“Não é necessária mais intervenção do Estado na mobilidade elétrica”

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Pedro Morais Leitão, CEO da Prio, garante que a mobilidade elétrica já é um negócio para a empresa. Em 2019, representará receitas de 200 mil euros. Em 2020, pretende faturar um milhão de euros nesta área.

Com apenas 14 anos de atividade, a Prio tem enfrentado várias mudanças no setor dos combustíveis e investido forte na mobilidade elétrica e nos biocombustíveis. Pedro Morais Leitão, CEO da empresa 100% portuguesa, não tem dúvidas do caminho traçado. “A Prio iniciou a sua atividade em 2006, focada na produção de biocombustíveis. Foram as resistências à adoção deste produto, benéfico para o ambiente, que a forçou a entrar nos combustíveis. Olhando para trás, diria que existe cada vez mais o sentimento de urgência relativamente ao tema das alterações climáticas e a necessidade de as combatermos, como, por exemplo, através de energias renováveis e aposta em soluções energéticas mais eficientes.”

Segundo o responsável, a carga fiscal sobre os combustíveis em Portugal é “extremamente pesada”.

Mas, “com a criação do regime do gasóleo profissional, em 2017, este governo deu um passo importante para minorar o impacto da carga fiscal sobre os combustíveis na competitividade da economia portuguesa”, defende. E acrescenta. “Acreditamos que este regime tem dado bons resultados, e que poderá ser alargado de maneira a incentivar a utilização de biocombustíveis. Os veículos pesados são responsáveis por uma parte importante do consumo de combustíveis, e, portanto, por uma parte igualmente importante da emissão de gases com efeito de estufa. Adicionalmente, estão preparados para um nível mais alto de incorporação de biocombustíveis do que os veículos ligeiros, pelo que incentivá-los a utilizar mais biocombustíveis terá efeitos importantes na redução das emissões”, afirma.

Pedro Morais Leitão acredita que os “planos para a energia são cada vez mais desenhados em Bruxelas, através das diretivas europeias”. E estas são, normalmente, “resultado de muita ponderação sobre os objetivos globais a nível europeu e as posições individuais de cada Estado membro”, garante. “Os nossos governos só têm de conhecer bem as especificidades do nosso mercado para assegurar que o progresso no caminho europeu não se traduz num retrocesso no caminho português. A segunda Diretiva Europeia para as Energias Renováveis, cuja transposição será feita ao longo de 2020, apresenta alguns riscos de retrocesso, particularmente no que respeita aos biocombustíveis”, explica o CEO da Prio.

Energias de mobilidade

“A Prio é uma empresa de energias do futuro para a mobilidade. Este posicionamento leva-a a que se foque nos biocombustíveis avançados e sustentáveis, mobilidade elétrica, GPL, entre outros produtos, incluindo combustíveis fósseis”, enquadra. “Queremos ser parte da solução para o problema das alterações climáticas e contribuir ativamente para a transição energética e para a descarbonização, e temos dado passos relevantes para isso. Infelizmente, e como referi, sentimos que tem havido diversos entraves externos a um progresso ainda mais rápido em direção a esse objetivo”, adianta Pedro Morais Leitão, garantindo que, na próxima década, a Prio continuará a investir “nos biocombustíveis, no carregamento elétrico e na geração fotovoltaica”. Porquê? “Acreditamos que estes serão os três principais fatores para a transição energética em Portugal”, afirma. A mobilidade elétrica, de resto, foi uma aposta feita pela empresa ainda antes de esta ser um negócio. Atualmente já será? “A Prio prevê ter receitas de 200 mil euros na mobilidade elétrica, em 2019, e gostaria de ultrapassar a faturação de 1 milhão de euros em 2020. Por isso, vê a mobilidade elétrica claramente como um negócio.

Infelizmente, ainda é um negócio com muita incerteza tecnológica e regulatória, o que dificulta as projeções de investimentos a longo prazo”, lamenta a mesma fonte.

Por outro lado, poderá a produção de energia elétrica, através de fonte renovável, tornar-se uma área de negócio para a empresa? “A Prio já produz energia fotovoltaica em 60 postos, em regime de autoconsumo. Estamos a considerar um investimento para produzir eletricidade para autoconsumo pela nossa fábrica de biodiesel em Aveiro e estamos a acompanhar, com atenção, o leilão de energias renováveis lançado neste mês de julho pelo governo português”, conta.

O governo tem um discurso muito positivo relativamente à mobilidade elétrica. Mas será que os atos acompanham as palavras? “Na frente da mobilidade elétrica, acreditamos que chegou a altura de as marcas de automóveis apresentarem a sua oferta de veículos elétricos para o mercado de massas. Se essa oferta aparecer, haverá massa crítica no carregamento elétrico que permitirá o investimento necessário. Acreditamos que não é necessária mais intervenção do Estado”, sublinha o CEO da Prio, que não fecha a porta a uma internacionalização da atividade da empresa. “A Prio tem alguns projetos em análise para o mercado espanhol, particularmente na Galiza, na área da comercialização e distribuição de combustíveis. Temos algumas parcerias com produtores de biocombustível em Espanha, que poderemos utilizar em ambos os mercados. Estamos a estabelecer acordos que permitam que o Cartão Prio Frota seja também utilizado no país vizinho, nomeadamente por transportadores rodoviários nacionais”, afirma.

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