Não sou licenciada. É talvez o grande desgosto de vida da minha mãe e também dos meus avós mas a verdade é esta: faltam-me três cadeira para completar a licenciatura de Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão. Quando a licenciatura passou de quatro para três anos corri para a secretaria na esperança que me dissessem que - assim como por magia - já era licenciada. Nada disso, as três cadeiras continuam obrigatórias e fiquei com créditos suficientes para concluir rapidamente o mestrado. Caramba, mas eu não consigo acabar a licenciatura, como é que chego a mestre?!.Não sou licenciada e tenho a certeza que era um sonho na vida da minha mãe, que quase chora quando me vê responder "12º ano" quando me pedem as "habilitações literárias"..Eu, não fosse o desgosto que dou à minha mãe, não me incomoda nada não ter acabado a licenciatura. Comecei a trabalhar, foi ficando para trás e hoje falta-me concentração e memória para as econometrias que ficaram pelo caminho. Já fiquei tentada a mentir sobre a minha escolaridade: quando pedi um crédito à habitação e soube que a licenciatura me poupava umas décimas no spread, e num seguro automóvel em que também soube que podia poupar uns euros na anuidade por possuir um diploma..O problema - para além do desgosto que dou à minha mãe, do spread que ficou mais elevado e do seguro em que podia ter poupado - é sentir que neste país ainda valorizamos demasiado o grau académico em deferimento dos valores, da cultura geral e dos conhecimentos específicos que a vida nos vai dando. Não desvalorizo o estudo - muito pelo contrário - mas valorizo muito tudo o resto, acredito nas artes e nas profissões, acredito no saber da experiência e no carácter dos homens..Acredito que neste país não devíamos valorizar uma licenciatura ao ponto de levar alguém a mentir sobre as suas habilitações literárias. Cada profissão tem as suas exigências. E para ser político é preciso carácter e visão, não uma licenciatura..Eu continuarei a dizer a verdade e a tentar transmitir aos meus filhos que o mais importante é que trabalhem e lutem pela sua independência, que tenham brio no que fazem, com licenciatura, sem ela, ou um pós doutoramento. Eu votaria num homem ou numa mulher sem estudos mas não votaria num mentiroso.