Mulheres na tecnologia continuam a sentir-se mal pagas e pouco representadas

Relatório global sobre mulheres na tecnologia, da Web Summit, aponta para uma elevada percentagem de profissionais (50,8%) que relataram ter experienciado sexismo no local de trabalho. Afinal, pouco mudou nos últimos anos, conclui-se.
Mulheres na tecnologia continuam a sentir-se mal pagas e pouco representadas
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Pouco mudou nos últimos anos para que as mulheres na tecnologia sintam menor desigualdade de género no seu local de trabalho. Por um lado, as mulheres queixam-se de dificuldades no acesso a cargos de topo - ainda que se sintam capacitadas para liderar - e sentem um desequilíbrio grande nos ordenados em comparação com os homens; e, por outro, relatam que estão mais pressionadas a conciliar a vida familiar com o trabalho e que têm de se esforçar mais do que eles, injustamente, para serem reconhecidas. Estas são conclusões do relatório global sobre mulheres na tecnologia, da Web Summit, lançado esta terça-feira, e que denotam que ainda há muito trabalho a fazer para esbater estas diferenças.

“Porque é que temos 1.000 startups fundadas por mulheres a juntar-se a nós na Web Summit este ano, e porque é que esse número continua a crescer? Esta é a questão que me ocorre quando vejo os resultados do relatório [Mulheres na Tecnologia da Web Summit 2024] que mostram que as mulheres ainda enfrentam os mesmos desafios”, explica em comunicado Carolyn Quinlan, vice-presidente de Comunidade na Web Summit. “É frustrante que questões como sexismo, pagamento injusto, síndrome do impostor e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal continuem a aparecer – muitas vezes parece que estamos presos nas mesmas conversas. No entanto, não consigo deixar de me sentir esperançosa. Mais mulheres estão a avançar, a liderar e a trazer as suas startups para eventos como a Web Summit”, explica.

Desafios pouco mudaram nos últimos anos

Vamos por partes, em relação aos números de que fala Carolyn Quinlan sobre o relatório Mulheres na Tecnologia da Web Summit 2024, realizado este verão a mais de mil inquiridas (entre 18 e 74 anos, mas com maior incidência na faixa dos 35 aos 44 anos), entre aquelas que aderiram ao programa da Web Summit de mulheres na tecnologia nos últimos anos.

Refletindo a tendência global das startups lideradas por mulheres, que enfrentam dificuldades em garantir capital de risco, quase um terço (29,6%) das inquiridas referiu o financiamento como um grande obstáculo ao arranque de um negócio. Esta lacuna, agrava-se ainda mais quando conjugada com relatos de escassez de modelos femininos, a síndrome do impostor, a falta de redes de apoio e as dificuldades no financiamento como os maiores desafios que estas mulheres enfrentam.

E se falarmos da ascensão na carreira, as coisas não são mais fáceis, a avaliar pela falta de mulheres em cargos de liderança. Apesar dos desafios, perto de 76% das entrevistadas sentem-se capacitadas para ocupar ou candidatar-se a uma posição de topo. "Mais de 80% das inquiridas afirmaram que existe uma mulher em cargos de gestão sénior na sua empresa, com 68,2% a relatar que uma mulher ocupa uma posição de nível C", cita o estudo. Acontece que uma percentagem ainda substancial (50,8%) das mulheres já experienciou ou está a experienciar sexismo no local de trabalho. Este é um número que pouco mudou nos últimos anos.

No que toca aos salários e às condições de trabalho, o cenário não é mais otimista. Quase 51% das mulheres inquiridas dizem sentir que "são injustamente compensadas em comparação com os homens. Conciliar carreira e vida familiar é um desafio crescente, com o sexismo no local de trabalho ainda a ser uma realidade para a maioria". Uma das participantes, destaca o estudo, considera que "sem um apoio eficaz para os tomar conta das crianças, torna-se mais difícil para as mulheres que também querem ter uma família participarem plenamente no mercado de trabalho".

Mais 7% do que no ano passado, quase metade (49,1%) das mulheres na tecnologia diz sentir-se pressionada a escolher entre família e carreira. E "mais de 75% das entrevistadas reconheceram sentir a necessidade de trabalhar mais arduamente do que os seus colegas homens, uma tendência que tem permanecido estável ao longo do tempo". Uma frase que ouvimos muitas vezes ser dita, também aqui é repetida por uma das entrevistadas: "Ser mulher num ambiente predominantemente masculino significa ter de provar as suas capacidades duas vezes mais, enfrentando desafios adicionais para ser reconhecida e valorizada."

Melhorias e debate público

Como nem tudo é negativo, o relatório destaca na sua introdução alguns avanços em relação à edição publicada no ano passado: "Algumas das melhorias notáveis desde o nosso último relatório incluem um aumento de 10% no número de entrevistadas que acreditam que o seu local de trabalho está a tomar medidas adequadas para combater a desigualdade. Além disso, mais mulheres sentem que a indústria tecnológica em geral está a tratar adequadamente as questões de desigualdade, embora isso ainda represente apenas 44% das inquiridas."

"Também há otimismo quanto à capacidade da IA ​​de promover mudanças positivas, com mais de 68% das entrevistadas a considerarem benéfico o seu impacto na igualdade de género", apontam os promotores do estudo.

Questões como a igualdade de género e o acesso das mulheres empreendedoras ao mundo dos negócios e à tecnologia estiveram desde sempre presentes nas edições da Web Summit. "Conhecida como o evento onde o mundo da tecnologia se encontra, a Web Summit procura gerar debates que nos ajudem a entender e a abordar estas questões permanentes", pode ler-se no mesmo comunicado, onde Carolyn Quinlan, vice-presidente de Comunidade na Web Summit enfatiza a importância das mulheres neste grande evento tecnológico. “Desde 2021, a Web Summit tem mantido uma quase paridade na proporção de participantes, e o aumento da participação feminina e das startups fundadas por mulheres dá-me esperança de que possamos continuar a avançar nessas conversas e criar um futuro onde a tecnologia seja um espaço para todos, e não apenas um clube de rapazes.”

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