Never Surrender

Amigo meu, nunca se renda. Nunca se entregue. Nunca.
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Não digo isto como exercício de autoajuda. Não acredito que se você ficar a olhar para a montanha a desejar que ela se mova a coisa vai funcionar. Quem tem que se mexer é você.

Nunca se renda, amigo meu. Mas, às vezes, pare de insistir. O dicionário tem muitos verbos por algum motivo. Nunca se render não quer dizer teimar a vida inteira em coisas que o tempo e o bom senso já explicaram não valer a pena.

Já quis muitas coisas na vida. Umas alcancei, outras não. Conquistei castelos que nunca almejei. Tive quimeras que nunca passaram disto: sonhos. Ganhei. Perdi. Empatei. Nunca acredito demasiado nas vitórias, nem sobrevalorizo os infortúnios. Só quem presta atenção na sua vida é você mesmo. O resto da humanidade está a olhar para o lado. O nosso umbigo não é o centro mundo. Estou contente com o que tenho. Não é pouco nem é muito. É o bastante.

O que basta é o que é suficiente. Mas, na nossa tortuosa língua, bastante também quer dizer demasiado. Um funeral com bastante gente quer dizer que o morto era muito querido. Uma vida com bastante emoção quer dizer que o vivo pode estar neste momento a subir o Everest ao pé-coxinho.

https://www.youtube.com/watch?v=q7o7R5BgWDY

Espero que este meu conselho para o seu novo ano baste: nunca se renda. Nunca acredite que chegou ao fim da linha. Que já não há nada a fazer. Sempre há. Para o bem ou para o mal, acredite, quando o seu fim chegar, você será o último a saber.

Não gostou de 2015? Está aí mais um motivo para não se render. 2016 não tem nada a ver com isto. 2016 não tem culpa de entrar na sua vida num momento complicado. Se for o caso, deite fora 2015 pela janela. Sabia que existe um verbo só para o ato de se atirar coisas pela ventana? “Defenestrar”. Defenestre 2015 antes que ele defenestre as suas esperanças.

Estou a falar da vida mas não se render é também um bom conselho para quem trabalha em publicidade e na comunicação em geral. Estas são duas indústrias que sofrem terramotos diários. Onde o desemprego viceja. Onde o futuro não é claro, onde a luz teima em não brilhar ao fim do túnel.

Nestes casos, não vou querer enganar. Não se render pode querer dizer partir para outra enquanto é tempo, enquanto há energia, enquanto há vontade. Pode significar explorar outras áreas, outras habilidades, outros sonhos. Compreenda, não estou a fazer a apologia do conformismo. Muito ao contrário. Se está com raiva, vá com raiva mesmo. Se está com medo, vá com medo mesmo. Mas vá. Ficar, esperar, desesperar não são opções.

https://www.youtube.com/watch?v=eVCYDMwdjq0

Sobre isto, o meu Tio Olavo manda um texto de Vinícius de Moraes: “Eu creio, malgrado tudo, na vida generosa que está por aí; creio no amor e na amizade; no uísque legítimo e na eficácia da aspirina contra resfriados comuns. Sou um crente (e porque não ser? A fé desentope as artérias; a descrença é que dá cancro)”.

Por isso, amigo meu: tenha fé em 2016. E lembre-se: nunca se renda.

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