Chama-se MSC Virtuosa e é o mais recente navio turístico da MSC Cruzeiros a ser batizado (ou nomeado, como também é designada a cerimónia para não ferir suscetibilidades religiosas) pela diva italiana Sophia Loren. O evento, que juntou centenas de pessoas no Dubai, assinalou o segundo investimento que a empresa do grupo de origem italiana MSC pôs nos oceanos este ano, numa estratégia assente na confiança de que o negócio dos cruzeiros irá retomar a elevada e crescente procura que vinha a assistir até ao deflagrar da pandemia. O novo navio juntou-se à frota de quase duas dezenas de embarcações turísticas da MSC, sendo que até 2025 mais oito serão lançados ao mar. O custo unitário anda entre os 700 e os 1200 milhões de euros e está a ser suportado na sua generalidade pela atividade do transporte marítimo de contentores, onde o grupo MSC acaba de se tornar líder mundial.
O MSC Virtuosa está agora a cruzar o Golfo Pérsico, num programa que se entende do Dubai, a Abu Dhabi e ao Qatar, entre outras escalas, e que estará em operação até meados de março. Com os seus 19 decks e capacidade para transportar até 6334 passageiros e 1704 tripulantes, o navio tem ao dispor dos passageiros dez restaurantes, 21 bares e lounges, cinco piscinas, spa e centro fitness, parque aquático, kids club, teatro com 945 lugares onde todas as noites há espetáculos ao vivo, a maior área comercial no mar, com mais de mil metros quadrados distribuídos por 11 lojas, entre várias outras comodidades. Uma das novidades desta embarcação é integrar na sua tripulação o primeiro robô bartender do mundo, o Rob.
Este novo navio entrou em operação em março, mas devido à pandemia só agora foi oficialmente batizado. Também neste quase final de ano, a empresa de cruzeiros líder na Europa, América do Sul e África do Sul, celebrou a saída para os mares do MSC Seashore, que está agora a oferecer circuitos de oito dias nas Caraíbas ocidentais e orientais. Cada uma destas embarcações implicou um investimento entre mil e 1200 milhões de euros, revelou Eduardo Cabrita, diretor geral da MSC Cruzeiros em Portugal.
A companhia, que responde agora por uma frota de 19 unidades, foi a primeira grande operadora mundial a enfrentar o vírus da covid-19, tendo iniciado operações em agosto do ano passado. E paulatinamente foi colocando os navios em operação, com limites de ocupação a rondar os 60% de forma a cumprir com o protocolo de saúde e segurança - nesta matéria, muitas das regras sanitárias implementadas pela MSC foram adotados pela Cruise Lines International Association (em português, Associação Internacional de Companhias de Cruzeiros), transportadoras aéreas e aeroportos.
Como explicou Eduardo Cabrita, a MSC recomeçou a operação em agosto de 2020 procurando dar "um sinal ao setor" e segurar "a cadeia de valor que estava totalmente disruptiva", após a paragem forçada em março. "Muitos fornecedores podiam desaparecer" e a companhia viu-se na necessidade de manter a cadeia, muito assente em Itália, país de origem de Gianluigi Aponte, fundador e presidente executivo do grupo. Era também necessário testar o protocolo de segurança sanitária e assegurar emprego aos tripulantes. O ano de 2020 foi totalmente atípico e em 2021 os números também estão longe da época pré-pandémica, apesar de no verão a MSC ter colocado 13 navios em atividade.
Mas o grupo está confiante no negócio. Já na primavera de 2022 quer colocar toda a frota no ativo e estima atingir níveis de receitas muito próximos de 2019 - o melhor ano de sempre da indústria dos cruzeiros, quando foram transportados cerca de 30 milhões de passageiros, mais 1,5 milhões face a 2018. Para Portugal, os planos não são diferentes. A subsidiária portuguesa do grupo registou 35901 passageiros em 2019, um aumento de 20,7% e, neste ano, porque 2020 não tem expressão, com um cruzeiro que entre setembro e novembro teve o porto de Lisboa como local de partida e chegada, assistiu à "agradável surpresa de em todas as partidas verificar uma média de mil passageiros". Como disse Eduardo Cabrita, "os portugueses já queriam fazer férias e nada como um cruzeiro à porta de casa, com uma imagem muito forte de segurança". Se não houver surpresas, 2022 promete ser "um bom ano".
Para já, e sem esmorecer face às incertezas das novas variantes da covid que vão surgindo, a MSC Cruzeiros tem este inverno dois navios a cruzar o Mediterrâneo, quatro entre os mares das Caraíbas e Antilhas, um na África do Sul, o já referido MSC Virtuosa no Golfo Pérsico e, contra ventos e marés, lançou dois novos itinerários - Norte da Europa e Arábia Saudita & Mar Vermelho. As medidas para enfrentar a crise também foram reforçadas e agora só embarcam os passageiros que comprovem que foram vacinados e que façam teste à covid antes de subir a bordo.
Negócio de futuro
O grupo MSC tem atualmente contratada a entrega de oito navios até 2025, quatro para a marca mainstream MSC e quatro para a Explora Journeys, a aposta no segmento ultra luxo da família Aponte. Segundo Eduardo Cabrita, este é um processo que demora em média seis anos - são cerca de dois anos e meio a três para projetar o navio e o restante é o tempo necessário para a construção. O setor tem ainda que ganhar slots num dos 16 estaleiros especializados nesta área, todos na Europa. "Este know-how tão específico só existe na Europa, a produção está limitada, o que é uma chave para o negócio porque, de outra forma, a concorrência seria muito mais forte", sublinhou Eduardo Cabrita. Com base nos indicadores da oferta e da procura, a MSC Cruzeiros projetou ainda antes da pandemia o crescimento da sua capacidade para os próximos anos. E, apesar do embate da crise sanitária, mantém os planos.
"A companhia acredita que o setor dos cruzeiros tem ainda muito para crescer", frisa. É um produto que ainda só "representa 2% do tipo de férias que as pessoas escolhem" e cujo grande concorrente são os resorts. E o grupo está disposto a gastar milhões. Se os navios sob a bandeira MSC têm um custo unitário de mil a 1200 milhões, os que vão abraçar a marca Explora Journeys representam um investimento de 700 a 800 milhões. O primeiro navio do segmento ultra luxo, onde a estratégia passa por mais espaço e maior atenção ao cliente - o rácio será 1,2 tripulantes por cada passageiro -, deverá deixar o estaleiro em 2023, e depois todos os anos um novo será lançado ao mar até 2025. Contas feitas, e de forma conservadora, o grupo vai desembolsar 6800 milhões neste plano de reforço de capacidade e de aposta em novos públicos. E talvez não fique por aqui. O objetivo é subir um degrau e tornar-se num espaço de uma década o segundo maior grupo de cruzeiros do mundo, atualmente ocupado pelo Royal Caribbean. A liderança da indústria cabe ao Carnival Cruise.
A apoiar todo este crescimento está a MSC Carga. Como frisa Eduardo Cabrita, a MSC Cruzeiros "é a única grande companhia mundial que não está em bolsa. O nosso banco e bolsa é o transporte marítimo de contentores". Um apoio de envergadura, tendo em conta que há poucos dias a consultora Linerlytica revelou que a liderança mundial da Maersk tinha terminado. Segundo os dados divulgados, a MSC opera 633 navios, num total de 4 239 668 TEU (capacidade de carga de um contentor), enquanto a Maersk tem 729 embarcações e 4 234 302 TEU. Para o futuro, a Maersk tem contratados 25 navios, com uma capacidade agregada de 255 mil TEU e a MCS responde por 58 encomendas, totalizando 993 mil TEU.
Por detrás deste império marítimo está Gianluigi Aponte. Natural de Sorrento, Itália, formou-se no Istituto Nautico di Piano na terra natal e iniciou uma carreira de comandante na empresa de navegação da família, que operava uma frota de barcos à vela e depois a motor no Mediterrâneo - hoje de ferries na baía de Nápoles. Mais tarde passou pelo setor bancário, que acabou por abandonar para fundar em 1970 a Mediterranean Shipping Company (MSC), em Bruxelas. Aponte arrancou com o negócio de carga marítima com um único navio, o MSC Patricia, e ao longo dos anos foi construindo uma frota com base na sua premissa "Onde o cliente vai, a MSC vai", que acaba de a levar à liderança mundial do setor. Entretanto, mudou-se para Genebra, na Suíça, onde instalou a sede do grupo. Em 1988, dá os primeiros passos na indústria dos cruzeiros com a compra da italiana Starlauro.