Além do impacto da pandemia nas vendas (com muitos países a fecharem o comércio não essencial durante os confinamentos), os construtores automóveis enfrentaram, em 2021, uma dificuldade adicional e inesperada: a falta de chips semicondutores. Num setor em que a vertente tecnológica pesa cada vez mais, a falta daqueles componentes minúsculos levou à paragem de linhas de produção pelo mundo, causando o aumento das listas de espera de muitos modelos. Algumas marcas, em atos de escolha difícil, foram obrigadas a orientar os poucos chips disponíveis para modelos de maior saída em detrimento de outros.
Independentemente desses constrangimentos, o ritmo de novos lançamentos não abranda, havendo confiança de que a crise de componentes eletrónicos se esbaterá ao longo de 2022. Entre as incógnitas, há uma certeza: os construtores vão manter a aposta nos modelos de estilo SUV e na eletrificação. Os primeiros ganharam popularidade irrebatível e passaram a ser determinantes para a rentabilidade dos construtores. Por outro lado, as motorizações convencionais de combustão interna continuarão a perder espaço, sendo substituídas por uma corrente de eletrificação. O que não quer dizer que os outros estilos e motorizações desapareçam dos concessionários, mas tenderão a ser cada vez menos favorecidos por construtores e condutores.
Lógica do sucesso
Interiorizado o filão de ouro que são os SUV (ou crossovers), as novidades para 2022 serão amplamente baseadas neste formato, com marcas como a Renault a fazer forte aposta neste sentido. Assim, além do novo Austral para suceder ao Kadjar, o bem-sucedido Mégane transformar-se-á num crossover mais robusto disponível apenas em versão elétrica sob a denominação E-Tech. Com duas versões (de 131 CV e 218 CV e baterias de 40 kWh e 60 kWh), este modelo tem por base a nova plataforma CMF-EV do Grupo Renault desenvolvida para modelos 100% elétricos. Essa será também a base do Nissan Ariya, um outro SUV de aspeto mais vanguardista com diversos níveis de potência (de 215 CV a 390 CV) e autonomias variáveis, podendo percorrer até 500 quilómetros na versão mais eficiente.
Na Audi, surgirão modelos como o Q6 e-tron, que irá partilhar a plataforma PPE com o futuro Porsche Macan que será igualmente 100% elétrico (ainda que este tenha recebido recentemente uma atualização no último fôlego dos motores de combustão). Na BMW espera-se a chegada do novo X1 com correspondente versão elétrica iX1. A oferta dos SUV elétricos na marca bávara dá um passo decisivo com o novo iX, que é o primeiro SUV elétrico de nova geração da BMW com uma potência de até 523 CV. Adicionalmente, também haverá versão desportiva iX M60 (com o cunho da divisão desportiva M), com 619 CV. Mais extremo ainda, o XM - antecipado em concept - aponta para um visual disruptivo e potência até 750 CV.
Igualmente no setor premium, a Mercedes-Benz terá um reforço da sua gama SUV, prevendo-se a chegada de modelos elétricos, como os EQB, EQE e EQS, com estes dois últimos a terem como particularidade o facto de estarem disponíveis em versões berlina mais tradicional e SUV. Fundamental será também a nova geração do GLC, que terá igualmente maior foco na eletrificação, ainda que sem uma nova variante 100% elétrica para já (manter-se-á o EQC com base na geração anterior). Do lado da smart, que é agora detida em joint venture entre a marca alemã e a chinesa Geely, será também o arranque de uma nova era com o lançamento de inédito SUV compacto com que irá atacar o mercado global. O desenho será da autoria da Mercedes, mas a produção ficará a cargo da Geely. A Citroën terá já em janeiro o novo C5 X, um misto de estilos com que regressa ao segmento superior com destaque para a sua motorização híbrida Plug-in. Já a Volvo reserva para 2022 o lançamento do C40 Recharge, um SUV de aspeto coupé para o segmento premium.
A Kia irá lançar o novo EV9 elétrico para acompanhar o EV6 já disponível, mas também terá como novidades os mais irreverentes Niro e Sportage. Na mesma senda, a Honda terá um novo HR-V (apenas em versão híbrida de 131 CV), enquanto na Toyota outro nome sonante será declinado em SUV, com o Corolla a ganhar variante Cross mais robusta, mantendo-se no mercado as outras carroçarias (berlina, carrinha e cinco portas). Demonstrando que o estilo crossover não conhece fronteiras, haverá até uma proposta para o segmento dos citadinos, o Aygo X, que navega na mesma onda. Estrela de cartaz na Toyota deverá ser, no entanto, o novo bZ4X, um SUV da submarca beyond Zero com que irá iniciar a sua ofensiva elétrica global.
Continuando nos japoneses, a Suzuki irá propor um novo S-Cross, muito mais ao gosto dos europeus e com maior aposta na eletrificação, enquanto na Mazda surgirá um novo SUV híbrido Plug-in, o totalmente novo CX-60, a que se juntará uma curiosa versão do MX-30 elétrico com extensor de autonomia, no regresso dos motores rotativos Wankel, ainda que apenas como gerador de energia.
Aquele que foi o pioneiro dos SUV híbridos plug-in, o Mitsubishi Outlander PHEV, também irá receber uma nova geração em 2022, mais evoluída tecnologicamente. A Volkswagen manterá a sua aposta nos SUV com o renovado T-ROC (produzido em Palmela) e o novo ID.5 puramente elétrico.
Na Alfa Romeo vai assistir-se à chegada do Tonale, que seguirá de perto o estilo e as competências de condução do Stelvio, ao passo que os compatriotas da Maserati terão o novo Grecale em destaque também para o universo crossover.
Até mesmo a Ferrari, que durante anos recusou aderir à moda SUV, foi obrigada a render-se às evidências, anunciando para 2022 o primeiro modelo desportivo deste género, o Purosangue, que irá concorrer com o Lamborghini Urus num nicho muito peculiar.
Espaço para os outros
Ainda assim, a variedade do mercado automóvel permitirá que se mantenham propostas mais convencionais, entre os racionais e os aspiracionais. O segmento premium será animado por propostas como os Audi A6 e-tron (elétrico) e A8 (renovação), BMW Série 2 Coupé, BMW i4, BMW Série 7 (também com versão elétrica i7) e o já referido Mercedes-Benz GLC, esperando-se no final do ano as atualizações dos Classe A e Classe B. Entre os outsiders do segmento, destaque para os DS 4 e DS 9, que procuram elevar a fasquia na marca de requinte do Grupo Stellantis.
Num patamar mais acessível, o novo Mazda2 Hybrid chegará na primavera de 2022, sendo um gémeo do Toyota Yaris (a tecnologia híbrida é a mesma) mas com outros logótipos, havendo também a notar a chegada do renovado Ford Fiesta (com potências entre 100 CV e 200 CV). Da marca americana haverá ainda outras novidades, como o atualizado Focus (novos equipamentos, novo design e gama entre os 100 CV e os 280 CV) e a nova pick-up Ranger, desenvolvida à imagem da rainha dos Estados Unidos, a F-150.
No ainda relevante segmento dos compactos familiares, haverá ainda destaques como o Opel Astra de nova geração, com base na mesma plataforma que o novíssimo Peugeot 308, partilhando dessa forma tecnologias e motores (dos 100 CV aos 225 CV). Também a Honda irá lançar um novo Civic, que na 11.ª geração adota estilo mais conservador e apenas estará disponível na Europa em carroçaria cinco portas com motorização híbrida. A exceção será o mais desportivo Civic Type R, que manterá o bom velho motor de combustão de 2.0 litros e mais de 320 CV.
Se o sonho não ocupa lugar, o mercado automóvel é pródigo em ofertas, entre os descapotáveis e os desportivos. A Audi irá lançar o RS 3 com motor 2.5 TFSI de 400 CV, ao passo que a Mercedes-Benz lançará finalmente o novo SL com motor V8 em dois níveis de potência: 476 CV e 585 CV. Na BMW, estreia-se um inédito M3 Touring em formato carrinha, ao passo que na Ferrari e na Porsche haverá outras novidades para sonhar: o 296 GTB e o 911 GT3 RS, respetivamente. Mas 2022 será também o princípio do fim de uma era a combustão para alguns modelos e marcas. Com uma vida já definida de apenas dois anos antes de as novas normas de segurança o afastarem da Europa, o novo Toyota GR86 recorre a um motor de 2.4 litros de 234 CV para o canto do cisne, o mesmo que será emitido pelo Lotus Emira, o último desportivo da marca britânica com motor de combustão.