo com As reações à morte de Belmiro
Nascido em Tuias, no Marco de Canaveses em 1938, era o mais velho de oito filhos. Filho de um carpinteiro e de uma costureira, aos 11 anos, mudou-se para o Porto, para continuar os estudos no Liceu Alexandre Herculano. Licenciou-se em Engenharia Química e começou a trabalhar na Efanor (Empresa Fabril do Norte), na Senhora da Hora, enquanto ainda estudava. Ingressou na SONAE - Sociedade Nacional de Estratificados, fundada por Afonso Pinto de Magalhães, em 1965. Dois anos depois, aos 27 anos, já era diretor-geral da Sonae, cujo controlo viria a assumir em 1974. O conflito com a família de Afonso Pinto de Magalhães pela posse da Sonae arrastou-se nos tribunais durante anos.
Se é verdade que não fundou a Sonae, nem por isso deixa de ser o seu líder histórico. Sob a sua gestão, a empresa passou de mera unidade industrial, a grupo global, com interesses na indústria, na distribuição (com os hiper e supermercados Continente), nas telecomunicações (fundou a Optimus que viria a dar origem à NOS, depois da fusão com a Zon), no retalho especializado (Worten, Sport Zone, Zippy, etc), no turismo (a cadeia SHotéis), nos centros comerciais e nas tecnologias e sistemas de informação entre outros. Fundou o jornal 'Público'.
Hoje, o grupo Sonae é, indiscutivelmente, o maior empregador em Portugal, com 50 mil trabalhadores, mas está presente em 90 países do mundo. Em 2016, o grupo faturou mais de 7,1 mil milhões de euros, mais 6% do que no ano anterior, com o investimento total a atingir quase 900 milhões de euros. A Efanor permanece como a holding de família do grupo, e que detém participações nas restantes empresas.
Foi em 2007 que Belmiro cedeu o seu lugar na presidência executiva da Sonae a Paulo Azevedo, o seu segundo filho, encarado como o seu sucessor natural, na medida em que era já, desde 2000, vice-presidente do grupo. Na altura, Paulo Azevedo prometeu uma "transição na continuidade", garantindo que, "seguir o exemplo do meu pai ao longo destes anos já é um desafio muito grande".
Permaneceu como chairman do grupo até 2015. Ao comemorar o 50º aniversário, em março de 2015, anuncia, retirou-se da vida ativa, anunciando que pretendia dedicar-se ao setor primário e à educação. Nesse almoço de despedida do grupo, garantiu que a sua primeira tarefa na Sonae “consistiu em destruir para voltar a construir”. A revolução começou quando, diz, com pouco mais de 25 anos e já diretor-geral, atirou “para a sucata metade do equipamento” que a empresa tinha e começou a preparar-se “para fazer o mesmo à filosofia de gestão”. Cinquenta anos volvidos, destacou, "uma empresa que estava praticamente falida prepara-se para ser efetivamente a maior e mais importante “long-living company” da história portuguesa, com vocação de perenidade, em ambiente aberto e com rigor, transparência e qualidade dos seus quadros". Deixou o filho Paulo Azevedo na presidência executiva do grupo, mas a partilhar o cargo com Ângelo Paupério.
Veja as fotos do percurso de Belmiro de Azevedo. São imagens do casamento, batizado da filha, na praia durante a juventude e muitas outras enquanto empresário
Na Sonae, Belmiro de Azevedo criou toda uma geração de novos empresários. Nomes como Carlos Moreira da Silva (BA Vidros), Pinto de Sousa (Ibersol) ou Jaime Teixeira (Orbutir), que passaram pelo grupo e que acabaram por promover soluções de management buy out dos respetivos negócios.
A OPA sobre a PT, lançada em fevereiro de 2006, foi assumida como "a maior operação" da sua vida. Um negócio hostil e que falhou, garantiu sempre, porque "o Governo deu instruções" para que a Caixa Geral de Depósitos votasse contra a OPA. Nunca deixou de apontar o dedo ao primeiro-ministro de então, José Sócrates, que acusava de se ter "portado mal", até porque o Estado, enquanto detentor de uma golden share, nunca deu indicações de se opor ao negócio. A acusação na "Operação Marquês" parece dar-lhe razão, indicando que Ricardo Salgado pagou seis milhões de euros a José Sócrates para se opor à OPA.
Liderou, durante anos, a lista dos mais ricos de Portugal, mas a crise financeira de 2008/2009 foi dura para a fortuna da família. Era, segundo a revista Forbes, o terceiro português mais rico de Portugal, com uma fortuna avaliada em mais de 1,3 mil milhões de euros, e ocupava a 1376ª posição entre as maiores fortunas do mundo.
Em comunicado, a Sonae destaca o "caráter empreendedor único" de Belmiro de Azevedo, que criou um "estilo único de liderança" que faz da Sonae uma "reconhecida escola de gestores em Portugal". Os colaboradores do grupo "prestam sentida homenagem ao Homem que dedicou a vida a criar um legado histórico ímpar no panorama empresarial" no país e comprometem-se a "tudo fazer para o perpetuar".
O velório do empresárioBelmiro de Azevedo realiza-se hoje na Paróquia de Cristo Rei, no Porto, a partir das 20:00, comunicou o Grupo Sonae em comunicado.
A missa de corpo presente decorrerá no mesmo local, na quinta-feira, às 16:00, seguida de uma cerimónia fúnebre reservada à família.