Até a Roménia já faz brilharetes ao nível da criação de riqueza (produto interno bruto) entre os países europeus. Portugal está a ficar, de novo, para trás e a economia será, sem sombra de dúvida, o grande desafio do novo executivo liderado por António Costa. Sanada a crise política e na posse de uma maioria absoluta clara, está na hora de enfrentar o touro de frente.
Nos mercados financeiros, o touro representa o otimismo e a força dos investidores e é disso mesmo que o país vai precisar para enfrentar os próximos quatro anos e meio de legislatura. Em primeiro lugar, este governo tem de saber ouvir e dar sinais positivos ao touro, o mesmo que representa os privados e pode colocar o mercado em ascensão. O touro usa os cornos para lançar a vítima para o alto e faz um ataque de baixo para cima. Comece-se então de baixo para cima, olhando as debilidades estruturais da nação.
Começando pela própria modernização e digitalização da administração pública e a reforma da justiça até ao reforço do slogan das contas públicas certas.
O novo programa de governo foi entregue ontem à Assembleia da República, que o discutirá na próxima semana nos dias 7 e 8 de abril, mas deverá carecer de variadíssimos ajustamentos. Desde que António Costa gizou o programa, bem como o próprio documento do Orçamento do Estado (que exibiu nas televisões num dos debates com Rui Rio antes das eleições legislativas), o mundo mudou e muito. A inflação disparou e em março chegou aos 5,3% segundo o Instituto Nacional de Estatística, eclodiu uma guerra na Europa, os combustíveis subiram em flecha bem como o preço de muitas outras matérias-primas.
Novos apoios a famílias e empresas tiveram de ser pensados, o consumo privado deverá encolher e o crescimento do país poderá ser mais tímido do que o previsto. Estes são apenas três dos sinais que irão colocar uma forte pressão sobre as contas públicas.
A somar a tudo isto, há uma grande pressão para uma descida de impostos - individuais e coletivos -, tema que a esquerda não deverá deixar cair nas sessões animadas que se avizinham no parlamento, com a direita a reclamar mais protagonismo até 2026.
É preciso ter visão, ousadia e grande execução dos fundos europeus, nomeadamente dos milhões da bazuca, para não desbaratar esta oportunidade num contexto de tormentas. Não deixemos que o Adamastor consiga engolir o touro!