Motorola testa comunicações de banda larga na rede SIRESP

A empresa fornecedora da infraestrutura do SIRESP nega falhas nos incêndios e garante que a rede “respondeu exatamente como devia ter respondido
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A Motorola Solutions tem um projeto-piloto a decorrer em Portugal com vista à integração das redes de banda larga com as tradicionais comunicações por rádio usadas pela rede do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP). A decorrer desde a primavera, e com gestão da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna, este projeto-piloto prevê a criação de mais de 100 contas para que os utilizadores da rede SIRESP possam testar a nova aplicação Wave no telemóvel, permitindo pôr um smartphone a falar em broadcast, ou seja de um terminal para muitos, tal como acontece na atual tecnologia do SIRESP.

Autoridade Nacional da Proteção Civil, Polícia Judiciária, PSP, GNR e INEM são apenas alguns dos utilizadores do SIRESP que já testaram esta nova aplicação da Motorola que tem como objetivo “preparar a transição para a banda larga”. Ao Dinheiro Vivo, Hélder Santos, responsável da Motorola Solutions em Portugal, garantiu que esta transição no SIRESP “não teria de ser com base em redes móveis comerciais” já existentes. “O governo construiu uma rede TETRA de raiz para o SIRESP, podia também construir uma rede móvel nacional”.

Sobre o incêndio de Pedrogão Grande, que em junho provocou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, a Motorola Solutions, principal empresa fornecedora da infraestrutura do SIRESP, negou a existência de falhas tecnológicas no funcionamento deste sistema durante o e avultados prejuízos de milhões de euros na região. As falhas no funcionamento do SIRESP voltaram a repetir-se noutros grandes incêndios que atingiram Portugal este verão, como os de Mação, Abrantes, Vila Real e Covilhã.

“Tecnologicamente, a parte da infraestrutura da rede SIRESP respondeu exatamente como devia ter respondido, entrando em modo local. É assim que é suposto responder”, disse Hélder Santos, regional sales manager da Motorola Solutions em declarações ao Dinheiro Vivo, à margem da inauguração do novo Centro de Inovação da empresa, em Londres, sublinhando que “a fragilidade que a rede apresentou diz respeito às quebras nos circuitos” de transmissão, a cargo da Altice PT. “Uma rede de emergência e segurança deve eliminar os pontos de falha, tendo redundância para trabalhar caso haja quebra de uma das suas partes. Essa seria a melhoria que a rede SIRESP podia apresentar face ao que tem hoje em dia”, e que está já a ser estudada por um grupo de trabalho coordenado pela empresa SIRESP SA, com a participação da Altice PT, Motorola e do Ministério de Administração Interna.

Da mesma forma, a Motorola rejeitou qualquer outra limitação técnica ou responsabilidade na alegada falha da rede SIRESP, nomeadamente ao nível do funcionamento dos terminais ou de excesso de rádios no teatro de operações. “Em 2014 a Motorola vendeu cerca de 7.000 mil rádios à Associação Nacional de Proteção Civil e o contrato incluía várias sessões de formação pelo país fora. Todos os Comandos Distritais de Operações e Socorro tiveram formação. Mas isto não significa que todos os bombeiros tenham tido formação”, disse ainda Hélder Santos.

Na prática, cada corporação enviava um representante que estava presente nas sessões de formação e depois tinha a responsabilidade de dar formação à sua equipa. “Não consigo dizer-lhe se houve ou não houve esta formação. A utilização do rádio é intuitiva mas as pessoas que tiveram formação conseguem tirar melhor partido da rede”, disse o responsável remetendo para o relatório já divulgado pelo próprio SIRESP a informação sobre “quantas chamadas foram feitas, quantas passaram com sucesso e quantas foram negadas por congestão da rede, quantos terminais estavam no teatro de operações e quantos grupos de conversação estavam ativos”.

De acordo com o relatório já tornado público no portal do Governo, "mais de um milhão e 100 mil chamadas" foram "processadas em cinco dias contados desde o início do incêndio, através de 3301 terminais". No período crítico do incêndio, entre as 19h de dia 17 de junho e as 9h de dia 18, foram realizadas "mais de 100 mil chamadas", processadas através de 1092 terminais. Os responsáveis pelo SIRESP alegaram assim que "não houve interrupção no funcionamento da rede" nem "houve nenhuma estação base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio" em Pedrógão Grande. Além dos 7000 terminais rádio vendidos em 2014, a Motorola já forneceu entretanto mais 300 terminais ao Ministério da Defesa e cerca de 1000 ao Ministério da Justiça. No total, há pelo menos quatro marcas a fornecer terminais à rede SIRESP – Motorola, Sepura, EADS e Hytera.

“Todas as ações dos equipamentos Motorola naqueles dias [do incêndio de Pedrogão Grande] ficaram registadas e foram analisados pela Motorola e pelo SIRESP”, confirma o mesmo responsável, sublinhando: “Existe uma comissão no parlamento que está a apurar se houve ou não problemas na rede e o que é que falhou”. Hélder Simões Santos garante, no entanto, que a comissão parlamentar ainda não solicitou qualquer informação à Motorola Solutions. Com a divulgação de um novo relatório prevista já para o início de outubro, a Comissão Técnica Independente (CTI) parlamentar tem um mandato de três meses para avaliar o que aconteceu nos incêndios que ocorreram em Pedrogão Grande, Castanheira de Pêra, Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã entre 17 e 24 de Junho de 2017.

De acordo com o Público, os cerca de 7000 equipamentos (terminais rádio e respetivos acessórios) vendidos pela Motorola ao SIRESP em 2014 ascenderam a um valor de contrato na ordem dos 2,888 milhões de euros, tendo a empresa já arrecadado 4,43 milhões (valores sem IVA) com entidades públicas desde 2008.

A jornalista viajou a convite da Motorola Solutions

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