Ninguém valoriza os jogadores como o “midas” Thomas Frank

Trabalho do treinador dinamarquês no Brentford é um case study. Há quatro anos a sobreviver entre tubarões na Premier League, o modesto clube londrino é um milagre sobre relva.
Thomas Frank, o treinador dinamarquês do Brentford. Foto: AFP
Thomas Frank, o treinador dinamarquês do Brentford. Foto: AFP
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No dia 29 de maio de 2021, estava a rainha Elizabeth II nos últimos suspiros do seu interminável reinado, o Brentford venceu o Swansea, em Wembley, e conquistou o acesso à Premier League. Se levarmos em consideração que o pequenino clube do oeste de Londres não jogava na elite desde 1946/47, ainda a monarca era apenas Lilibet, a filha mais velha do rei George VI, concluímos que o seu treinador conseguiu um feito e tanto.

Esse treinador, chamado Thomas Frank, nasceu noutro reino famoso, o da Dinamarca, nunca jogou futebol profissional e passou 18 anos a treinar jovens até ter a primeira oportunidade entre seniores no Brondby, no seu país natal, e a segunda no citado Brentford, então esquecido no meio da tabela do Championship, a segunda divisão do futebol inglês. Em poucos anos, porém, Frank promoveu-o à Premier League e, agora, mantém-no entre os tubarões Manchester City, Liverpool, Arsenal e companhia com resultados impressionantes dentro e fora do campo.

Primeiro, os de dentro: ficou em 13º em 2022, nono em 2023 e 16º - uma performance não tão impressionante, é certo - em 2024. Na temporada que termina em 2025, está em 13º mas só perdeu para os citados City e Liverpool, além de Manchester United e Tottenham, todos clubes com orçamentos muito superiores ao seu.

Agora, os de fora: segundo estudo do Transfermarkt, site especializado em avaliação de mercado no futebol, ninguém valorizou tanto o seu plantel como Frank a partir da sua contratação; hoje o plantel do Brentford vale mais 45% do que quando o dinamarquês chegou ou, em números absolutos, mais 192 milhões de euros; nesses números absolutos, é verdade, Arsenal, Manchester City, Liverpool e Brighton valorizaram mais - todos acima dos 200 milhões - mas em percentagem ninguém supera o clube londrino - só o vizinho Crystal Palace, com 41%, se aproxima. 

Individualmente, o valor de Bryan Mbeumo subiu 36,5 milhões de euros, o de Mathias Jensen, 25,5 milhões, o de Vitaly Janelt, 21,4, o de Rico Henry, 18.7 e o de Yoane Wissa, 18 milhões, todos atletas chegados de clubes mais modestos do futebol francês, inglês, alemão ou, no caso de Henry, do pequenino Walsall, clube do quarto e último escalão da liga inglesa.

Mas foi Ivan Toney quem mais valorizou: descoberto no modesto Peterborough United, custou seis milhões de euros, foi o goleador da equipa por três anos seguidos, chegou à seleção e acabou vendido no fim do mercado de verão por 42 milhões ao Al-Ahli, a segunda contratação mais cara da época na Arábia Saudita.

O Brentford, entretanto, investe pesado, como todos os clubes da Premier League. Mas outra tabela explica-nos como Frank, das duas uma, ou tem o toque de Midas ou é mesmo um gestor singular capaz de tirar o máximo proveito dos recursos à disposição: se dividirmos o dinheiro gasto no defeso pelos pontos conquistados na competição, o Brentford de Frank esteve sempre entre os sete com melhor performance, ou seja, entre aqueles clubes onde o ponto sai mais barato.

Conhecido como bee, abelha em inglês, o Brentford, sob Frank, demonstra a disciplina, a lealdade e a cooperação da sua mascote. Mas o ousado dinamarquês preferiu chamar no The Guardian os seus jogadores de bumblebees, em referência a uma personagem dos Transformers, robôs capazes de se transformar em máquinas potentes e armas letais. 

NÚMEROS

74

Tempo, de 1947 a 2021, em que o Brentford esteve ausente da elite do futebol inglês: até à chegada de Frank...

 192 000 000

Valorização, em euros, do plantel do Brentford desde a contratação de Frank. Percentualmente nenhum clube inglês cresceu tanto no período

 42 000 000

Dinheiro, em euros, arrecadado pelo Brentford com a venda no verão de Toney, que havia comprado por seis milhões

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