MTSSS. Atrasos no apoio à retoma só afetam pedidos que não batem certo com dados do fisco

Ministra Ana Mendes Godinho não se compromete com antecipação dos apoios pedida por Provedora de Justiça antes de resolvidas "desconformidades".
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A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, justificou a demora em mais de cinco meses nalguns pagamentos do apoio à retoma progressiva com a necessidade de garantir "rigor" na atribuição dos apoios quando as quebras de faturação declaradas pelas empresas não batem certo com os dados declarados à Autoridade Tributária.

"Estas medidas têm de ser aplicadas com rigor, garantindo que são aplicadas também na salvaguarda da boa aplicação dos recursos públicos", defendeu Ana Mendes Godinho em resposta a Ofélia Ramos, deputada do PSD, que recordou os apelos da Provedora de Justiça, em março e já em maio, sobre esta matéria.

Num ofício dirigido à Segurança Social em março, o Provedor de Justiça adjunto, Joaquim Costa, denunciou pela primeira vez as demoras em pedido feitos em dezembro, e que aguardavam desde então pelos apoios. Já neste mês, o gabinete da Provedora de Justiça retomou a mensagem verificando que a situação não estava ultrapassada.

"O problema abrange os casos em que foi identificada, ainda em 2020, uma disparidade entre a percentagem de quebra de faturação indicada pelos requerentes e a registada na AT. Apesar de as empresas terem sido notificadas para devolver os apoios em questão e terem corrigido os requerimentos, continuam à espera da decisão de todos os pedidos subsequentes, que se encontram dependentes de nova validação pela AT", referia.

Na nova comunicação, a Provedora de Justiça sugeriu o pagamento "de todos os apoios relativos a 2021, sem prejuízo de posterior confirmação da quebra de faturação indicada, com vista a evitar consequências mais graves no plano da solvabilidade das empresas e da manutenção dos contratos de trabalho".

A ministra do Trabalho, contudo, não respondeu a este apelo da Provedora, mantendo hoje em audição na Comissão parlamentar de Trabalho e Segurança Social que a "preocupação total tem sido garantir que estas medidas são aplicadas sempre que tenhamos a garantia do cumprimento de todos os requisitos".

O que sucedeu nestes casos, segundo Mendes Godinho, é que houve um primeiro pagamento, com subsequente suspensão do apoio uma vez detetadas as desconformidades na quebra declarada de faturação declarada no cruzamento de dados com o fisco.

Por outro lado, disse, "todas as empresas que têm a sua situação completamente conforme, em que não é gerada uma desconformidade entre a informação declarada à Segurança Social e a informação que a AT disponibiliza no seu cruzamento de dados, relativamente a essas empresas os apoios estão a ser pagos a 10 dias".

"Não estamos a falar das empresas em que não há problemas. É bom que saibamos do que estamos a falar", disse ainda mais à frente na audição.

Em dados globais atualizados nesta quarta-feira, Ana Mendes Godinho deu conta de que, nos quatro primeiros meses deste ano, os apoios extraordinários à manutenção do emprego - incluindo apoio à retoma, lay-off simplificado e incentivo extraordinário à normalização de atividade - implicaram custos de 2,7 mil milhões de euros, abrangendo 1037 milhões de trabalhadores e 128 mil empresas.

O ritmo de recurso a estes apoios estará no entanto já a abrandar, com uma quebra em 55% no volume mensal dos apoios pagos em abril, para 157,9 milhões de euros, segundo indicam dados preliminares de execução orçamental avançados já pelo Ministério das Finanças, e que serão hoje integralmente conhecidos.

Já sobre as medidas de apoio à contratação, a ministra avançou que o programa Ativar.pt vai ser reforçado com uma dotação adicional de 40 milhões de euros face aos 100 milhões previstos para a medida neste ano. O reforço será feito nesta semana, indicou.

Nos apoios ao rendimento, Ana Mendes Godinho tornou também a dar conta de valores acumulados. Os apoios ao rendimento de trabalhadores terão chegado em quatro meses a 239 mil pessoas num custo de 209 milhões de euros.

O deputado José Soeiro, do Bloco de Esquerda, questionou a ministra sobre a execução mensal das medidas e número de trabalhadores apoiados em cada medida, bem como valores médios concedidos, após alterações aprovadas pelo parlamento no apoio à redução de atividade dos trabalhadores independentes que o governo remeteu ao Tribunal Constitucional. Contudo, a ministra disse não ter os dados disponíveis, prometendo entregá-los mais tarde.

Na globalidade, Ana Mendes Godinho deu conta de um valor de 1300 milhões de euros gastos em medidas extraordinárias neste ano, correspondendo a 64% do total pago em 2020 na resposta à Covid-19.

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