Não gosta do seu emprego? Mude-o (sem se despedir)

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Por vezes, você sabe que o emprego que tem não é o certo para si. Talvez esteja na área errada, não goste do trabalho, sinta que está rodeado por colegas não fiáveis, ou tenha um chefe incompetente. A maioria das pessoas dir-lhe-á para encontrar algo que se adeque melhor a si. Mas isso pode não ser possível.

Existem muitas razões que podem fazer com que não se possa despedir: uma economia em crise, compromissos familiares ou oportunidades limitadas na sua área. Então, o que poderá fazer quando está preso ao emprego errado?

O que dizem os especialistasDe acordo com Gretchen Spreitzer, professora de gestão e organizações na Ross School of Business da Universidade de Michigan e coautora de "Creating Sustainable Performance," as pessoas ficam altamente insatisfeitas quando o seu emprego não tem significado ou propósito para eles, dá-lhe poucas oportunidades para aprenderem ou os deixa esgotados ao final do dia.

Seja qual for a razão porque não está contente, as únicas opções não são aguentar ou despedir-se. Na realidade, mesmo que consiga encontrar outro emprego, ficar onde está poderá ser a melhor opção. "A procura e mudança de emprego não são questões triviais. It is often costly to career momentum and earnings as much as it is a boon," diz Amy Wrzesniewski, professora de comportamento organizacional na Yale School of Management e coautora de "Turn the Job You Have into the Job You Want".

A boa notícia é que normalmente existe mais margem de manobra para alterar o seu emprego do que pensa. "Muitas vezes há áreas para movimento e mudança que as pessoas tendem a não reconhecer," diz.

Veja como tirar o máximo partido de uma situação de emprego imperfeita.

Olhe para siQuer esteja satisfeito ou não com o seu emprego, isso frequentemente tem a ver com a sua disposição, diz Sigal Barsade, Professora de Gestão da Cátedra Joseph Frank Bernstein da Wharton School. Algumas pessoas têm uma inclinação natural para serem infelizes, enquanto outras têm uma abordagem mais positiva da vida. Antes de afirmar que o seu emprego não é o mais adequado, olhe para si. Barsade diz que vale a pena perguntar: você é daquele tipo de pessoas que tem tendência a estar insatisfeito? Ter noção disto poderá não fazer com que goste mais do seu emprego, mas poderá fazer com que pense duas vezes antes de procurar um novo.

Encontre significadoO estudo de Speitzer conclui que encontrar mais significado no seu trabalho poe aumentar drasticamente a satisfação no trabalho. Barsade concorda; ela recomenda olhar para as responsabilidades do seu emprego através de uma lente diferente. Por exemplo, se o seu cargo envolve tarefas aborrecidas, tente lembrar-se que estas são trampolins para um objetivo a longo prazo e de que não as fará para sempre. Ou, se estiver numa área emocionalmente desgastante, como enfermagem ou assistência social, recorde que embora esteja cansado no final do dia, você está a ajudar outros. Também ajuda relacionar-se com os colegas. Procure oportunidades para mostrar compaixão e expressar gratidão. Passe tempo com colegas de que gosta. "Ligações emocionais mais fortes no trabalho levam a uma miríade de efeitos fisiológicos e sociais positivos," conclui Barsade.

Altere o que fazSe não conseguir mudar a sua perspetiva, poderá ser capaz de mudar as suas responsabilidades profissionais. E não tem necessariamente de mudar de departamento ou conseguir uma promoção para o fazer. Spreitzer e Wrzesniewski sugerem usar um exercício de formulação de um cargo para redesenhar o seu emprego de forma a adequar-se melhor aos seus motivos, pontos fortes e paixões. "Algumas pessoas fazem mudanças radicais; outras mudanças pequenas" na forma como delegam ou programam o seu dia, conta Wrzesniewski. Enquanto as primeiras poderão exigir a aprovação do seu chefe, muitas vezes as últimas não precisam disso. Por exemplo, se a tarefa de que gosta mais é falar com os clientes, mas sente-se enterrado no meio de burocracia, poderá decidir falar sempre com os seus clientes de manhã, para se sentir com energia para o trabalho aborrecido durante o resto do dia. Ou poderá deixar a conversa com os seus clientes para o final do dia como recompensa.

Mude as pessoas com quem interageSe aquilo que não gosta não é o trabalho mas as pessoas com quem trabalha, talvez também possa alterar isso. Wrzesniewski diz que já assistiu a indivíduos mudarem com sucesso as pessoas com quem interagem diariamente para aumentarem a satisfação no emprego. Concentre-se em estabelecer relações que lhe dão energia, em vez de a consumir. Procure pessoas que o possam ajudar a fazer um melhor trabalho. Wrzesniewski dá o exemplo de trabalhadores num hospital que eram responsáveis por limpar os quartos dos pacientes. Eles dependiam de um relatório centralizado para lhes dizer quando é que os quartos estavam abertos e que produtos eram seguros usar com base no ocupante. Mas o relatório nem sempre tinha a informação atualizada. Isto significava que os trabalhadores não podiam realizar as suas tarefas tão bem quanto desejavam, deixando-os insatisfeitos. Quando desenvolveram relações com funcionários em cada ala, começaram a receber informação mais exata e passaram a ser capazes de fazer um trabalho de limpeza mais eficiente. É claro que se a sua relação com o seu chefe ou colegas é particularmente difícil, poderá não ser capaz de trabalhar com eles. "A formulação de um cargo não consegue dar a volta a todas as situações profissionais. Não é uma cura para tudo," afirma Wrzesniewski.

Resista a reclamarQuando está no emprego errado, poderá ser tentador queixar-se disso a outras pessoas. Mas não é aconselhável. "Lamentar-se sobre o seu trabalho é uma receita para problemas. Você não sabe se as queixas poderão ser partilhadas com outros dentro da empresa," explica Spreitzer. Além disso, poderá arrastar consigo outros. Se não está contente, é melhor focar-se no que pode mudar e não reclamar sobre o que não pode.

Mantenha as opções em abertoAs melhorias que fizer na sua situação profissional poderão tornar as coisas mais toleráveis, mas deve estar sempre aberto para a próxima situação. "Poderá melhorar o seu emprego mas também poderá estar à procura de novas oportunidades," diz Speitzer. Certifique-se que o seu currículo (por ex., o seu perfil no LinkedIn) está atualizado e que está constantemente a conhecer pessoas da área em que quer estar.

Princípios a Recordar

Fazer:- Estabelecer ligações com pessoas de que gosta no trabalho;- Avalie o que não gosta no seu trabalho para poder minimizar o tempo que passa a efetuar tarefas indesejadas;- Mantenha as suas opções em aberto - poderá não conseguir mudar de emprego agora, mas as circunstâncias poderão mudar;

Não Fazer:- Assumir que o emprego é o problema - poderá ter tendência a estar insatisfeito- Pensar que está preso - normalmente há mais margem de manobra para alterar o seu emprego do que pensa- Queixar-se sem parar sobre o seu trabalho e arrastar outros consigo

Casos: #1: Integre os seus interesses no trabalhoThomas Heffner é engenheiro no Laboratório de Física Aplicada da Johns Hopkins University, um centro de investigação universitário que trabalha com o Departamento de Defesa norte-americano. Quando Thomas assumiu o cargo há oito anos, começou a fazer trabalho puramente técnico, focando-se em conceção de frequência de rádio e análise de radar. Ele sabia desde muito cedo que este trabalho não era a sua paixão. "Muito do que fazemos é realizado em isolamento. Temos laboratórios de acesso restrito onde eu posso ser a única pessoa a trabalhar," conta. Cerca de cinco anos depois, ele assumiu o cargo de gestor de projetos, pensando que lhe permitiria interagir mais com pessoas. Mas a maioria das suas funções - gestão de inventários, elaboração de contratos, revisão de documentação - envolvia trabalhar sozinho. Thomas pensou em procurar outro emprego, um que fosse mais adequado para ele, mas não podia. Ele e a mulher iam ter o segundo filho e não era uma boa altura para fazer uma mudança, especialmente tendo em conta o difícil mercado de trabalho. Em vez disso, ele começou a ter aulas de psicologia organizacional positiva e descobriu maneiras de integrar este interesse no seu trabalho. Ofereceu-se para fazer apresentações em conhecimento organizacional positivo. Ele falou primeiro para o seu próprio grupo e depois em almoços, que eram abertos a todos no seu centro com 5 mil pessoas. Ele também abordou o gabinete de formação e desenvolvimento da sua empresa em relação a elaborar um curso que usa psicologia positiva para ensinar inovação e criatividade. O pessoal do gabinete incentivou-o a criar e lecionar o curso. Embora estes novos projetos estão fora do seu âmbito de trabalho, ele continua a fazer todas as coisas que o seu cargo de gestor de projetos exige. E ele conseguiu reduzir a sua carga de trabalho administrativo delegando determinadas tarefas aos membros da sua equipa que estavam interessados em fazê-las. "Consegui arranjar espaço para as coisas que queria fazer," diz. E valeu a pena. "Antes de começar a fazer alterações, a minha satisfação no emprego era provavelmente de 3 [numa escala de 1a 10]. Estou a fazer pequenas alterações; nada de extremo, mas a minha satisfação está agora no 7." Ao encontrar outras formas de passar tempo a fazer o que gosta mais - aprender, ensinar outros, passar tempo com pessoas - ele acredita que o seu nível de satisfação pode aumentar até ao 8 ou 9.

#2: Comece a trabalhar no que querHá nove anos, quando Shammy Khan aceitou um emprego numa empresa localizada no Texas, ele sabia que este não era o emprego perfeito para si. O cargo era de gestor de conta e exigia que Shammy lidasse com o trabalho diário e rotineiro relacionado com um dos clientes da empresa. Shammy sentiu que os seus pontos fortes não tinham a ver com aquilo. "Eu estava mais interessado em criar empresas e conseguir negócios em vez de lidar com os clientes existentes," conta. Contudo, ele empregava menos de 5% do seu tempo a fazer isso. Após um ano no emprego, ele fez um exercício de formulação de cargo, que o ajudou a perceber que ficaria mais satisfeito focando-se mais em arranjar novos clientes, que via outros fazerem a tempo inteiro. Foi ter com o seu chefe e explicou-lhe porque é que era a pessoa certa para cultivar um cliente potencial num mercado - serviços de integração eletromecânica em grande escala - em que a empresa nunca tinha trabalhado. O seu chefe ficou convencido. O título e cargo de Shammy não se alteraram mas ele reorientou a sua atenção para desenvolver e adquirir as capacidades necessárias para conseguir a conta. O cliente é agora um dos seis principais da sua empresa. Com base nesse sucesso, Shammy foi promovido a vice-presidente e está agora focado exclusivamente em novos projetos, mercados estratégicos e desenvolvimento do negócio.

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