É assim todos os anos. Doze badaladas, doze passas para o bandulho. Cada uma com um desejo, cada uma com 70% de açúcar (que é para dar aquele boost de energia para os realizar)..Pela pequena sondagem realizada entre amigos, desejos de réveillon começam egoístas e terminam altruístas. Primeiro, vêm as necessidades básicas individuais: saúde, amor, um aumento de salário. Depois, objetivos pessoais como começar a correr, conquistar aquela conta, mudar de carro, ser promovido ou ver o chefe demitido. Por fim, para não abusar da boa vontade do Senhor (ou da pobre coitada da Entidade incumbida de computar tantos desejos ao mesmo tempo), desejamos paz mundial, o fim da fome em África, o perdão da dívida externa portuguesa e o regresso do Pinto da Costa dos anos 2000 (sou do Porto, fazer o quê)..Certo é que dia 1 acordamos felizes e confiantes. Se desejamos começar a correr, sentimos aquele impulso otimista, mas aí lembramo-nos de que estamos um pouco ressacados e é melhor deixar para amanhã. Se desejamos conquistar uma nova conta ou projeto, acordamos a sorrir, imaginando a sensação. Até pensamos em começar a dar uma lida numas coisas, mas é feriado... melhor deixar para amanhã. E assim, sem nos darmos conta, o amanhã vira “pra semana” e o “pra semana”, “pra depois do Carnaval”..Quer um bom exemplo? Estamos quase a chegar ao fim de fevereiro e quantos dos seus desejos da meia-noite foram, pelo menos, meio realizados?.É... o problema não são os planos. O problema é não agir sobre eles para nos dedicarmos a tarefas tão importantes como ver os últimos selfies de amigos no Facebook. Sabe o nome para isso? Procrastinação. Um palavrão que leva a frustração, “cabisbaixismo” e à desmotivação para fazer o que quer que seja..Como esse mal carece de cura, sugiro um tratamento experimental: escolher apenas um desejo. Pensem lá: dos doze, qual vos deixaria mais feliz? Mentalizaram? Agora, foquem todas as vossas energias nele..Temos a sorte de viver numa das épocas mais fascinantes da humanidade. Uma época em que, se queremos fazer algo, temos um rápido e fácil acesso ao conhecimento e tecnologia para o realizar. Porquê sermos tão limitados se podemos absorver tanto mundo? Expandir nosso cérebro através de viagens, trabalhos, novas experiências..Leiamos um livro, iniciemos um hobby, façamos novos amigos, viajemos um pouco, paremos de assistir TV, deixemos a preguiça. Sério, abra a cabeça, ouça mais, fale menos. Aprenda coisas novas, aprecie a família e compartilhe vida!.Quer liderar melhor a sua equipa? Procure vídeos sobre motivação e relacionamento interpessoal..Quer realizar um projeto criativo? Realize!.Mudemos a tradição. Em vez de comermos as passas no réveillon, guardemo-las. E só após cada desejo realizado, mandemos uma para o bucho. Com champanhe (ou com espumante, que a vida está cara e não somos tão connoisseurs assim)..Hugo Veiga, Executive Creative Director da AKQA São Paulo