O Tsu Chu ou Cuju é, muito provavelmente, a origem mais remota do que é hoje o futebol. Este jogo, que implicava uma bola e habilidade de pés, surgiu na China algures entre os séculos II e III aC. Pedro e João Presas, dois empreendedores portugueses, viajaram no tempo e associaram o Cuju à democratização em curso das transmissões televisivas de futebol.
Em 2014, criaram a MyCujoo, designação que alia a origem do futebol ao próprio jogo, com os “oo” a procurar recordar bolas de futebol. A MyCujoo é uma plataforma de transmissão de jogos de futebol, com sede em Amesterdão, Holanda, e que acaba de abrir um escritório em Lisboa. A ambição desta startup é grande. Sem papas na língua quer ser a maior plataforma do mundo de futebol e democratizar o acesso ao jogo rei.
Pedro Presa, boavisteiro de coração, é o ideólogo desta startup. A viver, então, na Suíça e sem solução para visionar os jogos do seu clube de eleição, Pedro Presa decidiu criar uma plataforma que permitisse transmitir as competições semiprofissionais e amadoras que não captavam o interesse dos canais televisivos. Pedro Presa viu essas transmissões como uma oportunidade de negócio e pôs mãos à obra. Afinal, há cerca de quatro milhões de clubes no mundo, 400 milhões de jogadores e só 10% deste universo tem exposição televisiva. Havia, portanto, um nicho de mercado, com milhões de adeptos, a explorar.
Pedro chamou o irmão João, na altura, a viver na Noruega, e na sala de estar desenharam o projeto. Pouco depois e com o apoio de um investidor suíço arrancaram com o desenvolvimento da plataforma. Isto foi entre 2014 e 2015. A empresa decide pouco depois instalar-se em Amesterdão que oferecia uma série de apoios e incentivos às startups. O projeto começou devagar, com três clubes a associarem-se à MyCujoo. Hoje, o plano de negócios é ambicioso e já comportou a abertura de um escritório em Lisboa, que está a ser dirigido pelo terceiro irmão Presa, Ricardo Presa.
De Zurique para os EUA
O primeiro parceiro a associar-se à MyCujoo foi a equipa sénior do FC Zurich Frauen e logo depois chegaram os jogos da I Divisão de futebol feminino da Dinamarca. O ano de arranque (2015) fechou com 30 clubes, de quatro países europeus, a transmitir um total de 90 jogos em direto via MyCujoo. Ricardo Presa sublinhou que este mercado “não tinha qualquer exposição televisiva”. O crescimento foi rápido e as perspetivas para o futuro são de forte aceleramento.
Como adiantou Ricardo Presa, a plataforma da MyCujoo foi desenvolvida internamente por uma equipa de técnicos da startup com o objetivo de fazer apenas a distribuição dos jogos. “Não fazemos produção, só distribuição, e oferecemos a tecnologia” para a integração do direto na plataforma, sublinhou. A filmagem está a cargo dos clubes e a MyCujoo disponibiliza um estúdio online, que permite inserir gráficos, marcadores, tempo de jogo e outras funcionalidades.
O acesso à plataforma e o visionamento de jogos são totalmente gratuitos. Cada parceiro ou clube de futebol pode ter, assim, o seu próprio canal de televisão na MyCujoo.
A startup quis facilitar todo o processo de filmagem. De acordo com Ricardo Presa, a empresa desenvolveu uma aplicação para Android e iOS que permite filmar e transmitir um jogo de futebol utilizando apenas uma câmara ou um telemóvel, um computador portátil, cartão 4G (para acesso à internet), um tripé e um adaptador. Esta inovação teve em conta que 60% a 65% dos utilizadores da plataforma assistem aos jogos no telemóvel.
No ano passado, a MyCujoo transmitiu 4400 jogos em direto, de 2250 clubes, de 62 países. Segundo Ricardo Presa, a plataforma registou um milhão de espetadores por mês. Tudo através das mais de 600 televisões sediadas na plataforma digital. Para este ano, a previsão é transmitir 16 mil jogos, de clubes de 65 países e garantir três milhões de espectadores por mês.
A alavancar este crescimento, a MyCujoo assinou, no mês passado, um contrato com a liga amadora norte-americana United Premier Soccer League, com 130 clubes associados. Esta parceria soma--se a muitas outras já concretizadas, um pouco por todo o mundo, como a realizada com a Confederação Asiática de Futebol ou com dez federações estaduais de futebol do Brasil, e previstas para breve, como a Oceania Football Confederation. Para acompanhar este crescimento, a startup abriu escritórios de apoio em Singapura e em São Paulo, no Brasil.
Crescer em Portugal
A MyCujoo está a crescer também em Portugal e, por isso, acaba de apostar na abertura de um escritório em Lisboa, onde trabalham atualmente quatro pessoas. O objetivo é dar apoio operacional à sede e ter até ao final deste ano um quadro com 20 colaboradores. Afinal, a plataforma digital tem já 98 televisões ativas em Portugal. Como referiu Ricardo Presa, clubes como o SC Braga, CD Nacional, GS Carcavelos, CD Olivais e Moscavide, FC Alverca, GD Vilar de Perdizes, SC Maria da Fonte, entre muitos outros, quase cem, já transmitem os seus jogos via MyCujoo. “Estes clubes veem as transmissões como um passo em frente e uma ligação lógica aos seus planos de crescimento, inovação e expansão”, afirmou.
Nestes anos iniciais, a startup tem sido alvo de constantes investimentos, que começaram agora a dar resultados. Ricardo Presa escusou-se a adiantar valores globais, frisando que a empresa tem estado centrada no desenvolvimento da tecnologia e dos conteúdos. Ainda assim, revelou que, este mês, um investidor suíço aplicou 4,3 milhões de francos suíços (ou perto de 3,7 milhões de euros) na empresa.
A MyCujoo vai agora focar-se na área comercial. A ideia é garantir publicidade e patrocínios para rentabilizar a plataforma. Este ano, a estimativa de receitas aponta para 2,8 milhões de euros.