Não tenho a culpa não votei nesta AD!

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Estimado Luís Montenegro, encontra-se bem?

Como poderá reler nos artigos passados que aqui escrevi, eu disse que seria muito importante não deixar morrer o CDS. Fazer uma coligação. Essa ideia era uma ideia de futuro: ajudar a manter e a consolidar uma força política na área do centro direita que ajudasse o PSD a esvaziar o Chega e a Iniciativa Liberal; e que aproveitasse também da melhor forma as contingências inerentes ao Método D’Hont.

Todavia o meu amigo (desculpe tratá-lo desta forma mas tenho bastante solidariedade pelos inúmeros azares que lhe têm ocorrido!); dizia então, o meu amigo interpretou tudo mal.

Em vez de virar este desígnio para o futuro, fez uma espécie de escavação arqueológica ao passado e foi desencantar um Gonçalo monárquico-fadista e um beto vociferante do Porto achando que isso era a foto vencedora do passado; mas olhe que não resulta, era como se ainda acreditasse que descongelando um mamute este vivia e caminhava.

O pior é que o Luís até tem imensas medidas trabalhadas e preparadas para anunciar e o CDS tem imensa gente de grande reputação para dar a cara… E se queria alguém para cantar umas canções antigas, chamava o Paulo de Carvalho e ele desenterrava o «nós somos um Rio»… (bem, a do Rio para si percebo que possa ser complicado, desculpe, tem razão!).

Mas sabe, Sá Carneiro era um beto e era do Porto; mas era um homem de vistas largas, ousado, foi um dos mais corajosos e mais bem preparados políticos que o centro-direita já teve em Portugal.

E Gonçalo Ribeiro Teles era monárquico; mas não cantava, ele encantava, era um senhor de uma imensa cultura, um homem que estabelecia pontes com todos os que o rodeavam, ouvia, e era um pedagogo. Uma referência em todos os planos.

Ou seja, tudo ao contrário da actual situação em que se meteu…

E todo o movimento formado pela Aliança Democrática de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles teve o mérito ainda conseguir angariar homens como José Medeiros Ferreira, António Barreto e Francisco Sousa Tavares, que tinham saído do Partido Socialista e formado o Movimento dos Reformadores.

E quanto ao apagamento de Freitas do Amaral da história, até percebo, ele foi ministro de um Governo do Partido Socialista; mas sabe?, também já tinha antes da Aliança Democrática suportado o segundo Governo Constitucional, que consistia mesmo numa coligação entre o Partido Socialista e o Centro Democrático Social.

(Nos dias de hoje, quase que iria que, Freitas deve ter sido dos poucos políticos que no pós 25 de Abril esteve quase sempre no mesmo lugar, o espectro político é que foi oscilando entre a direita e a esquerda. Todavia, apesar de eu também já ter herdado um loden, a minha memória desses anos faz sobretudo reverência a Salgado Zenha e a algumas das suas histórias que me contavam os meus pais.)

Voltando à política actual, uma coligação tem que trazer algo de novo e não algo de passado, sobretudo, quando esse passado já nem é lembrado por quase ninguém…

Ou seja, o meu amigo Luís Montenegro foi atrás de um nome e caiu numa ratoeira muito perigosa que ainda vamos ver no que vai dar… Perdeu toda a capacidade de tracção de novas pessoas, encheu a sala de gente antiga que pouco ou nada de novo têm a contar.

Quando for assim, mande-me um email e trocamos umas ideias sobre o assunto; é que o Luís deve estar mesmo rodeado de pessoas e conselheiros que lhe querem mal…

Sabe, o Luís Montenegro está a cometer o mesmo erro que Mário Soares cometeu com a Frente Republicana e Socialista (FRS) ao tentar criar ideia de dois blocos que lutam entre si.

A FRS foi uma coligação formada pelo Partido Socialista PS, União de Esquerda Socialista Democrática UEDS e Acção Social Democrata Independente ASDI. Nasceu a 1 de Agosto de 1980 e tinha três lideres: Soares pelo PS, António Lopes Cardoso pela UEDS e António de Sousa Franco pela ASDI (partido que formara depois de deixar com estrondo a presidência do PSD e, consequentemente, também o próprio partido).

A FRS pretendia equiparar-se à Aliança Democrática, mas era uma coisa sem expressão, sem consistência como movimento social, sem tracção, feita a pensar mais na forma do que no conteúdo, e não sei se se recorda?: levou uma tareia monumental.

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